Formato modular une escalabilidade e eficiência em data center
Os data centers modulares oferecem uma série de vantagens, incluindo menos tempo para instalação, mais velocidade para o início da operação, escalabilidade e controle unificado.
Vanderlei Rigatieri, fundador e CEO da WDC Networks
Recentemente, li no site da Abranet – Associação Brasileira de Internet a notícia de que “IA puxa aportes em data centers para R$ 280 bilhões” e me chamou atenção para o fato de quanto estamos sendo avisados sobre os investimentos em infraestrutura de TI que devem ser realizados hoje para dar suporte à demanda de amanhã. O texto em questão é de 12 de agosto de 2024 e informa que o Dell’Oro Group revisou para cima o crescimento do mercado de infraestrutura física de data center entre os anos de 2023 e 2028, em um ajuste 13% que representa mais de US$ 50 bilhões.
Este é um cenário otimista e muito diferente daquele que a cadeia produtiva da Internet banda larga enfrentou em 2020, quando a pandemia empurrou o mundo inteiro para o home school/office e do dia para noite nos vimos correndo contra o tempo para todo o ecossistema de telecom entregar uma internet de qualidade, com menor latência, melhores equipamentos, segurança e velocidade. Desta vez, o ISP – provedor de serviço de Internet está sendo avisado que precisará investir em data center mais modernos e eficientes, entre outros itens em sua infraestrutura, para atender um mercado que já demanda por soluções e só tende a crescer.
O formato de data center modular pode ser uma boa alternativa para atender esse aquecimento de mercado, considerando que esse tipo de solução oferece uma série de vantagens que devem ser consideradas nos projetos de infraestrutura de TI, como menos tempo para instalação, mais velocidade para o início da operação, escalabilidade e controle unificado. Ao contrário do data center tradicional, que é construído in loco a partir de um projeto personalizado para atender às necessidades específicas da empresa, o data center modular é composto por unidades autônomas, pré-configuradas na fábrica (conforme as necessidades do projeto, claro) e depois montadas no local. Há menos necessidade de trabalho manual envolvido na instalação de cada sistema que compõe a solução: rede, refrigeração, energia, segurança etc.
Um módulo é constituído por todos os componentes essenciais (servidores, racks, sistemas de energia, refrigeração e conectividade de rede) e pode atuar sozinho, como um pequeno data center, ou compor unidades maiores de processamento, incluindo aí computação de borda para atender demandas com inteligência artificial, IoT – Internet das coisas e smart cities. A evolução das aplicações conectadas vai exigir agilidade no processamento de grandes volumes de informações. Vale ressaltar que nos sistemas de segurança eletrônica, por exemplo, um segundo economizado na transmissão de uma imagem pode impedir um incidente. Nesse cenário, uma forma de otimizar o trânsito de dados é optar pelo edge computing, que permite encurtar o caminho na transmissão de dados até o dispositivo, mantendo a informação na borda de forma descentralizada, e os data centers modulares entram para desempenhar um papel fundamental nesse ecossistema de conectividade.
Demandas diversificadas
A consultoria IDG – International Data Group estima que os ambientes edge devem absorver mais de US$ 4 bilhões até 2025 no Brasil, entre hardware, software e serviços. Apesar do avanço das tecnologias na borda ser puxado por verticais como óleo e gás, manufatura e mineração, também cresce a demanda de empresas que precisam armazenar dados de biometria, diante das medidas de adequação à LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, e de serviços em saúde. De acordo com levantamento do CGI.br – Comitê Gestor da Internet no Brasil, o total de empresas com este tipo de arquivos foi de 24% para 30% apenas nos dois primeiros anos de vigor das sanções legais da LGPD (2021-2023).
A operação de bancos de dados é cada vez mais necessária e tende a ser demandada por empreendimentos que não possuem a tecnologia da informação como sua atividade-fim, deixando espaço para terceirização dessas equipes ou contratar serviços sob demanda (as a service). Nesse ponto, assim como no início da expansão da internet banda larga no Brasil, o provedor regional pode ganhar espaço no mercado por estar próximo ao cliente final. Da mesma forma como construiu verdadeiras estradas de fibra óptica e conectou o país, o ISP pode oferecer a empreendimentos de pequeno e médio porte o serviço de colocation e backup de banco de dados com a estrutura e praticidade próprias de um data center modular.
Há sistemas de módulos no mercado que tornam possível reduzir o tempo de implantação de um data center de dois anos para apenas seis meses, com implantação a custos mais baixos e expansão escalável de forma mais simples, econômica e com maior eficiência de serviço. São equipamentos com gestão integrada e automatizada com base em IA, que verifica refrigeração, uso de energia, dados e recursos de operação e manutenção (O&M) em tempo real de uma sala de controle que pode estar a quilômetros de distância.
São custos com hardware e software que, em um data center tradicional, representam quase 62% do CAPEX no investimento, de acordo com estudo “Estratégia para a implementação de política pública para atração de Data Centers”, produzido em Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) no final de 2023. Dados são essenciais porque mostram o espaço para redirecionamento de forças que o provedor pode ganhar ao aderir a modelos modulares, que permitem rápida implantação e expansão.
E a demanda também está sendo reconhecida por aqueles que detém o poder de investimento. O BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social anunciou, em 11 de agosto, uma linha de crédito específica para investimento em data centers utilizando recursos do Fust – Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações. Serão R$ 2 bilhões com o intuito de “aumenta a soberania da gestão de dados” no país, empregando jovens e profissionais especializados, tendo em vista que até 2030, a estimativa é que o volume de dados alcance 600 trilhões de gigabytes no mundo, exigindo cada vez mais infraestrutura com essa finalidade.
Planejamento e integração
Todos gostamos de um produto ou serviço sob medida, pagamos até mais caro por isso. A questão data center tradicional x data center modular segue esta mesma premissa. Enquanto as facilidades de escalabilidade e rapidez de instalação do formato modular já foram apresentadas, a ideia de um projeto desenhado e planejado de acordo com a especificidade do provedor, mesmo que os custos e o tempo de implementação sejam maiores, acaba transmitindo maior segurança a alguns ISPs. Também há uma dúvida sobre ser possível integrar módulos a sistemas legados, ou o receio da dependência tecnológica a uma marca específica para expansão do data center.
A estas preocupações – corretas e sempre na mente do empreendedor – minha recomendação para tomada de decisão é a mesma: é preciso pesquisar e avaliar os riscos, comparar cenários e aplicações de cada tecnologia escolhida, estudar o mercado (clientes, fornecedores, competidores), e certificar-se quais são seus objetivos e os caminhos a curto, médio e longo prazo para atingi-los. A tecnologia evolui para nos dar mais possibilidades e melhores soluções. Desde que entramos na área de telecomunicações, há mais de 20 anos, nos deparamos com esses mesmos questionamentos, mas uma coisa, porém, nunca mudou: aqueles que estão atentos aos movimentos de mercado e abertos às inovações conseguem surfar “na onda das tendências” por mais tempo e aproveitar as oportunidades que o mercado oferece.