A inteligência artificial ameaça o meu trabalho? Não, mas vai exigir constante evolução
Prof.ª e Dra. Alessandra Montini
Desde seu lançamento em novembro de 2022, o Chat GPT rapidamente chamou a atenção de empresas e profissionais diante das possibilidades que ele oferece e, claro, pretende oferecer no futuro. Como tudo em tecnologia, a ferramenta acarretou debates acalorados entre aqueles que a enxergam como a tendência que vai “revolucionar” o mundo e os que pensam que vai “destruir” a humanidade. Enquanto isso, segue arrebanhando mais e mais usuários – entrou para a história como a aplicação com crescimento mais rápido da história.
Enquanto as organizações buscam entender o que essa plataforma pode entregar de vantagens em seus processos e negócios, diversos estudos são conduzidos para avaliar o impacto no mercado de trabalho. Isso porque o Chat GPT se destacou justamente por escrever códigos inteiros, elaborar textos diversos e propor soluções para problemas reais no atendimento ao cliente em questão de segundos e com um grau elevado de detalhes. De fato, há exemplos que se torna difícil distinguir o que foi produzido pelo homem e o que surgiu de uma máquina.
O receio aumenta quando se observa o movimento inicial de grandes corporações, que aproveitam estes recursos para cortarem o investimento em pessoal, reduzindo o número de profissionais envolvidos em suas rotinas. Uma pesquisa da empresa ResumeBuilder.com, por exemplo, já mostra que praticamente metade (48%) das corporações que utiliza o Chat GPT já substituiu o trabalho humano em diversas tarefas. A tendência é este percentual aumentar, uma vez que 93% destas companhias pretendem expandir ainda mais seu uso nos próximos meses.
Diante desse cenário, fica o questionamento: Será que a inteligência artificial é uma ameaça aos nossos empregos?
A resposta a esta pergunta, contudo, não é simples. Ainda que um estudo da consultoria McKinsey estima que até 100 milhões de postos de trabalho devem desaparecer até 2030 por conta da aceleração digital, um estudo encomendado pela Dell Technologies, ainda em 2019, já projetava que 85% dos trabalhos que existirão em 2030 ainda não existiam na época da pesquisa. Ou seja, enquanto diversas funções podem desaparecer, outras certamente seriam criadas para atender novas demandas e desafios.
Postos de trabalho também acompanham a evolução da humanidade
O que as duas pesquisas mostram é que o trabalho não está imune à evolução da humanidade. Ele se adapta às demandas do seu próprio tempo, utilizando as ferramentas e os conhecimentos disponíveis para garantir o progresso da sociedade e a distribuição de renda entre homens e mulheres. Como ensinou Antoine Lavoisier, “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
Desde a primeira Revolução Industrial as profissões acompanham esse movimento. Basta olhar rapidamente nas carreiras em alta no século 19. Telefonista (uma pessoa que completava a ligação para outra), linotipista (responsável por garantir a impressão de livros e jornais) e telegrafista (que manuseava o telégrafo, para transmitir mensagens de longa distância) são apenas alguns exemplos que simplesmente deixaram de existir com a evolução tecnológica.
Em contrapartida, se uma pessoa do século 19 reaparecesse atualmente, ela se espantaria com programadores e desenvolvedores de computador, cientistas de dados e diversas áreas da engenharia que lidam com circuitos cada vez menores. É praticamente um efeito-cascata: o avanço do conhecimento leva a novas ferramentas, que criam novas necessidades e, consequentemente, exigem diferentes afazeres para serem atendidas.
O avanço do Chat GPT em diversas tarefas humanas comuns à nossa época, como a criação de códigos de programação e de conteúdo na web, apenas reforça que estamos no meio de uma mudança de paradigma – da mesma forma que o mundo atravessou no início do século 20 com o surgimento de computadores e aviões. Sim, algumas atividades irão desaparecer, mas isso não significa que os postos de trabalho serão sumariamente fechados. Na verdade, eles se transformação em novas carreiras que podem ser reaproveitadas pela pessoa.
IA não substitui o trabalho humano; só exige evolução
A ideia de robôs humanoides realizando as mesmas tarefas de homens e mulheres é uma excelente matéria-prima para ficção científica, mas está muito longe de ser algo real. Hoje, o que a inteligência artificial faz (e promete melhorar) é otimizar processos mecânicos dentro das profissões. Em suma: realiza as tarefas enfadonhas que não gostamos de fazer e que acabam tomando tempo considerável em nossas rotinas produtivas.
Dessa forma, um programador de computador certamente não ganhará mais dinheiro desenvolvendo códigos simples, mas pode assumir um papel mais importante ao propor soluções para situações mais complexas que a plataforma Chat GPT não consegue resolver. Um produtor de conteúdo, por sua vez, não precisa quebrar a cabeça para contar caracteres de um texto para web, mas pensar em formas de potencializar aquele material com novos e formatos.
A inteligência artificial, portanto, abre novas possibilidades aos profissionais que são diretamente impactados pela tecnologia. Em vez de lamentarmos o fim de trabalhos, ela dá a chance de nos aprofundarmos em suas características, descobrindo novas atividades que podem ser feitas. Quem evolui e amplia seus conhecimentos vai se transformar com sua profissão em vez de ser extinto por ela.
Até porque o próprio funcionamento da inteligência artificial deixa claro a importância da figura humana dentro dos processos. O Chat GPT, por exemplo, apenas repete informações que já estão disponíveis na web, além de demonstrar pouca capacidade na hora de interpretar informações – como diversos erros que aparecem frequentemente nas redes sociais. A criatividade, imaginação e originalidade são atributos exclusivamente humanos – e nenhum robô jamais irá superar isso.