Comportamento versus sucesso profissional
Edgar Amorim, analista comportamental e coach
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Segundo Peter Drucker, considerado o pai da administração moderna, as pessoas são contratadas pelas suas competências técnicas, mas são demitidas por seus comportamentos – ou falta de competências comportamentais e de relacionamentos interpessoais (soft skills).
Na edição anterior, mencionei que o sucesso profissional depende apenas 15% de competências técnicas (hard skills). Porém, a maioria das atenções e investimentos é direcionada para essas competências – enquanto os 85% ligados ao comportamento e relacionamento interpessoal são praticamente esquecidos. Isso se deve ao fato de não ser facilmente perceptível o peso e a influência do comportamento e o relacionamento profissional.
A Revista Você RH, de dezembro último, traz a matéria de capa “Procuram-se talentos digitais”, onde é mencionado que as aptidões interpessoais têm sido priorizadas até em empresas tradicionais de tecnologia. Um exemplo é a Adobe. Com 15000 funcionários em todo o mundo, há um ano a empresa determinou que as contratações priorizassem o comportamento, ante a formação e o conhecimento técnico.
Será que existe uma explicação para as diferenças de comportamento? Claro que sim. Um estilo comportamental é a forma natural de uma pessoa agir e uma resposta automática para uma certa situação. A teoria DISC mostra que existem quatro estilos comportamentais e cada um deles é uma combinação de dois dos conjuntos de características mencionadas nos itens abaixo.
Vamos fazer um teste rápido: aponte dois itens abaixo com alguma característica que você se identifique:
1 – Ativo, rápido, assertivo, dinâmico, extrovertido.
2 – Pensativo, ritmo moderado, calmo, metódico, cauteloso.
3 – Receptivo, focado nas pessoas, empático, aceitador, agradável
4 – Questionador, centrado na lógica, objetivo, cético, gosta de desafios.
Se a escolha foi 1 e 4, significa que você tem o estilo “Dominância” ou “D”. É um indivíduo é direto, orientado a resultados, firme, obstinado, vigoroso e adora resolver problemas e mudanças.
Caso sua escolha tenha sido 1 e 3, isso indica que você tem o estilo “Influência” ou “I”. São pessoas muito extrovertidas, entusiastas, otimistas, espírito elevado, que agem baseadas em relacionamento, falam muito e também adoram mudanças.
Quem escolheu os itens 2 e 3 tem o estilo “Estabilidade” ou “S”. É um indivíduo paciente, calmo, tranquilo, cuidadoso, humilde e que não gosta de mudanças bruscas.
Finalmente, a escolha dos itens 2 e 4 indica uma pessoa com estilo “Cautela” ou “C”. É analítico, reservado, preciso, privado, sistemático e que também não gosta de mudanças bruscas.
A teoria DISC foi desenvolvida a partir de pesquisas do psicólogo norte-americano William Moulton Marston e apresentada em seu livro “As emoções das pessoas normais”, lançado em 1928. Segundo essa teoria, nós somos uma mistura dos quatro estilos, com destaque para um ou dois deles. Não existe um estilo melhor ou pior, todos têm os seus pontos fortes e fracos e podem ser mais ou menos eficazes. Também não devemos usar o DISC como uma desculpa para evitar tarefas ou justificar comportamento inadequado. A partir da teoria de Marston, outros psicólogos desenvolveram testes que determinam qual é o estilo comportamental natural das pessoas e apresentam uma série de informações muito importantes para o desenvolvimento pessoal: pontos fortes, motivações, medos, reações em conflitos, etc.
O DISC contribui muito para adequar uma pessoa a uma atividade profissional. Por exemplo, as pessoas “D” são ótimas como gerente de projetos, que têm que “fazer acontecer”. As pessoas “I” são indicadas para vendas, já que é preciso uma boa comunicação nessa área. As pessoas “S” são ótimas para trabalhar em planejamento. Já os indivíduos “C” são bons desenvolvedores, pois são detalhistas.
Para ilustrar, cito o exemplo de uma empresa de pequeno porte, onde foi aplicado a avaliação DISC. Após os resultados, observou-se que algumas pessoas estavam trabalhando em funções incompatíveis com seus perfis comportamentais naturais e, então, houve um reposicionamento de funções. No primeiro mês, após os ajustes de funções, a empresa faturou 30% a mais.
Porém, isso não quer dizer que você só pode atuar nas áreas com afinidades com o seu perfil comportamental, ao contrário, significa que você passa a compreender que seu modo natural de agir não é suficiente para obter sucesso numa nova área sem afinidade com o seu estilo. Caso realmente queira atuar nessa nova área, será preciso um trabalho consistente e desconfortável para criar um novo hábito – ou então se associar a alguém que tenha aquele estilo natural de comportamento para ajudá-lo a obter o resultado necessário.
Conhecer o seu perfil comportamental é o primeiro passo para se desenvolver e conquistar uma carreira de sucesso, seja atuando individualmente, em equipe, na gestão de conflitos, no relacionamento e até mesmo em liderança. Faça uma avaliação DISC – existem opções gratuitas na Internet, mas as com maior profundidade e exatidão são pagas e valem cada centavo, pois você recebe uma devolutiva bem detalhada dos pontos fortes e fracos que precisam ser desenvolvidos. Aí é só definir os meios para o desenvolvimento, que pode ser um coaching, treinamentos comportamentais específicos ou até psicoterapia. Aliás, esse será tema da próxima edição.
É instrutor certificado Everything DiSC®️ formado pela Wiley Publishing, nos EUA, Coach Executivo e analista comportamental pela Sociedade Latino Americana de Coaching, associada da International Association of Coaching (IAC). Pós-graduado em sócio-psicologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, MBA em Administração de Negócios pelo Instituto Mauá de Tecnologia e engenheiro eletrônico pela Faculdade de Engenharia São Paulo. Tem mais de 40 anos de experiência em organizações de vários portes, incluindo multinacionais, onde assumiu funções de operações e executivas.