Data driven: Os dados já estão todos na mesa
Prof.ª e Dra. Alessandra Montini
Fomos dormir e acordamos modificados. É assim que me sinto quando lembro do início da pandemia do Coronavírus até o momento atual. Sem pedir licença, o mundo foi ditando novas regras e nós fomos nos habituando a elas. Eu, que trabalho há tantos anos com tecnologia, mal poderia pensar que ferramentas que estariam a nossa disposição no futuro chegariam imediatamente em nossas mãos.
É claro que não falo de tecnologias nunca antes usadas, mas que estávamos experimentando a passos curtos, como a inteligência artificial, big data e machine learning, por exemplo. De repente, precisamos caminhar muito mais rápido e usá-las com mais potência, autonomia e de maneira extremamente necessária em nossa tomada de decisão durante esta crise.
O assunto dos últimos meses foi como usaríamos os dados para nos guiar durante a pandemia, como eles seriam necessários para a ciência e até mesmo para a economia ter uma previsão do seu crescimento.
Se antes olhávamos para qualquer dado e demorávamos a tomar uma decisão importante, hoje isso já está ultrapassado. Precisamos ser mais ágeis e velozes. Sabemos que são eles que nos ajudarão nas mudanças que ainda passaremos em todas as esferas devido aos efeitos colaterais da pandemia.
Mudança de comportamento exige dados
Com os novos hábitos de comportamento do consumidor, os data driven são uma bússola para aqueles que querem continuar vendendo seus produtos e serviços. Afinal, tudo está mudando – e os gostos também.
Nesse novo cenário, a intuição empreendedora, que foi tão valorizada em décadas passadas, fica para trás. Agora, os dados adquiridos, explorados e bem organizados nos dizem o que devemos fazer.
Vale destacar que um estudo da Veja Insights, durante a pandemia, mostra que 54% dos brasileiros passaram a comprar apenas o essencial, o que tem um forte impacto sobre o desempenho de categorias que atuam em segmentos mais voltados à indulgência e à vaidade.
Como consequência do fechamento de todo o varejo considerado “não essencial”, 62% dos brasileiros estão visitando menos lojas físicas e 32% aumentaram as compras on-line de alimentos.
Olhando assim, tudo isso parece um problemão, mas para quem soube fazer desse “limão uma limonada”, a tarefa foi bem mais fácil. No entanto, um levantamento da Seagate, de 2020, revela que mais de 68% dos dados coletados por empresas não são utilizados. Este número deve ser olhado com preocupação, se a cultura de dados é a única certeza que temos em um momento de incertezas.
Sai na frente quem sabe lidar com o volume de dados disponíveis
O fato é que as companhias que já eram digitais cresceram como nunca durante o confinamento e tiveram valorização dos seus ativos. Aquelas que ainda resistiam a já consolidada digitalização tiveram de se adaptar ao novo modelo. E sabemos que esperar uma crise para descobrir como vamos nos habituar a ela pode ser bem mais difícil.
Um estudo da consultoria McKinsey mostrou que, em 2020, as empresas avançaram o equivalente a sete anos em seus portfólios de serviços digitais em função da pandemia. Além disso, negócios de todas as áreas que já eram orientados a dados foram os que tiveram menos dificuldades para lidar com os desafios desse período e reagir.
As empresas que quiserem se reerguer e conquistar o novo consumidor vão precisar lidar com dados e lapidá-los para ter insights de novos produtos e serviços e oferecê-los, muitas vezes, de maneira personalizada a cada cliente.
Para fazer tudo isso, as companhias vão precisar adotar tecnologias para coletar e organizar os dados, além de instituir uma cultura que compreenda os benefícios de transformar dados em informações úteis.
Tudo isso implica esforço e investimento, além do imenso volume de dados que necessita ser armazenado de uma maneira que auxilie em todo esse processo. Não é fácil, mas como disse anteriormente, são os dados que vão ditar as regras de agora em diante.
Diretora do LABDATA-FIA, apaixonada por dados e pela arte de lecionar, Alessandra Montini tem muito orgulho de ter criado na FIA cinco laboratórios para as aulas de Big Data e inteligência Artificial. Possui mais de 20 anos de trajetória nas áreas de Data Mining, Big Data, Inteligência Artificial e Analytics.
Cientista de dados com carreira realizada na Universidade de São Paulo, Alessandra é graduada e mestra em estatística aplicada pelo IME-USP e doutora pela FEA-USP. Com muita dedicação, a profissional chegou ao cargo de professora e pesquisadora na FEA-USP, e já ganhou mais de 30 prêmios de excelência acadêmica pela FEA-USP e mais de 30 prêmios de excelência acadêmica como professora dos cursos de MBA da FIA. Orienta alunos de mestrado e de doutorado na FEA-USP. Membro do Conselho Curador da FIA, é coordenadora de grupos de pesquisa no CNPq, parecerista da FAPESP e colunista de grandes portais de tecnologia.