5G vai impulsionar edge computing no país
O edge computing favorece uma série de aplicações, em especial as de missão crítica, que precisam de baixíssima latência, em diversas atividades, da indústria extrativa ao setor de saúde, do varejo ao agronegócio, passando por empresas de segurança, jogos e muitas outras.
Mário Moreira, colaborador da Infra News Telecom
A chegada do 5G ao Brasil, prevista para o ano que vem, não só dará grande impulso à IoT – Internet das coisas como vai, por tabela, favorecer o edge computing no país. Nessa tecnologia, também chamada de computação de borda, a infraestrutura de processamento de dados fica em geral no servidor local, portanto mais perto do usuário, que passa a ter uma melhor experiência para acessar os serviços, além de conexões mais confiáveis. Tal proximidade favorece uma série de aplicações, em especial as de missão crítica, que precisam de baixíssima latência, em diversas atividades, da indústria extrativa ao setor de saúde, do varejo ao agronegócio, passando por empresas de segurança, jogos e muitas outras.
“A essência do 5G é permitir milhões de conexões por quilômetro quadrado, com uma largura de banda absurda. Mas para aplicações como essas, em que o processamento tem que ser instantâneo, é preciso uma estrutura adicional, que seria justamente o edge. Imagine ainda uma mineradora que tenha caminhões autônomos em operação: esses veículos não podem falhar nem sofrer acidentes. Ou um cirurgião que faça operações remotas: o bisturi não pode cortar o paciente no lugar errado”, diz Renato Pasquini, diretor geral da consultoria Frost & Sullivan no Brasil.
Um estudo da Frost & Sullivan, divulgado em agosto do ano passado, prevê que em 2022 cerca de 90% das indústrias utilizarão edge computing. A pesquisa estima que em 2024 o mercado mundial de multi access edge computing (uma oferta comercial de egde computing por parte de operadoras de redes sem fio) deve chegar a US$ 7,23 bilhões, ante apenas US$ 64,1 milhões em 2019, um crescimento anual médio de 157,4%.
“No contexto de transformação digital acelerada, que vivemos durante a pandemia da Covid-19, experiências únicas e diferenciadas são cada vez mais valorizadas pelo consumidor no mundo virtual. O edge computing tem o potencial de entregar essa personalização e diferenciação para os clientes e empresas também no mundo físico”, diz Alberto Miyazaki, CTO da IBM Brasil. Assim, explica ele, o edge possibilita implementar e executar aplicativos de forma consistente em todos os ambientes de computação. “Os ambientes edge podem estar instalados em infraestrutura de diversos provedores de cloud, por exemplo, ou mesmo no ambiente da empresa, permitindo uma efetiva estratégia multicloud e de cloud híbrida.”
A diretora de serviços cloud da Embratel, Diuliana França, concorda com Miyazaki. A executiva acrescenta que há dados que são processados e finalizados na ponta e outros que são enviados para estruturas centralizadas, fazendo com que a computação de borda, os tradicionais data centers e a computação em nuvem se complementem.
“É um cenário híbrido. Assim como a tecnologia de cloud computing foi um acelerador para transformação digital da indústria e de serviços, viabilizando a criação de soluções que antes não tinham sido pensadas e trazendo uma nova maneira de consumir data center, até mesmo com o desenvolvimento das grandes estruturas para as clouds públicas, o edge computing chega como alavancador da Internet das coisas, incorporando outras tecnologias como data analytics, machine learning e inteligência artificial”, comenta a diretora.
Segundo ela, esse modelo híbrido deve continuar existindo e, com a evolução das tecnologias, estas seguem se conectando e se complementando ainda mais. Atualmente, a Embratel oferece soluções a partir de três data centers edge computing, e a previsão é chegar a 16 nos próximos dois anos, para atender à demanda que deve aumentar com o avanço do 5G. A empresa tem dez grandes clientes usando a plataforma de edge computing, e a expectativa é que esse número suba exponencialmente.
Lenildo Morais, mestre em ciência da computação e gerente de projetos na Ustore/Claro, complementa ainda que um dos benefícios do edge computing no data center é a aquisição ou agregação de dados. “A computação de borda permite a aquisição de dados perto de onde foram criados. Com arquiteturas de nuvem clássicas, por exemplo, os dados são enviados a um data center central para avaliação. No entanto, um upload para a nuvem pode ocorrer com computação de ponta. Isso ocorre apenas se, por exemplo, os dados devem ser arquivados ou os dados não podem ser avaliados localmente.”
Ele também destaca o armazenamento de dados no local, já que na nuvem a transmissão em tempo real de grandes quantidades de dados do data center principal geralmente não é possível. “Por isso, com a computação de ponta, os dados correspondentes são armazenados de forma descentralizada na borda da rede, ou seja, localmente.”
Outra vantagem é que a tecnologia permite o monitoramento com suporte de IA – inteligência artificial. Morais explica que isso é garantido porque as unidades de processamento descentralizadas de um ambiente de computação de ponta recebem e avaliam os dados, criando um monitoramento contínuo. “Se for combinado com um algoritmo de aprendizado de máquina, o status pode ser monitorado em tempo real. Uma vantagem do edge computing também digna de nota é a comunicação M2M – máquina a máquina, que representa a troca automática de informações entre dispositivos finais.”
Centralização dos serviços
Na Atento, multinacional de contact center, o edge computing é utilizado desde 2020, com o principal objetivo de centralizar os serviços em grandes data centers e serviços de nuvem. De acordo com Silvio Roberto Xavier de Mendonça, CIO da Atento, com a centralização é possível escalar e compartilhar os recursos com mais eficiência, além de manter um controle com mais segurança. “Mas isso tem alguns pontos sensíveis que tivemos que tratar com edge computing. Desse modo, foi colocado edge computing para atender aos casos de uso que não podem ser resolvidos com a abordagem de serviços de nuvem, devido a requisitos da rede, legais ou outras restrições”, acrescenta.
Mendonça ainda destaca que a tecnologia evitou limitações de largura de banda, reduziu falhas no serviço e propiciou melhor controle sobre a movimentação de dados confidenciais, a medida que baixou os custos de rede e os atrasos de transmissão. “Oferecemos serviços que necessitam de baixa latência e processamos dados sensíveis que seguem rígidos controles regionais de segurança e legislação, como a LGPD e a GDPR. Com o uso híbrido de nuvem e edge computing, podemos prover uma solução completa, eficaz e segura.” Ao manter alguma computação localmente, ressalta Mendonça, os escritórios e operações regionais da Atento trabalham de forma independente e com maior fluidez, permitindo criar planos mais simples de recuperação e disponibilidade.
Alberto Miyazaki, da IBM, faz, porém, um alerta: nem sempre o edge computing será a melhor solução. “Para diversas indústrias, casos de uso relacionados a IoT ou experiência do usuário têm benefício claro com a adoção de edge computing. Ainda assim, alguns aspectos de volumetria e modelos de negócios precisam ser provados na prática, confirmando os resultados esperados. Há cenários em que o uso de computação em nuvem ainda vai ser mais adequado, seja por custo ou pela simplificação, mostrando que a adoção da tecnologia por si só não faz sentido e reforçando a parceria que as áreas de negócios e tecnologia devem ter nas decisões estratégicas das empresas.”
Já, na avaliação de Morais, a utilização de data centers de ponta faz sentido quando grandes quantidades de dados precisam ser processadas e analisadas. Além disso, as restrições de largura de banda e os tempos de latência podem ser contra o processamento de dados centralizado. “Os aplicativos da indústria 4.0 são um exemplo disso. Na produção, os data centers de ponta podem analisar e avaliar os dados históricos de milhares de sensores em tempo real. Os resultados podem ser posteriormente processados em uma nuvem central e também ser incorporados ao planejamento de produção entre locais a partir daí.”
Para ele, é preciso ter uma estratégia adequada e investimentos em gerenciamento de dados. “A esfera de dados global alcançará 195 zetabytes em 2025, mais de 80% desses dados virão de empresas. A constante expansão da rede devido a um número crescente de dispositivos, por sua vez, influencia a transmissão de dados.”
Vale ressaltar que uma maior quantidade de dados também aumenta o tempo de transmissão, que é um problema que não deve ser subestimado para certas aplicações, como carros autônomos ou serviços financeiros que dependem de transmissão rápida de dados com baixa latência. “A computação de borda oferece uma solução para isso. Ao mudar o poder de computação do centro para a borda da rede, as empresas podem processar dados de forma mais rápida e eficaz”, diz o mestre em ciência da computação.