Como o big data tem mudado o mundo
Prof.ª e Dra. Alessandra Montini
Foi na virada dos anos 2000 que o termo big data começou a surgir. Referia-se, claro, ao perceptível aumento da quantidade de informações trafegadas naquele início da Internet comercial. Mas nem mesmo os profissionais mais utópicos (e distópicos) poderiam imaginar o que se tornaria o mundo duas décadas depois. Hoje, a capacidade de analisar e processar dados digitais ditam as normas do trabalho, lazer e da própria vida em geral. O big data se tornou, assim, a expressão de seu próprio tempo.
A análise de informações sempre foi um recurso essencial ao longo da história da humanidade. A própria trajetória das sociedades só foi possível a partir de análises de informações de diversos fenômenos que levavam a novas descobertas. Foi assim em todos os setores e a as revoluções industriais a partir do século 17 são apenas os exemplos cabais disso. Mas como manter essa evolução se o volume de informações também cresce rápido demais?
É aqui que entra o conceito de big data. Na teoria, são técnicas capazes de processar essas grandes quantidades em prol de novos resultados e insights. Assim, conseguem processar em tempo recorde diferentes tipos de informações, estruturadas ou não, de diversas fontes. Na prática, significa que toda interação social mediada por alguma ferramenta tecnológica pode ter a capacidade de se transformar em dados – e consequentemente eles podem servir de indicadores para diferentes situações.
Não é de se espantar, portanto, que os dados realmente sejam o novo petróleo na sociedade global. Se o combustível fóssil foi a mola propulsora da economia ao longo dos séculos 19 e 20, agora é a vez do digital. Em um cenário onde metaverso, criptomoedas, tokens e cidades inteligentes integram a pauta de discussões, saber trabalhar com as informações proporcionadas pelos canais torna-se requisito obrigatório para empresas, governos e sociedade civil.
Big data reflete busca por conhecimento
As grandes mudanças da nossa história foram decorrentes da capacidade inventiva do ser humano. Entretanto, grandes invenções não surgem do nada, mas são resultados da capacidade de observar um problema, desenvolver técnicas a partir do conhecimento que possui, aprender com tentativas e aplicar em seu dia a dia. Em suma: de saber interpretar as informações que possui e estão a seu alcance.
Assim, a cada nova ideia, ferramenta ou técnica que surgia novos conhecimentos eram incorporados pelas pessoas, que inovavam mais e mais. Foi assim que saímos da locomotiva a vapor para o transporte aéreo em um período de dois séculos. A questão é que para cada benefício que estas transformações oferecem, novas informações surgem – e o volume não para de crescer desde então.
Passa a ser impossível para um ser humano conseguir processar todos os dados disponíveis para seguir inventando e moldando a sociedade em sua volta. Estima-se que a quantidade de informações que um imperador romano lidava para tomar decisões em toda a sua vida é a mesma quantidade que encaramos diariamente.
Ou seja, o big data era uma necessidade estratégica e até certo ponto paradoxal: conforme o mundo avançou em conhecimento, precisou desenvolver técnicas para não correr o risco de se engasgar diante da infinidade de informações disponíveis. Somente com elas seria possível manter o cenário de transformação digital que se acelerou ao longo do século 20.
Big data está, literalmente, em tudo
A possibilidade de processar um volume gigantesco de dados e, a partir daí, realizar cruzamentos entre as diferentes informações, projetar tendências e demandas e extrair insights sobre os mais variados assuntos realmente é tentador. Quantas decisões não tomávamos no calor do momento para nos arrepender depois, quando tínhamos mais conhecimento sobre o assunto? Pois é! O big data nos deu essa possibilidade.
Dessa forma, há um ganho de eficiência gigantesco uma vez que há mais informações para embasar qualquer escolha que devemos fazer – desde a mais simples, como os cliques dados em uma página, até as complexas estratégias de negócio. Com as ferramentas certas, é possível rapidamente ter os melhores insights em mãos.
Evidentemente, o ambiente corporativo foi o primeiro a se beneficiar desse conceito. Hoje, é inimaginável encontrar qualquer empresa que não tenha alguma solução para processar grandes volumes de dados. Seja para automação de campanhas de marketing, gestão financeira, área comercial ou até para o planejamento de recursos humanos, o big data fornece a matéria-prima necessária para os profissionais.
Mas outros setores também souberam aproveitar. A digitalização do poder público que observamos no Brasil nos últimos anos só é possível com essas ferramentas. Hospitais e consultórios também passaram a utilizar os dados de seus pacientes para humanizar – e melhorar – o atendimento. Ah, e claro, tem as redes sociais, que servem como grande fonte de informações e de experiência personalizada, fornecendo os conteúdos que mais nos interessam.
Caminho sem volta para todos
Apesar de presente em nossas vidas, a adoção do big data não é tão fácil e simples assim. A diferença de acesso à Internet e até mesmo as questões de desigualdade presentes no Brasil são impeditivos para a adoção em massa em diferentes setores e segmentos. Enquanto grandes corporações têm mais facilidade em suas jornadas de transformação digital, pequenos negócios ainda sofrem para compreender a importância da análise de dados em suas rotinas.
Mesmo assim, é um caminho sem volta para todos. Ou nos acostumamos com os grandes volumes de dados em nossas vidas, ou simplesmente não conseguiremos viver plenamente. Sim, viver. Porque no fim o que a análise de dados permite é justamente a possibilidade de decidirmos e pensarmos aquilo que é mais importante para nós mesmos.
Diretora do LABDATA-FIA, apaixonada por dados e pela arte de lecionar, Alessandra Montini tem muito orgulho de ter criado na FIA cinco laboratórios para as aulas de Big Data e inteligência Artificial. Possui mais de 20 anos de trajetória nas áreas de Data Mining, Big Data, Inteligência Artificial e Analytics.
Cientista de dados com carreira realizada na Universidade de São Paulo, Alessandra é graduada e mestra em estatística aplicada pelo IME-USP e doutora pela FEA-USP. Com muita dedicação, a profissional chegou ao cargo de professora e pesquisadora na FEA-USP, e já ganhou mais de 30 prêmios de excelência acadêmica pela FEA-USP e mais de 30 prêmios de excelência acadêmica como professora dos cursos de MBA da FIA. Orienta alunos de mestrado e de doutorado na FEA-USP. Membro do Conselho Curador da FIA, é coordenadora de grupos de pesquisa no CNPq, parecerista da FAPESP e colunista de grandes portais de tecnologia.