“Analytics as a service” virou questão de sobrevivência para as empresas
Prof.ª e Dra. Alessandra Montini
Não é novidade para ninguém que os dados ocupam posição de destaque no ambiente corporativo atualmente. Sem eles, muitos processos se perdem pelo caminho, os profissionais terão dificuldades para executar suas tarefas e, mais importante, os gestores não conseguirão tomar as melhores decisões que impactam no dia a dia do negócio. Como se vê, esse ativo se constitui na principal matéria-prima nos mais variados setores e segmentos.
Entretanto, essa área também é afetada pela aceleração digital que ela mesma proporciona – o que obriga as empresas a se moldarem diante das tendências e conceitos que ganham espaço no dia a dia. No caso da análise de dados, uma velha conhecida dos especialistas em TI começa a modificar esse serviço: a computação em nuvem. Isso mesmo, toda a rotina de análise de dados também está sendo virtualizada, obrigando as organizações a se adaptarem a esta nova realidade o quanto antes.
Em 2019, uma pesquisa da SAS Brasil com executivos C-Level na América Latina mostrou que praticamente quatro em cada dez empresas no país (39,47%) previam uma migração do analytics para a nuvem nos próximos seis ou 12 meses, enquanto um quarto delas (27,19%) já possuíam esse recurso em funcionamento. Bom, como em 2020 começou a pandemia de Covid-19, o que praticamente obrigou os executivos a tirarem os projetos de digitalização da gaveta, esse índice certamente deve ser maior agora, em 2022.
A proposta de um analytics as a service não é nova. Desde a consolidação da computação em nuvem no ambiente da tecnologia, há pelo menos dez anos, diferentes funcionalidades começaram a migrar para esse novo modelo. Entre eles, claro, estava a análise de dados no ambiente corporativo. Diferentes projetos surgiram desde então, mas eles eram percebidos como um movimento pontual por parte das companhias que precisavam dessa tarefa com a agilidade e flexibilidade que o cloud pode oferecer.
Mas o que faz esse conceito crescer de tal forma que se tornou em item de sobrevivência para as organizações e profissionais? Há três fatores que explicam esse avanço nos últimos dois anos. O primeiro deles, evidentemente, é o efeito da pandemia no ambiente de trabalho. O home office teve que ser adotado às pressas para reduzir a aglomeração dos colaboradores. A experiência foi tão bem-sucedida que muitas corporações mantiveram ou adotaram o modelo híbrido. A questão é que se os colaboradores estão em suas casas, eles precisam acessar a análise de dados de alguma forma. Assim, essas informações tiveram que ficar disponíveis via nuvem.
O segundo tópico é justamente a evolução da tecnologia. Se antes a migração do analytics para o cloud computing esbarrava em limitações técnicas, sobretudo na sincronização dos dados, hoje esse cenário está mudando. Novas soluções surgem continuamente no mercado, permitindo que as empresas possam “virtualizar” suas análises de dados sem comprometer a qualidade dos insights gerados em seus relatórios. A experiência nos últimos dois anos graças à Covid-19 possibilitou esse avanço significativo.
Por fim, é preciso reconhecer que a própria área demandava novas ideias e soluções. Afinal, o volume de dados disponível para todas as empresas não para de aumentar. Hoje, mais do que analisar, é preciso saber quais são as informações mais adequadas para o propósito do negócio e, principalmente, como fazer isso de forma rápida, ágil e eficiente. Dessa forma, a migração para a nuvem é praticamente um caminho natural a ser feito, permitindo ganho de escala e de produtividade para todos.
Eficiência, agilidade e rapidez. É justamente essa trinca de qualidades intrínsecas às soluções em nuvem que o analytics mais precisa atualmente. Já citamos a importância dos dados na estratégia de qualquer negócio. Logo, não é mais um diferencial, mas algo inerente à própria estrutura corporativa. Sendo assim, se todos adotam o mesmo recurso, aquele que for mais rápido e melhor consegue se destacar, não é mesmo? Por isso, é importante ter esses dados disponíveis quando, onde e como os profissionais quiserem para não impactar na tomada de decisão e na rotina produtiva.
Em um mundo que se discute sobre a digitalização das moedas e as possibilidades de imersão no Metaverso, compreender que serviços essenciais para as empresas possam migrar para a computação em nuvem não chega a ser tão surpreendente assim. O que nos pegou desprevenidos, talvez, foi a velocidade com que essas mudanças aconteceram. Velhos hábitos foram suplantados rapidamente sem que os profissionais e gestores pudessem fazer uma transição adequada. Bom, o futuro chegou e ele está, cada vez mais, na palma da nossa mão e acessível a qualquer hora e de qualquer lugar.
Diretora do LABDATA-FIA, apaixonada por dados e pela arte de lecionar, Alessandra Montini tem muito orgulho de ter criado na FIA cinco laboratórios para as aulas de Big Data e inteligência Artificial. Possui mais de 20 anos de trajetória nas áreas de Data Mining, Big Data, Inteligência Artificial e Analytics.
Cientista de dados com carreira realizada na Universidade de São Paulo, Alessandra é graduada e mestra em estatística aplicada pelo IME-USP e doutora pela FEA-USP. Com muita dedicação, a profissional chegou ao cargo de professora e pesquisadora na FEA-USP, e já ganhou mais de 30 prêmios de excelência acadêmica pela FEA-USP e mais de 30 prêmios de excelência acadêmica como professora dos cursos de MBA da FIA. Orienta alunos de mestrado e de doutorado na FEA-USP. Membro do Conselho Curador da FIA, é coordenadora de grupos de pesquisa no CNPq, parecerista da FAPESP e colunista de grandes portais de tecnologia.