Crescimento da IoT demanda infraestrutura de conexão e data center
Para cumprir a promessa de revolucionar a vida em todos os aspectos, a Internet das coisas precisa de computação de borda bem distribuída, com data centers minimamente certificados, em uma rede bem estruturada.
Vanderlei Rigatieri, fundador e CEO da WDC Networks
Há algumas semanas, li um artigo muito interessante no site da ABINC – Associação Brasileira de Internet das Coisas intitulado “Dispositivos IoT estão transformando a saúde, desde wearables que monitoram sinais vitais até a gestão inteligente de medicamentos”, que detalha a aplicação da IoT – Internet of Things em diversos campos na área da saúde. Esse setor está entre as grandes áreas econômicas com potencial de uso e crescimento da IoT, ao lado da Indústria 4.0, agronegócio e facilities. Cada segmento tem suas particularidades, mas eles dependem de três pontos essenciais: conectividade, infraestrutura para processamento e segurança de dados. Neste artigo, vamos tratar dos dois primeiros e como os ISPs – provedores de serviços de Internet podem ampliar a oferta de serviços para IoT utilizando suas redes 5G.
Além de exemplos de usos práticos da IoT na saúde, o conteúdo da ABINC traz uma avaliação do cenário. Relatório do Mordor Intelligence de 2022, realizado pela associação, calculou o valor do mercado da IoT na saúde em US$ 183,4 bilhões naquele ano e previu que pode atingir US$ 293,1 bilhões até 2027. Na minha análise, o espaço para aplicações da Internet das coisas nesse setor é vasto, abrangendo desde smart houses, adaptadas para idosos e pessoas com deficiência, a dispositivos médicos inteligentes, em casa ou no hospital, que permitam o monitoramento remoto de pacientes e a intervenção médica mais rápida. Outro bom exemplo veio durante a pandemia de países da África e do Pacífico, que contaram com drones para entrega de remédios e vacinas contra Covid-19 em locais remotos. Esta certamente é uma possibilidade a se considerar em um país de dimensões continentais como o Brasil.
Contudo, nenhuma dessas opções é viável sem a infraestrutura adequada para dar suporte à transmissão, análise e resposta aos dados de tais dispositivos. Para cumprir a promessa de revolucionar a vida em todos os aspectos, a Internet das coisas precisa de computação de borda (edge computing) bem distribuída, com data centers minimamente certificados, em uma rede bem estruturada – item no qual a conectividade 5G ainda pode atender de forma dedicada por meio das redes privadas.
Análise de dados e tempo de resposta
A computação de borda atende à necessidade de coletar (upload), transferir, armazenar e processar grandes volumes de dados dos dispositivos inteligentes para dar a resposta (download) apropriada à ação. Essa quantidade imensa de dados ainda é somada ao uso da IA – Inteligência artificial para poder analisar e dar respostas a tais dispositivos. Por estar mais próximo aos aparelhos, na borda da conexão em um servidor local, o tempo de resposta da edge computing é menor, com menos gasto de energia elétrica e de largura de banda, implicando em menos custos de manutenção da operação. Aliada à IA, a computação de borda consegue identificar, analisar e transmitir dados separadamente, por ordem de assunto ou relevância, impedindo que a informação se perca no volume de dados e dando insights mais rápidos, em tempo real, aos dispositivos conectados.
A relação com o desenvolvimento da IoT é um dos fatores que está impulsionando o crescimento da computação de borda no Brasil. O IDC, em seu relatório IDC Predictions Brazil 2024, aponta que os ambientes de Edge compostos por hardware, software e serviços devem absorver mais de US$ 4 bilhões até 2025 no Brasil.
Rede privada para segurança e velocidade
Todo este volume de dados certamente congestionaria o tráfego em uma rede “comum” com usuários “comuns”, não importa a largura de banda. Por isso a implantação da rede 5G tem sido essencial para a expansão da utilidade corporativa, digamos assim, da Internet das Coisas, em especial sistemas dedicados como redes privadas 5G – tema que já discutimos em artigo anterior.
As redes privativas são desenhadas para soluções específicas em um serviço limitado, que permita aplicações sem fio ponto-multiponto e ponto-área diversificada em grandes espaços. São muito mais focadas no alto tráfego de dados provenientes do upload de dispositivos para um computador ou painel de controle, com o mínimo possível de latência, e pela característica privada, oferecendo mais confiabilidade e segurança para a transmissão de dados, dos dispositivos e da operação como um todo.
Dessa forma, o ISP pode explorar as oportunidades da expansão da rede 5G no Brasil para dar suporte a soluções de IoT a partir do seu backbone de fibra óptica. É possível até mesmo pensar no aluguel da sua infraestrutura já montada e cabeada pelos postes às operadoras que queiram implantar a cobertura 5G em um determinado território para atender um cliente corporativo com IoT.
Aplicações diversificadas
Com a infraestrutura adequada para atender as demandas do IoT, o provedor ganha espaço em outros mercados corporativos, como o de facilities, atividades comumente terceirizada que as empresas contratam para poder focar em seu core business. De acordo com estudo encomendado pela Associação Brasileira de Property, Workplace e Facility Management (ABRAFAC), a tendência nos contratos de performance é que sejam fechados por serviço e não mais pelo número de profissionais. Esta é uma boa oportunidade para que o ISP “terceirize” sua infraestrutura de rede à área de Facilities na aplicação da IoT para executar o serviço de forma mais ágil, produtiva e econômica.
Vale ressaltar que a abrangência das facilities é ampla, indo muito além da equipe de limpeza e manutenção, englobando serviços tão distintos como transporte e logística, locação de veículos, suporte administrativo (gestão de arquivos e documentos, portaria e recepção virtuais), segurança de ambientes (monitoramento de perímetro e qualidade do ar em fábricas) e segurança de modo geral, como controle de acesso a áreas restritas, rastreio veicular por GPS, catraca eletrônica com identificação facial e muitas outras aplicações.
O ISP começou o século XXI estendendo fibra óptica e formando sua rede para levar Internet a clientes domésticos e corporativos. Este é o momento de avançar na conectividade e usar sua infraestrutura para fazer fluir a Internet das Coisas, um novo horizonte da conexão de empresas e pessoas.