América Latina e Caribe têm mais de 70 milhões de pessoas sem acesso à Internet de qualidade no campo
Redação, Infra News Telecom
Cerca de 72 milhões de pessoas que vivem em zonas rurais na América Latina e Caribe carecem de conectividade com padrões mínimos de qualidade. No Brasil, 13 milhões estão nesta condição, de acordo com o levantamento “Conectividade Rural na América Latina e no Caribe: Estado da situação, desafios e ações para a digitalização e o desenvolvimento sustentável”, realizado pelo IICA – Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura em parceria com o Banco Mundial, Bayer, CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina, Microsoft e Syngenta.
O estudo apresenta dados coletados entre 2020 e 2022 em 26 países da região e oferece um panorama completo sobre a situação da conectividade rural nessas localidades, mostrando a diferença de conectividade entre áreas urbanas e rurais. Segundo o levantamento, 79% da população urbana dos países analisados contam com serviços de conectividade significativa, enquanto entre as populações rurais a porcentagem é de 43,4%, o que indica uma diferença de 36 pontos percentuais.
“Essa diferença entre a conectividade rural e urbana mina um imenso potencial social, econômico e produtivo no âmbito estratégico no qual está em jogo a segurança alimentar e nutricional de boa parte do planeta. Os dados constatam que existe um atraso rural que requer ações decididas e soluções inovadoras”, diz o diretor-geral do IICA, Manuel Otero.
No caso do Brasil, a conectividade significativa urbana é uma vez e meia mais abrangente do que nas zonas rurais, uma diferença um pouco menor do que nos demais países do levantamento, onde a diferença média de conectividade entre o rural e o urbano chega a 1,8. Enquanto nas zonas urbanas do Brasil o índice de Conectividade Urbana é 0.821, o Índice de Conectividade Rural é 0.542. Na América Latina e Caribe, o Índice de Conectividade Urbana médio é 0.794, e o Rural, 0.434.
De acordo com o trabalho, as dificuldades para aumentar o acesso à conectividade rural mais rapidamente na maioria dos países passam por obstáculos persistentes no emprego dos fundos de acesso universal, por problemas na implementação de novas instalações devido à infraestrutura elétrica e de rodovias, elevados custos de investimento e menor custo-efetividade para as companhias operadoras, além de escassez de estímulos que estimulem os investimentos no âmbito rural.
“Superar a diferença de conectividade e de habilidades digitais na ruralidade requer a concordância de políticas públicas, a participação do setor privado e a cooperação internacional. Os países da região, embora estejam encarando ações em termos de atualização de estruturas regulatórias e desenvolvimento de agendas e políticas digitais, ainda não conseguiram implementar soluções em grande escala e apresentam requisitos significativos em termos de investimentos em infraestrutura”, destaca Sandra Ziegler, pesquisadora do IICA que liderou a elaboração do trabalho.
“Melhorar e investir em conectividade é uma aposta que favorecerá o crescimento econômico dos países. Evidências demonstram o vínculo positivo entre o uso de infraestrutura e o PIB – Produto Interno Bruto. A conectividade, o desenvolvimento das redes móveis e o investimento para a sua sustentabilidade e sua eventual expansão representam uma contribuição importante no processo de recuperação econômica pós-pandemia e para o desenvolvimento regional”, diz Joaquín Arias Segura, especialista técnico internacional do IICA.
Objetivos do estudo
A pesquisa constitui um apelo a uma ação determinada por governos, pelo setor privado e pela sociedade civil para corrigir as diferenças de conectividade rural de forma rápida.
O trabalho considera que a mudança tecnológica no âmbito rural tem contribuído para aumentar os níveis de produtividade dos cultivos nas regiões mais atrasadas, de modo que a conectividade tem um grande potencial para fomentar as rupturas de círculos viciosos que hoje geram insegurança, pobreza e emigração da população que habita as áreas rurais. “Assim como em outros momentos da história trens, rodovias e estradas foram muito importantes para o desenvolvimento, o divisor de águas agora entre se desenvolver e ficar para trás é ter acesso à Internet”, completa Gabriel Delgado, coordenador da região Sul do IICA e representante do instituto no Brasil.
Recomendações em questões de políticas públicas
O estudo inclui um conjunto de recomendações em questões de políticas públicas para desenvolver as habilidades digitais na população rural, buscando maximizar as oportunidades oferecidas pela conectividade na ruralidade. Entre as orientações estão garantir uma conectividade acessível e significativa para fins educativos e, juntamente com o hiato de acesso, abordar o uso das novas tecnologias entre a população; abordar o problema das habilidades digitais, segmentando os destinatários das iniciativas com estratégias diferenciadas de formação para os jovens imersos na escolarização e a população economicamente ativa que precisa passar pelo processo de reconversão produtiva; e criar oportunidades de imersão em tecnologias com experiências personalizadas para os usuários.