Criando uma área de análise de dados na sua empresa parte 5 – Evitando conflitos
Thoran Rodrigues, BigData Corp
Nos artigos anteriores desta série, mostramos o passo a passo para estruturar uma área de ciência de dados. Como começar montando o time com uma equipe afinada; como captar e organizar os dados a partir do conceito de data lake; como fazer os experimentos e testes e, ainda, como reportar os resultados para os stakeholders. Neste último artigo da série, vamos abordar a forma como a empresa deve apresentar e integrar a nova equipe à estrutura já existente, com todo o cuidado para evitar atritos entre as áreas.
Normalmente, há dois grandes desafios nesse sentido: trazer para dentro da empresa novos conceitos que quebram paradigmas e definir o escopo de atuação de cada área da companhia. O primeiro desafio é administrar o impacto da implantação da nova área. É comum que o trabalho de uma equipe de ciência de dados venha abalar questões até então tidas como verdades intocáveis. Por exemplo, no caso de uma organização que se desenvolveu, desde a sua criação, fornecendo serviços para hospitais.
Após a criação da área de análise de dados, a equipe pode concluir que é mais conveniente atuar no setor de panificação. Essa é uma mudança de caráter conceitual, que implica, principalmente, o nível da diretoria. Como a empresa sempre atendeu aquele determinado nicho, os profissionais que desenvolveram as estratégias de negócio para esse segmento podem se sentir contrariados e tender a defender as suas posições, apesar de os dados mostrarem o contrário.
O outro desafio está relacionado à definição de quem é o profissional responsável (o “dono”) pela área. O conflito, neste caso, pode vir de qualquer setor, dependendo da estrutura de cada empresa. Na maior parte das vezes, esse problema aflora no setor de tecnologia, onde, geralmente, acredita-se que a tecnologia deve coordenar qualquer trabalho que envolva elementos técnicos, assumindo o controle da operação.
A disputa pelo controle pode vir também da área de inovação, onde predomina o entendimento de que esse setor deve avaliar e opinar sobre todas as novidades. Mas ainda é possível que venham reações dos setores de BI – business intelligence e analytics.
Por isso, um dos maiores cuidados que o gestor de uma área de dados deve ter é envolver os outros departamentos da empresa no seu trabalho, de modo a minimizar os atritos e, talvez, até o risco de sofrer reações tão duras que cheguem ao ponto de culminar com a extinção do seu setor. É recomendável que a nova equipe seja preparada para agir com sensibilidade e prudência, evitando gerar enfrentamentos, trabalhando no sentido de conquistar aliados e não inimigos – como muitas vezes acontece.
Ao board da empresa cabe a tarefa de fazer uma introdução da nova equipe de forma harmônica, eliminando ruídos e preparando a receptividade. Ou seja, comunicar a criação da nova área, apresentar a equipe e deixar claro que os profissionais de ciência de dados não vão substituir outros, mas que haverá complementariedade do trabalho. É importante enfatizar que os cientistas de dados vão trabalhar com outros tipos de informação e não serão concorrentes da equipe de BI, por exemplo.
O modelo exato de parceria entre as equipes vai depender da estrutura interna da empresa. Mas, independente do porte ou da natureza da operação, é fundamental entender quais os pontos potenciais de conflito e fazer uma comunicação bem feita, explicando os benefícios que a área de análise de dados vai trazer para todos. E, muito importante, o recado de união tem que vir de cima.
Formado em engenharia de computação, mestre em informática e com um MBA em gestão de negócios pela PUC-RJ, Thoran Rodrigues tem 15 anos de experiência no mercado de tecnologia. Já trabalhou em laboratórios de pesquisa e empresas de diversos tipos e portes. Em 2013, fundou a BigDataCorp., uma empresa especializada em projetos de big data e na automação de processos de informação.