Blockchain na telecom dependerá do armazenamento
Paulo de Godoy, country manager da Pure Storage no Brasil
As tecnologias emergentes levantam uma questão importante para as empresas que estão à beira de mudanças: o que essa inovação significará para a infraestrutura de TI que possuímos hoje? Temos a base para sustentá-la? Em telecomunicações o blockchain provavelmente será um desses cenários, já que se estima que o mercado global de blockchain no setor arrecade US$ 80 bilhões até 2033, com crescimento de 74,8% de 2023 a 2033.
Com isso, as empresas que utilizam blockchain certamente enfrentarão novos desafios em um cenário já complexo: o gerenciamento de dados. Isso porque essa tecnologia cria imensas quantidades de dados imutáveis, e a forma como esses dados são armazenados é o que pode determinar o sucesso ou fracasso das aplicações baseados em blockchain.
Noções básicas: Dados dentro e fora da cadeia
Blockchains são registros digitais permanentes e não editáveis de informações, ou “livros-razão imutáveis”. Esses livros contábeis são distribuídos em uma coleção de nós descentralizados alimentados por computadores em todo o mundo, em vez de um local centralizado, como o servidor de um banco. E como os registros existem em múltiplos lugares, eles não pertencem a apenas uma entidade.
Em teoria, ninguém pode excluir ou alterar registros depois que eles estiverem na cadeia. E quando os dados não podem ser excluídos, eles se acumulam.
Blockchains, por design, não são criados para armazenar grandes quantidades de dados. Isso significa que quando uma transação é registrada em um blockchain, digamos, um registro de compra, esse evento é registrado nos nós. Isso é chamado de dados “na cadeia” (on-chain). Quaisquer outros dados relacionados a essa transação, como uma imagem de compra ou uma transação, são armazenados em outro lugar. Isso é chamado de dados “fora da cadeia” (off-chain).
Como os dados podem fluir por meio de blockchain?
Imagine que um blockchain esteja registrando uma remessa. Quando passa pela alfândega, é registrado com os metadados relacionados ao seu conteúdo, data, destino etc. Então, no contêiner durante o trânsito, os sensores IoT registram a temperatura e a umidade, fornecendo comprovação permanente no caso de haver um problema de qualidade no recebimento. O lado bom disso é que parte alguma “possui” os dados, então nenhum registro pode ser falsificado ou contestado. Os atrasos são imediatamente rastreáveis.
Os dados associados à remessa são registrados na rede, mas armazenados em um banco de dados fora da rede. Mas, como os dois estão conectados?
Blockchains por si só fazem grandes contratos inteligentes. Alguns podem até realizar alguns cálculos simples, mas geralmente carecem de eficiência e recursos avançados. Não podem acessar dados fora da cadeia por conta própria, por exemplo. Sem uma maneira de “conectá-los” a dados e aplicações do mundo real, é difícil aproveitar os benefícios do blockchain. Conectar blockchain a um único servidor, API ou banco de dados torna o processo questionável porque você está reintroduzindo a centralização.
Se blockchains são, por design, descentralizados, anônimos e seguros, a forma como os dados são armazenados e recuperados fora da cadeia torna-se um problema único, para o qual alguns protocolos são projetados especificamente para resolver.
Soluções de armazenamento de dados blockchain
Existem algumas soluções alternativas para o enigma do armazenamento de dados blockchain. A primeira é a rede em nuvem. Às vezes, um hash criptografado pode direcionar os usuários para o armazenamento fora da cadeia, onde os dados são registrados. A conexão entre os dois acontece por meio de uma rede em nuvem. Esta é uma tecnologia descentralizada de terceiros que conecta o livro caixa do blockchain ao mundo real e ao armazenamento de dados. Estes fornecem o tecido conjuntivo, enquanto permanecem descentralizados.
Mas não é qualquer tipo de armazenamento que permite isso, principalmente à medida que as aplicações de blockchain aumentam. Para manter a promessa de velocidade e eficiência do blockchain, o armazenamento deve ser rápido, incrivelmente escalonável e capaz de consolidar diversos tipos de dados. Os pipelines de dados podem enfrentar o desafio de permitir que blockchains consultem dados relacionais. Os pipelines vinculam e agregam dados entre fontes de dados em um ambiente descentralizado, fornecendo a paralelização necessária para tornar os dados rápidos e ágeis.
Blockchain pode substituir o banco de dados?
Sim e não. Ambos lidam com o armazenamento de dados, mas o fazem de maneira diferente. E onde o blockchain se destaca em imutabilidade, carece em eficiência. Muitos blockchains não podem existir sem redes e protocolos que os conectam ao armazenamento de banco de dados. Você pode pensar em um blockchain como um banco de dados de última geração, pois armazena dados, mas com algumas diferenças importantes:
Blockchains são distribuídos, não centralizados. Normalmente, um banco de dados existe em um único local, com um único administrador controlando o que é gravado nele. Um blockchain existe em muitos nós, cada um pertencente a um usuário diferente.
Blockchains são imutáveis. Depois que algo é armazenado no blockchain, ele não pode ser excluído ou alterado. É um sistema de registro que só pode ser adicionado, não editado ou excluído. Bancos de dados transacionais tradicionais são projetados para serem atualizados. Imediatamente, isso torna os blockchains ideais para alguns casos, mas não para todos.
Blockchains possuem muitos administradores, não apenas um. Isso elimina a necessidade de confiar em qualquer administrador ou pessoa no blockchain. O próprio blockchain é a prova de eficácia e defesa contra fraude ou desconfiança.
Blockchains não são eficientes para armazenar arquivos grandes. O armazenamento de dados “na cadeia” pode ser muito caro. Esta não é uma rota muito escalonável ou eficiente para mais do que dados principais do livro-razão e hashes relacionados. Os custos podem aumentar por terabyte na cadeia por transação, com taxas cada vez que alguém ler esses dados. A maioria dos SLAs não pode esperar minutos por megabyte, tornando o blockchain quase dependente de algum tipo de armazenamento fora da cadeia.
Blockchain é uma boa opção quando é preciso um sistema de registro envolto em total segurança, validade e rastreabilidade. Mas para armazenamento de arquivos maiores e mais metadados associados, os bancos de dados ainda serão críticos.
O primeiro passo para o sucesso é o storage
O blockchain ainda está amadurecendo – boa notícia para as empresas, mas desafiador quando se pensa em storage. Dados não estruturados fora da cadeia vão se acumular exponencialmente, e melhores plataformas de armazenamento de dados devem ser incorporadas a essas novas estratégias. Também será essencial se adequar às práticas modificadas de gerenciamento de dados, permissões de acesso, modelos de dados e de storage, para que não canibalizem o armazenamento de aplicações existentes.
Para que as aplicações blockchain atendam aos SLAs, o armazenamento de dados fora da cadeia precisa ser poderoso, elástico e escalonável. Nesse caso, o armazenamento rápido unificado de arquivos e objetos (UFFO) tem um papel importante para o gerenciamento de dados em um sistema distribuído. As melhores apostas das empresas ao entrarem neste novo território é aproveitar e conectar-se a tecnologias existentes e comprovadas. Afinal, para que o blockchain seja disruptivo no mundo real, é preciso primeiro resolver as complexidades com o armazenamento dos dados.
Paulo de Godoy tem 20 anos de experiência no mercado de TI, com foco em vendas de soluções para empresas de armazenamento, segurança, integração e interconectividade. O executivo ocupou cargos de liderança em empresas de destaque no setor tecnológico, como Hitachi, IBM e NetApp. Paulo iniciou as atividades na Pure Storage como gerente de vendas em 2014, e em 2016 assumiu a gerência geral da companhia no Brasil.