Agora é a hora colocar em prática os planos de transformação digital
Prof.ª e Dra. Alessandra Montini
Todos nós estamos enfrentando um grande problema: a Covid-19. A pergunta que fica é: “Como sair desse caos ileso?”. A resposta é: “Ninguém sairá ileso, mas existem formas diferentes de encarar isso”.
Um dos mercados que vai sofrer muito com o impacto da pandemia é o de tecnologia. Segundo Abinee – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, 21% das empresas do setor estimam que não irão atingir o volume previsto para o 1º trimestre. A associação afirmou que os impactos do surto do novo Coronavírus já são sentidos por 70% das empresas de tecnologia do país e 6% das fabricantes pesquisadas já funcionam com paralisação parcial — alta em relação à sondagem anterior, que apontava 4%.
Metade das empresas (48%) não tem previsão de parar as atividades. A nova pesquisa trouxe também informações sobre problemas para entrega de produto final: 54% das empresas afirmaram que, caso a situação se prolongue por mais um mês e meio, pode haver risco na entrega. É a primeira vez que a indicação aparece nos levantamentos.
O problema está na cadeia de fornecimento, com falta de insumos que viriam da China, país mais afetado pelo Coronavírus. A China é a principal fonte de componentes do Brasil, com 42% do volume total. O país é um dos principais vendedores de chips, circuitos integrados e outras partes e peças que vão se tornar celulares, máquinas de lavar, televisores e diversos outros eletrônicos. Estamos sentindo o efeito dominó.
A IDC divulgou recentemente um estudo que mostra que a indústria praticamente não trabalha com estoque de matéria-prima. Dito isso, imaginamos a alta no custo da matéria-prima, pois varejo e indústria estão com margens apertadas, logo, se o custo aumentar, ele será repassado.
Mesmo diante de todo esse caos e a “maré” parecendo não estar para peixe, eu mantenho o meu otimismo e continuo enxergando uma luz no fim do túnel. Não vamos nos desesperar! Isso só traria mais problemas. Vamos viver, aprender a desconstruir e RECONSTRUIR nosso amanhã!
Crescimento do mercado de TI
A expectativa para o Brasil neste ano é que os mercados de tecnologia da informação e telecomunicações registrem um crescimento de 4,9%, segundo pesquisa da IDC. O maior avanço é esperado para a área de TI, com uma alta de 5,8%, puxada pelos serviços hospedados na nuvem e pelo mercado de software.
Não há dúvidas de que a pandemia trouxe um grande avanço no mercado digital. Fomos dormir e acordamos diante de um cenário que parecia cena de ficção, onde a nossa sobrevivência dependia de migrar grande parte da nossa vida para o mundo digital.
Com as empresas não foi diferente. Elas foram pegas de surpresa e precisaram tomar decisões que há anos vinham sendo adiadas, como a importância de estabelecer o trabalho home office e adotar tecnologias para auxiliar o compartilhamento de dados com todos os funcionários, entre outras tecnologias que facilitam o mundo do trabalho.
A verdade é que antes da pandemia existiam muitas alternativas digitais e personalizadas para vários setores, mas sempre deixamos para depois, lamentando que “são caras para o orçamento da empresa” ou que sempre foi possível “trabalhar sem a ajuda dessas ferramentas”. Porém, quando o a crise chegou, a necessidade mostrou que as companhias que estavam preparadas foram menos prejudicadas. As outras precisaram se reinventar e ainda estão nessa reinvenção, tomando prejuízos para continuarem vivas.
Estamos vendo a telemedicina acontecer, escolas e professores sendo desafiados a mostrar que educação pode ser estabelecida no universo online, lojas físicas dando passos largos com a migração para o e-commerce. Não faltam exemplos de que o Coronavírus deixou para traz a crença de que alguns setores nunca poderiam se tornar online.
A tecnologia nunca esteve tão presente, mostrando que ela é uma aliada na sobrevivência dos humanos, capaz de estreitar o isolamento físico, criar novas maneiras de trabalho e reinventar profissões. As empresas vão precisar lidar com todas as transformações que foram aceleradas pela pandemia se quiserem se destacar. As que não o fizerem, podem deixar de existir.
Um estudo da ESG, patrocinado pela Dell EMC, realizado com mil executivos de TI de companhias de grande porte ao redor do mundo, sendo 100 delas no Brasil, revelou que apenas 5% das organizações estão preparadas para a transformação digital, por meio de infraestruturas, processos e metodologias adequados.
Por mais que o momento seja desafiador, agora é a hora ideal para repensar valores, rever custos, apostar em softwares mais eficientes, big data, cloud computing, inteligência artificial e tirar do papel a tão falada transformação digital que foi postergada para um possível futuro.
As vantagens que a pós-pandemia traz para o mundo corporativo são enormes. Será possível contratar um profissional de qualquer lugar do planeta, afinal, as empresas já perceberam que a produtividade não fica trancada nas quatro paredes de um escritório: ela acontece também no trabalho remoto. Inclusive, o estudo “Tendências de marketing e tecnologia 2020: Humanidade redefinida e os novos negócios” prevê que o home office no Brasil terá um crescimento de 30% após a pandemia. Por isso, é importante revisar os processos internos e compreender que a tecnologia é um ativo humano.
Agora, analisaremos muito bem se vale a pena se deslocar, enfrentar congestionamento para realizar uma reunião e se realmente é vantajoso investir em mobília e aluguel para manter um escritório físico. Estaremos em um mundo mais estratégico e assertivo e o mais interessante é que usaremos as mesmas tecnologias que já existiam antes da pandemia, mas agora de maneira intensificada e dando o devido valor.
O mundo já está em transformação e a forma de trabalhar já mostra grandes mudanças. Não podemos esperar novas quarentenas, medicamentos ou vacina para dar início a um processo que já está acontecendo. As empresas precisam encontrar uma nova forma de operar e colocar esse novo universo em prática. As que souberem fazer esse caminho, certamente, estarão com o futuro garantido.
Cinco dicas para ajudar sua empresa a se reestabelecer em tempos difíceis
Vista a camisa
Pode ter certeza que mandar um funcionário trabalhar de casa ou fazer revezamento não era algo que as empresas planejavam tão cedo, ainda mais agora que o país estava se reerguendo após a crise econômica. No entanto, a pandemia forçou tal situação. Por isso, é hora de vestir a camisa da sua companhia para que ela não sofra grandes perdas com o cenário atual. Converse com os seus gestores sobre as prioridades e entregas, organize o seu dia e estabeleça metas para que o ritmo do seu trabalho não diminua.
Seja criativo e envie suas sugestões aos gestores
Por mais que seus gestores estejam atrás de soluções para manter o trabalho da melhor maneira, você também pode ajudar neste momento. Traga algumas sugestões, como evitar reuniões presenciais e em salas fechadas e adotar ferramentas tecnológicas, como agenda e planejamentos em nuvem, videoconferência, soluções de compartilhamento de arquivos, entre outras. E ainda mantenha o fluxo de envio de e-mails e Whatsapp com a equipe para se manterem alinhados.
Não reclame, pois não vai ajudar
Ter acesso a informações oficiais e entender o que está acontecendo no mundo por conta do Coronavírus é essencial para não ter atitudes negativas. O momento requer colaboração de todas as partes, afinal muitas pessoas já estão em pânico, outras infectadas e, somado a tudo isso, a economia desacelerou. Mais do que funcionário de qualquer empresa, o seu papel agora é ser cidadão. Mesmo de casa, mantenha contato com a sua equipe e não reclame se as coisas não estão saindo como planejava ou se seu rendimento não está tão bom. Pense que essa situação é provisória e reclamar não vai ajudar em nada.
Faça algo a mais todos os dias
Estamos vivendo em tempos de incertezas. Não sabemos quem vai ser infectado pelo Coronavírus, se será nosso colega ou gestor, e por quanto tempo essas pessoas poderão precisar de afastamento. Por isso, dê o máximo possível de seus esforços agora. Trabalhe com dedicação, trace metas e, mesmo de casa, trabalhe a quantidade de horas estabelecidas com sua empresa.
Ajude a orientar a população
Antes de ser um funcionário, você é um cidadão. Por isso, sua função é ajudar no combate ao Coronavírus. Se estiver com qualquer sintoma, febre, dor de garganta e tosse seca, desmarque os compromissos, viagens e avise seus gestores sobre sua ausência. Faça a sua parte e mantenha o isolamento social pelo tempo que for necessário para não infectar outras pessoas.
Diretora do LABDATA-FIA, apaixonada por dados e pela arte de lecionar, Alessandra Montini tem muito orgulho de ter criado na FIA cinco laboratórios para as aulas de Big Data e inteligência Artificial. Possui mais de 20 anos de trajetória nas áreas de Data Mining, Big Data, Inteligência Artificial e Analytics.
Cientista de dados com carreira realizada na Universidade de São Paulo, Alessandra é graduada e mestra em estatística aplicada pelo IME-USP e doutora pela FEA-USP. Com muita dedicação, a profissional chegou ao cargo de professora e pesquisadora na FEA-USP, e já ganhou mais de 30 prêmios de excelência acadêmica pela FEA-USP e mais de 30 prêmios de excelência acadêmica como professora dos cursos de MBA da FIA. Orienta alunos de mestrado e de doutorado na FEA-USP. Membro do Conselho Curador da FIA, é coordenadora de grupos de pesquisa no CNPq, parecerista da FAPESP e colunista de grandes portais de tecnologia.