A transformação organizacional aplicada na indústria 4.0
A indústria 4.0 representa as tecnologias emergentes, que visam agilizar a produção industrial focadas em eficiência operacional, manutenção, gestão de ativos, eficiência energética e conectividade de dados, orientados majoritariamente ao chão de fábrica. Esse movimento também é um habilitador para a transformação digital.
Victor Venâncio, head de digital transformation da IHM Stefanini Group
Estamos vivendo um momento de profunda transformação em nossa sociedade, na forma de fazer negócios e, consequentemente, em nossas organizações.
Na área industrial, as empresas possuem três dimensões organizacionais: back, middle e front offices, onde back office é a área industrial (as plantas de produção), middle office é a área de suporte aos negócios (financeiro, RH, contabilidade e outros) e front office são as áreas que estão em contato com clientes (seja B2B ou B2C), representado pelos segmentos de vendas, serviços, marketing, comunicação, entre outros. A transformação é necessária em todas as três dimensões organizacionais.
Termos como digitalização, indústria 4.0, transformação digital e quarta revolução industrial se tornaram “buzzwords”. Estão em evidência e, muitas vezes, são utilizados de forma equivocada.
A digitalização é um habilitador para a transformação digital. É a conversão de sinais analógicos para digitais numa planta industrial, ou seja, que faz uso de ferramentas computacionais para substituir procedimentos manuais nas rotinas do escritório, adoção de robotização, entre outras tecnologias, a fim de agilizar uma determinada tarefa.
Já indústria 4.0 representa as tecnologias emergentes (como realidade virtual, aumentada, IoT, impressoras 3D e digital twin), que visam agilizar a produção industrial focadas em eficiência operacional, manutenção, gestão de ativos, eficiência energética e conectividade de dados, orientados majoritariamente ao chão de fábrica. Esse movimento também é um habilitador para a transformação digital.
A transformação digital acontece quando tecnologia, processos e cultura são orientados a impactar e reimaginar modelos de negócios, criar fontes de monetização e transformar a organização como um todo (back, middle e front offices), inclusive na forma como ela se relaciona com os stakeholders.
Tecnologias podem ser convencionais ou emergentes da indústria 4.0 e digitalização, otimização de processos (industriais e corporativos) e adaptação da cultura organizacional para que a liderança, média gerência e colaboradores, estejam com a mentalidade preparada para um ambiente de inovação aberta e suportar todas as transformações organizacionais que estão acontecendo nas empresas.
Já a quarta revolução industrial engloba todos os movimentos transformacionais que estão impactando o mundo, como a transição energética, cidades inteligentes, mobilidade urbana, a própria indústria 4.0, entre outras transformações que estamos vivenciando.
Neste contexto de grandes transformações e um cenário de elevada competitividade entre empresas e nações, as organizações não ficariam imunes. Estruturas hierárquicas tradicionais e com elevada distância de poder entre as camadas organizacionais dificultam a geração de inovação, o que é vital para qualquer empresa.
As organizações precisam acompanhar estas mudanças para tornar os processos de gestão mais ágeis e modernos, além de promover o engajamento das pessoas (intraempreendedorismo). Dessa maneira, os profissionais estarão abertos para trabalhar em ecossistemas, oferecer serviços de mais qualidade, aumentar a produtividade e as margens do negócio para garantir a sustentabilidade da empresa.
Reduzir as distâncias de poder é uma das características da holocracia, que, basicamente, é um sistema de gestão que modifica o tradicional papel dos chefes e que possibilita o envolvimento dos colaboradores nas tomadas de decisões, agilizando os processos.
As principais características da holocracia são:
• Regras claras e bem definidas para todos os membros da organização.
• Estrutura organizacional horizontalizada.
• Responsabilidade compartilhada entre liderança, média gerência e funcionários.
• Desenvolvimento de lideranças e talentos.
• Abertura para criatividade, inovação e ambiente colaborativo.
O sistema de holocracia pode ser adotado por empresas que estejam em jornada de transformação digital ou sofrendo com a concorrência e, por isso, precisam ser mais ágeis em relação à dinâmica do mercado, por exemplo. Entretanto, por se tratar de uma estrutura organizacional diferente da maioria das empresas tradicionais, há de se ter especial atenção com a cultura organizacional. Um bom planejamento estratégico é vital para esse processo de transformação.
Diante da complexidade de se trabalhar uma mudança da estrutura organizacional e todo impacto gerado pela transformação digital (tecnologia, processos e cultura simultaneamente trabalhados), uma boa prática é tornar a organização ambidestra, para que o impacto nas operações do negócio dominante da empresa (core business que paga as contas) seja o menor possível e para que se possa extrair, paralelamente, os benefícios de um sistema de holocracia.
Uma organização ambidestra é aquela que mantém a sua operação normalmente por meio de sua estrutura organizacional tradicional, visando melhorias contínuas incrementais e, ao mesmo tempo, destaca uma estrutura organizacional com o sistema de holocracia, investindo em inovação disruptiva, novos modelos de negócios, aproximação com ecossistemas de startups ou de inovação aberta. Empresas que possuem a capacidade de operar com estes dois modelos paralelamente são as organizações ambidestras.
Transformação digital e transformação organizacional são imperativos para empresas de qualquer porte em quaisquer segmentos de mercado. Independentemente do nível de maturidade digital e organizacional de sua empresa, a competitividade e a nova dinâmica do mercado pressionam por estratégias que possibilitem às empresas se manterem sustentáveis.