Brasil pode aumentar o PIB com inteligência artificial
O crescimento do PIB – Produto Interno Bruto no Brasil poderia avançar até 4,1%, já em 2020, com a disseminação da IA – inteligência artificial pelas várias verticais da economia e regiões do país.
Rita D’Andrea, diretora da Mundo Livre Digital
A inteligência artificial (IA) é uma nova força produtiva que realiza tanto trabalhos físicos como abstratos e tem, como grande diferencial, a capacidade de aprender por si mesma a partir de dados coletados em campo. O quociente de inteligência (QI) da IA irá evoluir ainda mais no futuro. A pesquisa Intelligence Quotient and Intelligence Grade of Artificial Intelligence, realizada em 2018 por estudiosos da Chinese Academy of Sciences de Pequim, na China, em parceria com o College of Information Science and Technology University, de Nebraska, EUA, mostrou que, hoje, entre as várias plataformas de inteligência artificial do mercado, destaca-se o Google, com 47,28 de QI. Uma criança de seis anos tem, em média, um QI de 55,50. Mesmo sem atingir níveis geniais de QI – que começam em 140 –, a IA muda a face do mundo.
Um único critério – a capacidade de explorar a IA para fazer a economia crescer – reclassifica, agora, países e povos. Dados da Fortune Business Insights apontam que esse mercado chegará a US$ 203 bilhões até 2025. A China, um dos líderes nesta tendência, está se preparando para ter ganhos de US$ 150 bilhões de dólares com IA em 2030 (informação da Analytics Insight).
Caminhamos de forma acelerada em direção à maturidade tecnológica: microprocessadores, Internet, sensores IoT, smartphones, blockchain, criptografia e data centers são elementos que colaboram entre si. Nesse contexto, a AI é a ponta do iceberg, o grande norte que utiliza todo esse aparato para transformar em tarefa automatizada o trabalho que, antes, dependia da intervenção humana. Isso está acontecendo aqui e agora.
Um dos resultados da ação da IA é o encolhimento e, em alguns casos, o desaparecimento de algumas categorias profissionais. É bom lembrar, porém, que é difícil conseguir automatizar completamente uma tarefa – se uma máquina ou um software fizerem 90% do trabalho humano, ainda será preciso ter alguém para os outros 10% (dados do Boston Consulting Group, BCG). O melhor jeito de usar IA é complementando o trabalho das pessoas. É o que comprova uma nova pesquisa do Gartner sobre o tema: segundo relatório de 2018, até 2023 vai aumentar em 300% a empregabilidade de profissionais com algum tipo de deficiência. Isso será possível por causa da IA.
Uma pesquisa da Microsoft realizada em 2019, por outro lado, aponta os tipos de carreira que não serão afetadas pela AI: enfermagem, assistência social, professores, terapeutas de todas as linhas. Há, também, profissões que estão surgindo por causa da IA: analista de cidade inteligente, projetista de interface entre tecnologias mais antigas e a IA, treinador de sistemas autônomos, economista de automação. Todo esse contexto colabora para que entendamos os prós e os contras da IA.
A realidade, porém, é que simplesmente não há como ficar à margem dessa onda.
Levantamento realizado, em 2018, pelo BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento em toda a América Latina tenta estimar os ganhos que a IA pode trazer para a economia da nossa região. A América Latina como um todo poderia, nos próximos anos, ampliar seu PIB de 3% para 4% ao ano. O crescimento do PIB do Brasil em 2020, por exemplo, está sendo estimado em 2% (dado do FMI divulgado em novembro de 2019).
De acordo com o BID, esse índice poderia avançar até 4,1% com a disseminação da IA pelas várias verticais da economia e regiões do Brasil. Vale destacar que mais da metade dos ganhos seria proporcionada pelo aumento da produtividade das empresas – um dos pontos mais vulneráveis da economia brasileira.
O BID alerta, ainda, para o fato de que a automação em vários níveis trazida pela IA pode provocar, na nossa região, entre 10% e 65% de perda de posições na força de trabalho. Uma pesquisa sobre o mesmo tema feita pela FGV em maio de 2019 indica que, nos próximos 15 anos, a IA pode contribuir para que o desemprego no Brasil aumente em 4%. Qualquer que seja a estimativa correta, fica claro o impacto social da disseminação da IA.
Só há uma forma de aderir à IA sem aprofundar os abismos sociais e econômicos da sociedade brasileira: a educação.
Esta é uma conclusão compartilhada por vários mercados globais. Apenas em 2018, foram investidos em todo o mundo US$ 1 bilhão em IA para a educação (dado da consultoria MarketPlace-K12). Esse valor deve chegar a US$ 6 bilhões até 2025.
Há exemplos de países que estão ativamente transformando a sua educação para garantir o futuro da sua população. A China, por exemplo, lançou em 2017 um programa de incentivo ao desenvolvimento de novas gerações de IA. A meta da China é se tornar líder mundial em IA até 2030. Nessa jornada, o governo chinês acena com isenções em impostos para empresas que desenvolvem soluções de IA para escolas (níveis fundamental e médio). Uma das demandas mais prementes é complementar, com soluções de IA, a falta de professores para atender toda a população chinesa.
A Índia, por outro lado, já conta com dezenas de startups focadas em IA para o setor educacional. Têm produzido bons resultados as soluções que identificam os conteúdos que o aluno não conseguiu aprender em sala de aula e, a partir daí, desenham programas automatizadas de ensino sob medida para a demanda desta criança.
A meta é usar a inteligência artificial aplicada à educação para formar pessoas preparadas para o novo mundo que a tecnologia está criando.
China e Índia têm pontos em comum com o Brasil: uma população imensa, extensos territórios com profundas diferenças sociais e econômicas e falta de professores capacitados. Para que nossa economia cresça em 2020 e nas décadas que virão, é fundamental que o Brasil também realize as ações que irão formar profissionais com inteligência real sobre a inteligência artificial. Trata-se de uma tarefa urgente. Estamos vivendo um tsunami de inovações em que ou o país se transforma, ou ficará para trás.