Desafios e inovações na infraestrutura de telecomunicações brasileira
O artigo aborda a necessidade de redes de qualidade para atender aplicações inovadoras, que dependem de infraestrutura de fibra óptica, associada a data centers descentralizados e computação em nuvem próxima do dispositivo.
Vanderlei Rigatieri, fundador e CEO da WDC Networks
O setor de telecomunicações segue em evolução, num momento em que a busca por novos assinantes deixou de ser prioridade, dando espaço à preocupação em atender a demanda dos clientes por conexões mais confiáveis, flexíveis e escaláveis. Neste artigo, vamos comentar sobre a necessidade de redes de qualidade para atender aplicações inovadoras – e cada vez mais robustas –, que dependem de infraestrutura de fibra óptica, associada a data centers descentralizados e computação em nuvem próxima do dispositivo, para entregar aos usuários domésticos e corporativos conectividade com alta disponibilidade e resiliência, atual desafio competitivo dos provedores brasileiros.
Não é novidade que, após o boom de demanda durante a pandemia do coronavírus, o setor de telecomunicações entrou num período de acomodação em termos de procura, o que é natural num momento em que a grande maioria das organizações e das residências brasileiras já está na era da Internet (segundo a Anatel, 90% dos domicílios brasileiros estão conectados). Os números mostram que o segmento de telecom no Brasil cresceu 14% entre 2020 e 2021. Já para 2023, o esperado pela consultoria IDC, por meio do estudo Telecom Service Database Tracker, é um crescimento total de 3,5% num mercado que inclui SVAs (serviços de valor agregado) como TV paga e pacotes de streaming.
Garantir a qualidade da entrega na ponta
Podemos dizer que, se por um lado o crescimento em novas adesões à Internet tende à estabilização, a oferta de bandas capazes de absorver aplicações que se utilizam de grandes volumes de dados, envolvendo desde dispositivos conectados nas casas até sistemas complexos para cidades inteligentes, aumenta os desafios para provedores de internet na era do 5G. Já afirmamos em artigos anteriores que não basta um backbone de fibra óptica bem instalado e de bom alcance se, na ponta, a entrega não atende as expectativas.
É por isso que, com o aumento das aplicações digitais, é fundamental pensar numa arquitetura de dados focada na edge computing, minimizando o tempo de resposta, com maior resiliência e menor latência, associada a equipamentos que entreguem velocidade e estabilidade na ponta, como, por exemplo, roteadores Wi-Fi 6 – enquanto algumas operadoras ainda operam em Wi-Fi 5, o lançamento do Wi-Fi 7 já está iminente, mostrando a falta de modernização na oferta dos serviços.
Inovar para crescer
Vale acrescentar que, nos últimos anos, a democratização dos serviços de streaming, o desenvolvimento das aplicações com IoT e a ampliação do modelo SaaS (software como serviço) aumentaram a exigência pela disponibilidade ininterrupta dos serviços de conectividade. Nos ambientes corporativos, a automação de processos é estratégica acelerar negócios, tornando empresas mais competitivas.
Nesse sentido, a implementação de redes de qualidade pede atenção a diversos requisitos para garantir desempenho, confiabilidade e segurança. Esses requisitos incluem datacenters distribuídos na borda (edge), que possibilitam o processamento de dados num caminho mais curto até o end point e favorecendo o uso de recursos como inteligência artificial e machine learning que apoiam – e, muitas vezes tomam – decisões estratégicas na operação.
Banda larga fixa x 5G móvel
Em detrimento ao cenário promissor, provedores brasileiros, entretanto, ainda estão tímidos em relação aos edge datacenters, mesmo num mercado em que é possível operar em redes neutras (compartilhadas) reduzindo custos com infraestrutura que poderiam ser realocados na implantação de centros de processamento de dados, não para melhorar a qualidade da rede, como para criar oportunidades de oferecer um serviço agregado de hospedagem em cloud ou colocation.
Recentemente, a discussão entre o futuro da banda larga fixa diante do crescimento do 5G retomou espaço no mercado telecomunicações. Nesse sentido, vale refletir que os principais desenvolvedores de IA são EUA, Japão e Coreia, países onde o tráfego da rede supera o da rede móvel. Nos EUA, por exemplo, hoje a conectividade roda 10% em tecnologia móvel e 90% em banda larga fixa.
Dito isso, acredito que as redes de fibra óptica bem estruturadas, com torres bem planejadas e cabeamento de qualidade, seguirão atendendo demandas de conectividade, precisando apenas de modernização na ponta (roteadores, switches, spliters, etc.) para otimizar as conexões com a flexibilidade e escalabilidade exigidas para acompanhar a evolução das aplicações.
Segurança de rede
Na mesma medida em que a tecnologia conectada evolui e se torna acessível por meio de “n” dispositivos operando de forma integrada numa mesma rede, baixando dados ou enviando informações a outras interfaces, crescem as vulnerabilidades de segurança de dados, e esse é outro requisito importante para redes de qualidade, disponíveis e confiáveis. Um dos principais riscos que correm os provedores de Internet está nos ataques de DDoS, ou indisponibilidade do serviço, tipo de incidente disparou nos últimos anos chegando a quase 8 milhões de casos no primeiro semestre deste ano.
Por serem altamente visados nos ataques DDoS, é recomendável que os provedores estejam atualizados em relação às medidas preventivas e mitigatórias, que incluem desde tecnologias como firewall robusto a políticas de conscientização para as boas práticas de segurança on-line, uma vez que o usuário é o elo mais fraco da cadeia cibernética.
Em resumo, em meio à estabilização do crescimento de assinaturas de Internet, a qualidade da rede e a expansão da oferta de serviços é crucial. Com a evolução das aplicações, a infraestrutura de fibra óptica, datacenters descentralizados e a proximidade da computação em nuvem são essenciais. A transição para o 5G exige atenção à edge computing e equipamentos avançados. E a segurança da rede é um imperativo diante do aumento de dispositivos conectados. Para os provedores brasileiros, a modernização na ponta é vital para acompanhar as demandas em constante evolução.