Cinco formas de gerenciar as consequências da transformação digital acelerada pela pandemia
Paulo de Godoy, country manager da Pure Storage no Brasil
Em alguns aspectos pode ser difícil imaginar como as coisas eram antes da pandemia, quando tudo parecia menos tenso e antes que o nosso mundo fosse completamente virado de cabeça para baixo. Mas a verdade é que mesmo antes da Covid-19 o mundo corporativo já estava passando por uma fase de grandes mudanças.
A intensa pressão nas empresas nos últimos anos estava sobre uma questão de escolha: transformar-se digitalmente ou perder para a concorrência. E independentemente de a adoção de novas tecnologias estar voltada para os hábitos de compra do consumidor, os benefícios da nuvem ou de softwares inovadores, a maioria dessas mudanças aconteceu como reações às expectativas imediatistas de uma sociedade que quer tudo, e quer agora. Dessa forma, atender às exigências do cliente virou a missão principal das equipes de TI.
Mas o que fica claro neste momento é que a pandemia acelerou e ampliou as possibilidades dessas transformações. No final de 2019, a IDC previu que mais da metade da economia global se tornaria digital em 2023. Alguns meses depois dessa publicação, os passos lentos rumo à transformação precisaram virar uma verdadeira corrida maluca. Da noite para o dia, as empresas tiveram que lidar com desafios inéditos que impactavam diretamente a rotina e a segurança das pessoas, como atender às demandas por transações financeiras sem contato, recursos para telemedicina e reconfiguração de ofertas presenciais para se adaptar ao comércio eletrônico. Nesse ponto, a frase do CEO da Microsoft, Satya Nadella, é a explicação mais clara do cenário: “as empresas foram forçadas a implementar dois anos de transformação digital em apenas dois meses”.
Mas então como essa rápida aceleração impactou o departamento de TI? Além disso, pensando à frente, como as empresas vão gerenciar os riscos associados a um desenvolvimento tecnológico tão repentino?
Os riscos dessa “dívida tecnológica”
Embora o imediatismo causado pela pandemia tenha provado que os projetos de transformação digital podem acontecer muito mais rápido do que as empresas imaginavam, a TI acabou pressionada a apoiar os negócios como tarefa principal. Dessa forma, em muitos casos os profissionais não encontraram tempo hábil para se dedicar à própria TI.
Agora, é fundamental pensar no gerenciamento das consequências da tecnologia, e fazer um balanço de todo o trabalho de TI que é preciso realizar no futuro. Adiar essa discussão pode reduzir as chances de competitividade e, em vez de se dedicar aos projetos de inovação, as empresas vão acabar gastando esse tempo tentando superar os desafios na arquitetura, incluindo modernizar sistemas, simplificar aplicativos e substituir bancos de dados legados.
Inclusive, uma pesquisa recente da McKinsey já traz uma prévia que comprova isso, com relatos de CIOs que afirmam que atualmente 10% a 20% do orçamento de TI dedicado aos novos produtos é desviado para resolver problemas relacionados a essas que podemos chamar de “dívidas tecnológicas”.
Ou seja, mesmo com todas as mudanças, os desafios que normalmente travam os projetos de transformação digital não desapareceram. Os CIOs ainda precisam lidar com a infraestrutura antiga que não foi projetada para a era moderna digital, tornando muito mais difícil consolidar, migrar, dimensionar ou fornecer acesso aos dados, e correndo o risco de interrupções operacionais.
Esses desafios são amplificados pela pressão e incerteza geradas pela pandemia, o que significa que os departamentos de TI acabam minimizando aspectos como governança, e isso agrava as consequências tecnológicas no ciclo de inovação em um futuro próximo.
Como sair desse looping de barreiras tecnológicas?
Agora que o choque inicial da pandemia passou, as empresas precisam mudar a abordagem de curto prazo e construir uma estratégia que priorize a transformação digital e administre essas mudanças de forma mais sustentável. Existem cinco formas de fazer isso:
- Alinhar as estratégias de negócios e de TI. Esclarecer tanto a estratégia de negócios quanto quais os recursos tecnológicos necessários para a empresa. Essa reflexão é fundamental para alinhar o planejamento geral e alocar o orçamento necessário para que a TI possa ao mesmo tempo avançar e continuar apoiando os negócios.
- Priorizar a automação e investir em inovação. Automatizar o máximo de processos possível pode liberar tempo e recursos para que as empresas criem uma cultura de inovação concentrada em planos de longo prazo para impulsionar o crescimento da receita.
- Optar por modelos de consumo flexíveis. As empresas precisam gerenciar custos ao longo do tempo sem um contrato de longo prazo, especialmente em períodos de incertezas, quando fica difícil prever requisitos contínuos. Com os modelos de consumo sob demanda, ou seja, quando se paga apenas pelo que usa, as empresas com volume de trabalho sazonal evitam o desperdício, o que contribui para a economia da empresa.
- Mantenha os funcionários e ajude suas equipes a evoluir junto com o mercado. 2020 foi um ano difícil e a adoção repentina do trabalho remoto em grande escala afetou o bem-estar mental e físico das pessoas. As empresas precisam garantir apoio e conhecimento necessários para que os funcionários acompanhem a evolução do mundo corporativo em novos modelos de trabalho e possam continuar contribuindo para a evolução dos negócios.
- Escolha as pessoas certas para cada objetivo. Concentrar times em determinadas tarefas para não correr o risco de atrasar um projeto, por exemplo, pode tirar o equilíbrio dos negócios e reduzir a capacidade de atender à demanda geral dos clientes. Garantir que as pessoas certas estão concentrando suas habilidades no lugar certo é uma ferramenta potencial para a redução de consequências da rápida transformação tecnológica.
Embora a pandemia tenha ensinado às empresas que mudanças rápidas são de fato possíveis, é preciso ter a consciência de que a tecnologia por si só não é capaz de resolver todos esses problemas que enfrentamos. Em paralelo, é fundamental compreender que a cultura e os processos de uma empresa devem evoluir com o tempo ou até à frente do tempo – a tal visão de futuro. Dessa forma, o grande desafio para 2021 é encontrar o equilíbrio entre agir rapidamente, mas fazê-lo de forma sustentável e inteligente para não ter que lidar com as dificuldades tecnológicas no médio e longo prazos.
Paulo de Godoy tem 20 anos de experiência no mercado de TI, com foco em vendas de soluções para empresas de armazenamento, segurança, integração e interconectividade. O executivo ocupou cargos de liderança em empresas de destaque no setor tecnológico, como Hitachi, IBM e NetApp. Paulo iniciou as atividades na Pure Storage como gerente de vendas em 2014, e em 2016 assumiu a gerência geral da companhia no Brasil.