5G, edge computing e IoT desafiam o profissional brasileiro de TI
Este ano, os profissionais brasileiros de TI e infraestrutura estarão, mais do que nunca, num intenso processo de transformação. Com seu passe cada vez mais valorizado, essa categoria tem tido de antecipar várias ondas de inovações, entregando novos “skills” e conhecimentos técnicos às organizações onde atua.
Luis Arís, gerente de desenvolvimento de negócios da Paessler LATAM
Em 2022, os profissionais brasileiros de TI e infraestrutura estarão, mais do que nunca, num intenso processo de transformação. Com seu passe cada vez mais valorizado – pesquisa da Softex de julho de 2021 mostra que o Brasil terá um déficit de 408 mil profissionais – , essa categoria tem tido de antecipar várias ondas de inovações, entregando novos “skills” e conhecimentos técnicos às organizações onde atua. O grande desafio imposto por esse avanço ao profissional de TI é a contínua busca de integração entre pessoas, ambientes e tecnologias que ou são disruptivas ou, antes, operavam de forma isolada.
A chegada da rede 5G – a nuvem das nuvens – torna esse quadro ainda mais complexo. Uma de suas bases é o edge computing, com um papel cada vez mais estratégico no suporte a aplicações IoT em todas as verticais da economia. Atuando sempre em conjunto com os grandes data centers de cloud computing, o data center implementado no edge computing torna local o processamento e o armazenamento de dados, extraindo o máximo valor de dados coletados por sensores IoT/IIoT dedicados a ambientes tão diversos como indústrias/OT, smart cities e edifícios inteligentes. A meta é diminuir a latência de modo a reduzir em milissegundos a velocidade de resposta de aplicações críticas para as empresas e para a economia brasileira como um todo.
Complexidade das nuvens e dos data centers aumenta
Fica claro, portanto, uma das frentes de batalha dos gestores de TI em 2022: conquistar visibilidade e controle sobre nuvens baseadas em data centers que vão de soluções modulares até os grandes data centers centrais. O desafio só aumenta: trata-se de equacionar simultaneamente a nuvem privada, pública e híbrida, centralizada (cloud) ou nas bordas (edge), e o perfil de data center mais adequado para cada um desses formatos.
Nesse contexto, a falta de profissionais também se faz sentir: pesquisa divulgada em janeiro de 2021 pelo Uptime Institute revela que, em todo o mundo e até 2025, o segmento demandará 300 mil novos profissionais. 50% dos 1100 líderes de TI e de data center entrevistados para esse estudo disseram enfrentar dificuldade para contratar candidatos qualificados, 38% a mais do que o identificado em 2020.
Uma análise mais detalhada de um único setor da economia – a indústria – ressalta ainda mais o perfil do profissional brasileiro que as organizações estão buscando em 2022.
Estudo da Delloite, divulgado em novembro de 2020, mostra que a falta de integração entre os ambientes e os times de TI e OT é um grande desafio. Isso é comprovado pela vulnerabilidade das organizações OT a ataques cibernéticos – segundo esse relatório, 90% das indústrias norte-americanas sofreram invasões que exploravam as brechas criadas pela falta de visibilidade sobre todos os ambientes digitais da empresa.
Integração entre OT e TI
O mesmo documento da Delloite monta um mapa da evolução do setor de OT desde 1990. Entre essa data e o início dos anos 2010, o mercado global e brasileiro eram maciçamente ocupados por indústrias que contavam com chãos de fábrica isolados, baseados em tecnologias proprietárias que estavam em operação há anos. Especialmente nos últimos 10 anos, porém, a bandeira da Indústria 4.0 passou a exigir que as empresas se modificassem para integrar o chão de fábrica à área de TI.
Essa jornada é complexa. O chão de fábrica continua dependendo de protocolos e tecnologias muito especializados – é o caso de dispositivos IIoT – Industrial Internet of Things com protocolos como Scada, Modbus TCP ou OPC UA. No modelo IIoT, dados são gerados por sensores, dispositivos e maquinaria conectada. Esses dados ajudam o gestor a identificar tendências, antecipando insights sobre o que se passa no chão de fábrica e facilitando a tomada preditiva de decisões.
Para se chegar a resultados como estes, é necessário contar com um novo perfil de profissionais – pessoas que, além de conhecer em profundidade os meandros da OT e da TI, consigam compartilhar visões e ações. Muitas instituições educacionais de ensino médio, técnico e superior oferecem cursos de manufatura avançada e de convergência entre os mundos OT e TI. Esse é um movimento essencial para garantir que a aproximação entre o chão de fábrica e a TI tradicional aconteça a partir das melhores práticas de mercado.
Falta de componentes e problemas de logística
E, por fim, outro fator pressiona o profissional de TI brasileiro em 2022: a falta de componentes e appliances físicos para todo tipo de infraestrutura de TI. Estudo divulgado pela ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, em junho de 2021, mostra que 73% de seus associados estavam enfrentando dificuldades na aquisição de componentes. Além da indisponibilidade de dispositivos digitais, a crise mundial de logística criada pela Covid-19 segue atrasando entregas e deixa ainda mais precários todos os tipos de infraestrutura de TI e de redes. Qualquer manutenção ou troca de componentes, por exemplo, pode deflagar uma crise na organização.
Como, então, lidar com esses desafios?
Uma estratégia possível é utilizar plataformas de monitoramento “white label” baseadas em sensores que coletam medidas sobre o status de cada um dos elementos que constituem a rede, de roteadores a controladores lógicos programáveis e UPS, de aplicações a processos de gestão. O grande diferencial dessa tecnologia é recolher bilhões de dados gerados por milhares ou milhões de componentes físicos e lógicos e, a partir daí, em tempo real, construir uma análise preditiva e com alarmes sobre o comportamento do ambiente digital.
Trata-se de uma geração de software que se reinventa sem cessar, abraçando e analisando os mais diversos protocolos e gerando dashboards que vão da visão macro a mais granular. Sua missão é ampliar o controle do profissional de TI sobre redes 5G, data centers de edge e cloud computing, IoT, IIoT e OT e, desse modo, suportar a continuidade dos negócios digitais.
Maturidade digital
Nos dois últimos anos, o dinamismo da economia digital brasileira foi tal que, primeiramente, aconteceu a expansão da superfície computacional e, só num segundo momento, e em alguns casos, a maturidade veio.
2022, no entanto, será um divisor de águas. A heterogeneidade da TI explodirá e exigirá que os profissionais estejam vários passos à frente do próximo desafio digital. A boa notícia é que a busca pelo domínio sobre tecnologias díspares e em constante transformação já é uma realidade para o novo profissional de TI. São pessoas abertas para o outro, com o desejo de aprender diferentes linguagens e criar pontes entre inovações disruptivas e ambientes que, antes, existiam em silos. Quem trilhar esse duplo caminho de integração – entre pessoas e entre tecnologias – avançará em sua carreira e suportará o crescimento do Brasil em 2022.