Cinco coisas que (ainda) não contaram sobre o Chat GPT
Prof.ª e Dra. Alessandra Montini
A não ser que você estivesse em outro planeta neste início de 2023, certamente já leu ou ouviu falar sobre o Chat GPT, a plataforma criada pela OpenAI baseada em redes neurais e machine learning. A ferramenta rapidamente chamou a atenção pela capacidade de combinar informações e entregar diversos conteúdos com alto nível de detalhes e compreensão, como se fosse uma conversa realmente entre homem e máquina. Como era de se esperar, rendeu acalorados debates entre apocalípticos e integrados, como diria Umberto Eco.
Mas estamos falando de algo que foi criado em novembro de 2022 e, portanto, nem completou seis meses de vida. Os benefícios – e os riscos – ainda são incertos para as pessoas e empresas. Ou seja, é necessário ter calma e atenção para não cair em armadilhas e tampouco dedicar mais tempo e dinheiro do que o necessário. Para saber mais, confira uma lista com cinco coisas que (ainda) não te contaram sobre o Chat GPT:
1 – Não vai roubar seu emprego, mas vai mudá-lo
Uma das principais preocupações neste início de operação do Chat GPT é com o impacto no mercado de trabalho. Afinal, a plataforma consegue entregar conteúdos, traduções, questões com riqueza de detalhes em pouquíssimo tempo. Bem diferente do tempo que um ser humano levaria para produzir algo semelhante. Não foram poucos os que preconizaram o “fim” de profissões ligadas ao marketing digital, como redatores, analistas de SEO, etc.
A questão é que bastaram algumas semanas de popularidade da ferramenta para ficar claro que não vai roubar o emprego de ninguém. Há problemas na forma como esses conteúdos são “criados” pela inteligência artificial e nada supera a criatividade humana. O que vai acontecer é uma mudança no escopo dessas profissões. Habilidades como criatividade e capacidade analítica estarão ainda mais em alta.
2 – O chatbot não cria nada, só reproduz o que já existe
Abelardo Barbosa, o popular Chacrinha, dizia que “na televisão nada se cria, tudo se copia”. O mesmo vale para a plataforma Chat GPT. Ainda que seja espantoso ver a capacidade de produzir conteúdos em pouco tempo, o fato é que a solução não cria nada, no sentido de fazer algo novo. Tudo o que ela entrega já está disponível em algum lugar da web.
Isso porque a plataforma de Inteligência Artificial utiliza redes neurais e machine learning para acessar essa imensa base de dados e, em cima dos “pedidos” feitos, cruzar as informações para entregar o conteúdo esperado. Isso é útil de várias maneiras, realmente, mas quando a empresa quiser algo original e novo, precisa recorrer à figura humana.
3 – Plataforma sempre vai apresentar limitações
Por conta disso, não importa quão bom seja o processamento de dados da inteligência artificial e sua capacidade de cruzar os mais diversos dados disponíveis, sempre vai apresentar limitações e eventuais problemas na confecção dos conteúdos. Afinal, sempre há informações novas disponibilizadas digitalmente e, precisamos reconhecer, nem tudo é verdadeiro e legítimo na internet.
Em tempos de fake news e desinformação, há sempre o risco de artigos com discurso de ódio, mentiras e ofensas serem considerados verdadeiros pela plataforma por conta de falhas em algoritmos. Ou ainda a dificuldade de indexar conteúdo sempre novo que é postado diariamente ao redor do mundo. O Chat GPT mesmo em seu início só conseguia trabalhar com dados de até 2021 – ou seja, ignoraria a morte de Pelé e da Rainha Elizabeth 2º, por exemplo.
4 – Vai ser uma das melhores estratégias de customer success
Sim, há problemas que precisam ser resolvidos e o Chat GPT não deve ser encarado como esse ser todo-poderoso. Entretanto, isso não significa que não pode ser útil para as empresas. Pelo contrário, com inteligência e planejamento, é possível tirar vários benefícios, como automação de processos e otimização de operações.
Contudo, é na área de Customer Success que vejo o Chat GPT assumindo papel de destaque nas estratégias comerciais. Com o apoio da inteligência artificial, é possível impulsionar ainda mais o relacionamento entre a marca e cliente. A empresa pode otimizar o atendimento com respostas às dúvidas mais frequentes, criar conteúdos personalizados para cada perfil e conseguir atender as demandas dos usuários onde, como e quando eles quiserem.
5 – Vai ser indispensável para qualquer negócio, grande ou pequeno
Saiba, portanto, que o Chat GPT já se revela como uma ferramenta essencial para empresas de diferentes portes e segmentos. O número de usuários cadastrados não deixa mentir: foram mais de 100 milhões em apenas dois meses, tornando-se a aplicação com maior crescimento da história no mundo da tecnologia. O TikTok, por exemplo, levou nove meses para atingir essa marca. O Instagram, dois anos!
Apesar de todos os problemas listados aqui, as vantagens compensam – e muito. A transformação digital acelerada nos últimos três anos trouxe novos desafios para as empresas, exigindo rápida adaptação para não sucumbir no mercado. É preciso ficar atento às novidades e, mais do que isso, identificar rapidamente o que elas podem oferecer para o negócio.
No caso do Chat GPT, mesmo em pouco tempo, já é evidente que trata-se de uma tendência que veio para ficar. Assim, mais do que ficar debatendo seus efeitos, o melhor caminho é rapidamente encontrar a melhor forma de trabalhá-lo no dia a dia corporativo. Até porque o futuro não espera ninguém.
Diretora do LABDATA-FIA, apaixonada por dados e pela arte de lecionar, Alessandra Montini tem muito orgulho de ter criado na FIA cinco laboratórios para as aulas de Big Data e inteligência Artificial. Possui mais de 20 anos de trajetória nas áreas de Data Mining, Big Data, Inteligência Artificial e Analytics.
Cientista de dados com carreira realizada na Universidade de São Paulo, Alessandra é graduada e mestra em estatística aplicada pelo IME-USP e doutora pela FEA-USP. Com muita dedicação, a profissional chegou ao cargo de professora e pesquisadora na FEA-USP, e já ganhou mais de 30 prêmios de excelência acadêmica pela FEA-USP e mais de 30 prêmios de excelência acadêmica como professora dos cursos de MBA da FIA. Orienta alunos de mestrado e de doutorado na FEA-USP. Membro do Conselho Curador da FIA, é coordenadora de grupos de pesquisa no CNPq, parecerista da FAPESP e colunista de grandes portais de tecnologia.