5G: Novas oportunidades para os provedores de Internet
Não são só as grandes operadoras que estão ansiosas para a chegada do 5G no Brasil. Os ISPs – provedores de serviços de Internet também aguardam com expectativa a realização do leilão, previsto para o primeiro semestre de 2021, e se preparam para o salto de qualidade dos serviços que a tecnologia irá proporcionar.
Redação, Infra News Telecom
De acordo com um estudo realizado pela IDC, especialista em pesquisa e consultoria da área de TI, para o Movimento Brasil Digital, o uso do 5G no país deve gerar cerca de US$ 22,5 bilhões em negócios entre empresas (B2B) até 2024. O estudo mostra que novas tecnologias, como IoT – Internet das coisas, serviços de cloud pública, big data e segurança, ganharão ainda mais destaque, especialmente a partir de 2022. Entre 2020 e 2024, está prevista uma CAGR – taxa de crescimento anual composta de 179%.
O documento ainda indica que o novo sistema de conectividade impactará no rearranjo do ecossistema de tecnologia. Se antes a função central era exercida pela operadora, porque ela era a provedora de todos os elos da cadeia, agora o papel de conexão será feito por quem implanta a tecnologia, tendo o use case no centro das atenções, em seus mais variados setores, como utilities, manufatura, educação e agronegócio. “Para que as implementações prosperem é importante que não apenas as grandes operadoras, mas todos os demais elos de uma cadeia estejam dispostos a estabelecer esse grupo de aliança”, diz Luciano Sabóia, gerente de telecomunicações da IDC Brasil, responsável pelo estudo.
As possibilidades abertas com o 5G, de fato, são inúmeras e deverão estimular todo o setor. Os ISPs também estão nesta corrida. A rapidez e qualidade de transmissão de dados favorecerão a expansão do acesso para áreas remotas ou pouco atendidas, a aceleração de setores que precisam de conectividade contínua e o desenvolvimento de novos serviços, em especial por dispositivos móveis.
De olho nesse futuro próximo, algumas empresas já se adiantam. A Americanet, em parceria com a Nokia, iniciou testes com a tecnologia 5G, em Pindamonhangaba, SP, utilizando as faixas de 3,5 e 26 GHz. Os planos da empresa são de levar o que há de mais moderno a municípios com menos de 100 mil habitantes, inclusive com a participação de ISPs locais, e oferecer serviços a mais de 500 cidades paulistas e de outras regiões.
Acredita-se que as grandes operadoras deverão se concentrar nas capitais e regiões metropolitanas, enquanto as PPPs – Prestadoras de Pequeno Porte irão incrementar seus serviços nas demais regiões. Para isso, no entanto, terão de participar do leilão de concessão, o que ainda não foi definido.
De acordo com o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Vitor Menezes, o ambiente regulatório, destinação de faixa, políticas públicas e compromisso de cobertura para a operação já estão prontos e o edital está em preparação.
Pela proposta em estudo, há um bloco de 80 MHz orientado para as PPPs, na faixa de 3,5 MHz, disponível em sete regiões de prestações. Os provedores ficariam dispensados de contribuir para mitigação de interferências na TV aberta recebidas por antena parabólica (TVROs) e do ressarcimento às operadoras de satélite que deverão desocupar a banda C estendida, de faixas de 3.625 a 3.700 MHz.
Oportunidades e desafios
Dario Prado, diretor de novos negócios e parcerias da DConsult Telecomunicações, acredita que o 5G complementará a área de cobertura por parte das operadoras e provedores e permitirá um volume maior de conexões. “A tecnologia trará oportunidades para os ISPs em diferentes setores, como agronegócio, indústrias e na zona rural”.
Em um país de tantos contrastes populacionais e mercadológicos, atender a todos pode não depender do 5G, mas sim das PPPs. “O que de fato vai democratizar a Internet é a convivência entre as diversas tecnologias – como fibra óptica e até mesmo o 4G -, que deverá aumentar a competitividade entre elas, com maior disponibilidade de acessos e menor custo”, avalia Lairto dos Santos, diretor de negócios da MHNet Telecom.
Fundada há 18 anos, a empresa conta com uma rede de fibra óptica com mais de 25 mil quilômetros de extensão e está presente nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, atuando em 82 cidades no varejo e mais de 300 municípios no atacado, conectando mais de 100 ISPs.
Na opinião do presidente-executivo da Telcomp – Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas, João Moura, o 5G permitirá que os ISPs ofertem não apenas serviços aos consumidores, como conectividade para os sites das grandes operadoras, opinião dividida com Santos que estima que, com o 5G, a demanda por acessos por fibra óptica para conexão das antenas seja de cinco a dez vezes superior à atual.
Além disso, os provedores poderão fornecer infraestrutura para os POPs – pontos de presença, antenas, torres para instalação das antenas e Internet para conexão, uma vez que a atuação com 5G deverá estimular outros investimentos, como em redes fixas e data centers.
Aproveitar todas as potencialidades da tecnologia dependerá, no entanto, da superação de alguns desafios, que vão desde questões regulatórias, definição de espectro e utilização de infraestrutura de dutos e postes até o direito de passagem, aspectos tributários e fatores geopolíticos.
O primeiro é o próprio leilão. “Esperamos que o desenho dos blocos regionais, o preço e as obrigações de cobertura possibilitem a participação dos provedores. E que ainda a regulamentação do mercado secundário, redes neutras, MVNOs e uso secundário criem novas oportunidade para as operadoras competitivas participarem de fato da era 5G, mesmo sem adquirirem diretamente o espectro”, afirma Moura.
Espera-se, ainda, que o edital restrinja a participação de empresas que visem adquirir licenças para revenda futura, o que oneraria o investimento na infraestrutura necessária. É possível, inclusive, que muitos provedores de menor porte não tenham recursos para os investimentos para novas operações, intensificando as fusões e aquisições e a ação de investidores externos nessas empresas.
Para Santos, da MHNet, saem na frente os provedores com boa governança corporativa, histórico de formação de parcerias com outros players do segmento e agilidade nas tomadas de decisão e execução. “Naturalmente, a capacidade de investimentos das PPPs estará muito associada às condições macroeconômicas do país e da disponibilidade de credito. Mas, acredito que, hoje, temos empresas muito bem estruturadas”.
Acelerar a implantação das antenas de telecomunicações é outro tema fundamental para o sucesso do 5G. O Presidente Jair Bolsonaro assinou no dia 1 de setembro último o decreto que regulamenta a Lei das Antenas (Lei nº 13.116/2015). Aguardado há mais de cinco anos pelo setor, o decreto traz uma série de regras que facilitam a instalação de antenas. “Sem agilidade na liberação de licenças para implantação de novas antenas, não teremos o 5G de fato. É fundamental a uniformização e padronização da legislação para implantação de novas antenas”, diz Santos.
Ele enxerga a possibilidade de substituição do acesso banda larga fixa com fibra óptica, por meio da tecnologia FWA – Fixed Wireless Access ou do próprio 5G móvel, o que leva a empresa a focar em melhoria e fidelização de clientes. Na sua opinião, o 5G será voltado à evolução das conexões, principalmente para as aplicações que demandam conectividade permanente e com baixíssima latência, como carros autônomos e as possibilidades de expansão da telemedicina móvel. “A convivência entre as diversas tecnologias vai garantir cada dia novas oportunidades de conexão, gerando a democratização do acesso pela maior disponibilidade e consequente redução de custos”.