Avanço dos recursos de comunicação deve gerar onda de moving e retrofit
Para estender a vida útil e manter o data center em boa condição, é importante ter uma documentação exaustiva dos procedimentos operacionais e rotinas consistentes de manutenção. Além de precisar menos de intervenções radicais, será mais fácil planejar mudanças ou reformas.
Verônica Couto, colaboradora da Infra News Telecom
A possibilidade de ter data centers menores e distribuídos, aproveitando os recursos do 5G e da computação de borda, e o aumento da procura por co-location devem fomentar iniciativas de movimentação física e lógica dos ambientes de processamento. O chamado “moving” é uma operação delicada e que exige muito planejamento, mas capaz de promover economia, ganho de espaço e segurança.
“Temos grande expectativa para o segundo semestre”, diz Fabrício Costa, sócio e diretor técnico da Zeittec, empresa de engenharia em TI, especializada na construção de data centers em regime de turnkey. Atualmente, segundo o diretor, a empresa está desenvolvendo cinco projetos de moving.
A chegada efetiva do 5G terá papel importante no aquecimento desse mercado, avalia Gonçalo de Sousa, CEO da Datacritical TI, empresa focada em soluções para ambientes de missão crítica. “Estamos esperançosos de que haja grande demanda por edge computing e retrofits, pois teremos aumento substancial na velocidade das comunicações digitais, viabilizando grandes mudanças nos sistemas e serviços.”
Henrique Cassol, diretor de infraestrutura de TI do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre, que já passou pela experiência de retrofit e moving no próprio tribunal, destaca que cada planejamento é único, mas deve abranger etapas como inventário de ativos; mapeamento completo; gestão de riscos; simulação e preparação do ambiente de destino. A simulação precisa ser realista. “A transportadora especializada em TI deve transportar, com o mesmo tipo de caminhão e com pelo menos parte da equipe escalada para o moving, algum equipamento entre a origem e o destino.”
Ele divide as movimentações da infraestrutura nas estratégias “lift and shift” e “swing move”. A primeira consiste em fazer cópias de segurança, desligar os sistemas, transportá-los e religá-los no novo local (no modo big-bang, de uma vez só, ou em múltiplas etapas). Quando o tempo para essa operação for maior que o downtime aceito pelo usuário, a opção é o swing move, em que se instalam equipamentos temporários no destino, para prover serviços fundamentais durante o moving.
Método similar é usado em alguns retrofits, quando se deslocam máquinas para instalações provisórias para permitir as obras. Isso pode ser feito de uma vez só (big-bang) ou em etapas. Já a “reforma a quente” acontece no mesmo espaço em que a operação continua ativa.
Há várias estratégias para conduzir esses projetos, mas a chave é o planejamento, que representa 90% do trabalho, ressalta Costa, da Zeittec. O objetivo é detalhar os procedimentos e cercar ao máximo os riscos – o maior é a indisponibilidade, capaz de gerar danos financeiros e à imagem da empresa. “Mexer em um data center é como trocar a turbina do avião em pleno voo. É preciso analisar questões como transporte, seguro, equipe e backup das pessoas. Faz-se um briefing na véspera e, no dia do moving, todos sabem o que fazer.”
Adilson Lessio, chefe de ICT solutions & services da Tecnocomp, especializada em gestão de serviços de TI, concorda que movimentações e retrofits são sempre críticos e ainda destaca que nesses projetos a gestão de riscos deve ser tratada como disciplina intrínseca. Ele considera “importantíssimo” ter um mapa de relacionamento entre os equipamentos de TI potencialmente afetados, os sistemas que os usam e os processos de negócio suportados. “Os sistemas têm diferentes necessidades de disponibilidade. O mapa é fundamental para harmonizar a janela de indisponibilidade imposta pelo projeto com os requisitos do negócio.”
Entre os riscos do moving, Cassol, do TRF4, cita o downtime, perda ou vazamento de dados, danos e perdas de equipamentos e instabilidade dos sistemas. Se o ambiente tem bastante espaço e o sistema de alimentação elétrica e de climatização é confiável, um retrofit pode valer a pena.
Para o sócio e diretor técnico da Zeittec, a parte mais crítica do moving é a climatização, por variar conforme a carga do data center ao longo do dia, segundo a demanda de processamento e de condições climáticas adversas. “Imagine que o rack número 1 está muito quente, e o 32º teve uma variação para baixo na temperatura. É um item mais desafiador de manter estável.”
Já no retrofit é o sistema elétrico que merece maior atenção, diz ele. “Um ar-condicionado pode ser instalado sem precisar de downtime, mas como instalar um gerador sem desligar a eletricidade? É preciso pensar nas paradas do sistema elétrico.”
Dependendo do tamanho e da complexidade do data center, a movimentação pode levar, em média, um mês para levantamentos, documentação e planejamento, com o moving sendo realizado em um final de semana, estima Gonçalo, da Datacritical TI. Já as reformas demoram, em geral, quatro meses ao todo. Ele ressalta a importância do serviço de transporte: “fizemos um projeto em Lima, no Peru, e não encontramos profissionais qualificados. Chamamos os da transportadora no Brasil”.
As operações de moving ou retrofit resultam, em geral, em modernização da infraestrutura de facilities, atualização de recursos de segurança, economia com ambientes otimizados e melhoria na gestão. Costa, da Zeittec, diz que muitas vezes, ao fazer um pente fino no ambiente, é comum se deparar com um servidor tão antigo que ninguém mais sabe para que serve.
Para estender a vida útil e manter o data center em boa condição, ele recomenda ter uma documentação exaustiva dos procedimentos operacionais e rotinas consistentes de manutenção. Além de precisar menos de intervenções radicais, será mais fácil planejar mudanças ou reformas.
O projeto do TRF4
Em 2003, o TRF4 iniciou os primeiros processos eletrônicos. Na época, a troca de servidores de rack por chassis de blade e o começo da virtualização possibilitaram um retrofit. Mas, desde 2007, o TRF4 evoluiu para processos judiciais e administrativos inteiramente digitais. E, em 2018, o tribunal decidiu mudar seus sistemas para um data center construído em espaço totalmente novo. O moving, com apoio da Zeittec, foi feito em aproximadamente dois meses.
“O velho CPD não era mais adequado. Os sistemas estavam com seus dados armazenados e rodando em um ambiente decrépito. Construir um novo data center era o caminho”, lembra Cassol. Na questão energética, o novo data center tem sistemas de condicionamento de precisão e corredor frio confinado, mais econômicos. Ele foi construído com sistema de “sala segura modular” com padrão Tier 3, que usa paredes corta-fogo certificadas de acordo com a NBR 10636.