Abordagem ágil: Você está preparado?
Edgar Amorim, Analista comportamental e coach, da Amorim & Pimentel
Antes de mudar de área, construí uma carreira sólida no mercado de TIC, com especialidade em redes de computadores. Instalei uma das primeiras redes Ethernet (com cabo coaxial de 500 m) e rede TCP/IP privada do país.
Esse mundo de TIC começou lá pelo final dos anos 1970 e início dos anos 1980 e eu acompanhei todo o caminho percorrido por essa área. Tive a oportunidade de atuar como usuário e como fornecedor. Acompanhei o crescimento do uso dos “computadores compatíveis com o “PC IBM” e tive a felicidade de viver a era da “Lei de Moore” – criada por uma profecia feita em meados dos anos 1960 por Gordon E. Moore, um dos fundadores da Intel, que dizia que “o poder dos processadores duplicaria a cada 18 meses”.
A profecia se cumpriu e o custo dos PCs – chamados de microcomputadores, na época, caiu e seu uso se difundiu muito. Novas aplicações se tornaram viáveis e novas carreiras surgiram para atender o aumento contínuo na demanda de uso dessa solução.
À medida que o PC se tornava popular, novas soluções surgiam para atender às necessidades do mercado. Dentro de uma empresa ou campus, era muito bom que os computadores pudessem se comunicar entre si; então surgiram as tecnologias de interconexão para formar redes de comunicação entre computadores, ou seja, as redes locais, com destaque para a Ethernet (uma solução simples e de baixo custo). Com o aumento continuo do uso de computadores em rede, começaram a surgir os primeiros problemas: tempestades de broadcast, que interrompiam a comunicação e, para contornar esta questão, apareceram as VLANs.
No mundo do software surgiu o BASIC, uma linguagem simples que permitia desenvolver programas para atender as primeiras demandas de automatização de processos, como gestão do cadastro de clientes e outros. Novas linguagens de programação mais robustas foram criadas, aproveitando o poder de processamento que aumentava constantemente. O uso de bancos de dados se tornou uma necessidade. Naquela época, havia uma grande discussão sobre qual abordagem seria mais efetiva para um banco de dados: a relacional ou a hierárquica.
Em paralelo, estava a arquitetura cliente-servidor e junto com ela a disputa entre os sistemas operacionais, Novel Netware ou Windows LAN Manager, posteriormente substituído pelo Windows NT, e mais tarde pelo UNIX/LINUX. Com tudo isso, a complexidade de projeto, operação, suporte e manutenção cresceu muito. O número de pessoas envolvidas com o uso dessas novas tecnologias aumentou e, então, entraram na pauta novas questões relacionadas às diferentes visões para desenvolver um projeto, criar um novo sistema, estruturar uma nova rede de comunicação e tantas outras necessidades.
Depois de muitos acertos e erros, novos caminhos se mostraram mais eficazes no desenvolvimento de sistemas, operação, suporte, resolução de problemas. Por meio das “boas práticas” aprendidas, criou-se o ITIL – Information Technology Infrastructure Library, para a gestão dos serviços das TIC, que hoje já está na versão 4.
Na área de desenvolvimento de software surgiram várias opções de linguagens, banco de dados, plataformas e conjunto de ferramentas de desenvolvimento: os frameworks.
Todo o planejamento e gestão das pessoas envolvidas com a área de TIC seguiam a abordagem tradicional da administração conhecida como PDCA – Plan, do, control, adjust (planejar, fazer, controlar, ajustar). A organização das pessoas era baseada em hierarquia – existiam diretor, gerente, coordenador, colaborador e tantos outros. Assim, as decisões eram tomadas nos níveis superiores e os colaboradores apenas executavam o que lhes era solicitado. Nessa abordagem os prazos para finalizar um sistema giravam em torno de meses ou anos.
No entanto, com o advento da Internet e o aumento gigantesco do uso de sistemas e programas de todos os tamanhos, aqueles prazos não atendiam mais as necessidades. Até no mundo do hardware, que requer manipulação de materiais físicos, prazos longos não eram aceitos. Na busca de uma solução adequada para essa necessidade foi desenvolvida a abordagem Ágil, definida no Manifesto Ágil. A intenção era diminuir o tempo de desenvolvimento de um sistema e para isso foram declarados quatro valores fundamentais:
Indivíduos e interações, mais que processos e ferramentas.
Software em funcionamento, mais que documentação abrangente.
Colaboração com o cliente, mais que negociação de contratos.
Responder a mudanças, mais que seguir um plano.
Na implementação de uma gestão ágil várias ferramentas foram criadas ou emprestadas de outras áreas – o SCRUM, o Kanban e o Lean, entre outras. Nessa abordagem, o trabalho está na criação de uma solução mínima viável (o MVP – Minimum Viable Product). São efetuados pequenos ciclos de trabalhos, usualmente de uma semana (os sprints), para no final o grupo ligado ao projeto (desenvolvedores, cliente, especialista, etc.) fazer uma verificação do que foi realizado e se há necessidade de algum ajuste.
Nesse grupo não há hierarquia; todos colaboram e todos são responsabilizados. Esse é uma explicação simples apenas para ilustrar que na gestão ágil o envolvimento de todos vai além de suas especialidades. Há uma necessidade de interação entre as pessoas muito maior do que antes. Algumas dificuldades podem surgir, pois esse tipo de comportamento não era exigido anteriormente. Uma grande ajuda para atuar nesse “mundo ágil” são os conceitos presentes no artigo “Comportamento versus sucesso profissional”.
A gestão ágil obteve tanto sucesso que começou a ser adotada em outras áreas da administração das empresas. Ela não está mais presente apenas no desenvolvimento de software. Hoje, fala-se muito do “RH ágil” e da “empresa ágil”. A ideia é utilizar esta metodologia para fazer a gestão de várias atividades – e não apenas no desenvolvimento de software.
O envolvimento de colaboradores no planejamento e gestão das atividades vêm ganhando campo pelos seus resultados – e isso é gestão ágil. Possivelmente, porque ao participar da tomada de decisão uma pessoa se sente mais motivada para executar a tarefa. Isso tudo requer uma mudança de comportamento do “funcionário”, que até hoje praticamente só recebia ordens – e “broncas”.
É preciso compreender o outro, saber ouvir, apresentar ideias, saber falar e aprender a criar uma discussão produtiva. Tudo isso são habilidades que devem ser desenvolvidas.
O “mundo ágil” não está batendo na porta, ele já entrou. Você está preparado para ele? Plano de ação: Quando você vai ler sobre a abordagem “’Agil” e se preparar para ela?
Sucesso!
É instrutor certificado Everything DiSC®️ formado pela Wiley Publishing, nos EUA, Coach Executivo e analista comportamental pela Sociedade Latino Americana de Coaching, associada da International Association of Coaching (IAC). Pós-graduado em sócio-psicologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, MBA em Administração de Negócios pelo Instituto Mauá de Tecnologia e engenheiro eletrônico pela Faculdade de Engenharia São Paulo. Tem mais de 40 anos de experiência em organizações de vários portes, incluindo multinacionais, onde assumiu funções de operações e executivas.