De ‘mãos dadas’, big data e IA serão cada vez mais essenciais em 2023
Prof.ª e Dra. Alessandra Montini
Há uns oito/dez anos, o termo big data ocupava o centro das atenções de empresas, profissionais e pesquisadores de tecnologia. Afinal, ele prometia entregar justamente o que era desejo de todos os que trabalham com Internet: a possibilidade de analisar a enorme quantidade de dados que trafega diariamente pela Internet, sejam eles estruturados ou não. Voltando para o presente, é preciso reconhecer que o conceito obteve sucesso em sua empreitada.
Hoje, a análise de um grande volume de informações faz parte da rotina de praticamente todas as organizações, sejam elas grandes ou pequenas. Não há mais espaço para decisões que não sejam tomadas sem o apoio de relatórios criados a partir dos insights oferecidos pelos dados. O big data, portanto, tornou-se um recurso totalmente intrínseco à estratégia e à operação de qualquer negócio.
A ponto de, atualmente, ninguém mais se referir ao big data com estes termos. Fala-se sobre analytics, data science e data driven, mas todos esses termos frutos têm origem na mesma árvore. Sem as soluções que apresentam os 5 V’s na relação com os dados (velocidade, volume, variedade, veracidade e valor), a aceleração digital que presenciamos nos últimos anos não sairia do papel.
Podemos até não se referir mais ao big data como tendência ou inovação, mas trata-se de um mercado cujos serviços devem movimentar US$ 153,75 bilhões até 2027, com um crescimento médio anual de 35,68% nos próximos quatro anos. A razão para isso é justamente o crescimento na geração de dados digitais, o que exige que as empresas continuamente analisem, processem e trabalhem com essas informações.
Até porque outro conceito de tecnologia segue em alta para os próximos anos – e é totalmente dependente do sucesso e da presença do big data. A IA – inteligência artificial, que está moldando diversos modelos de negócios, só existe graças às possibilidades oferecidas para a análise de dados. É a partir dessa tabelinha entre informações e previsões que a tão sonhada transformação digital acontece.
Inteligência artificial entra em fase “madura”
Nos últimos anos, a expressão que substituiu big data como tendência a ser observada na área de tecnologia é a IA. Diversos projetos passaram a utilizar algoritmos e ferramentas de aprendizado de máquina para criarem análises preditivas a partir da observação e tratamento dos dados disponíveis. A questão é que vai ser agora, em 2023, que a inteligência artificial vai, finalmente, ser inteligente.
No caso, ela vai ser capaz de direcionar melhor as decisões, poupando esforços desnecessários – o famoso e tão desejado “fazer mais, com menos”. Como toda novidade tecnológica, o que se viu nos últimos anos foi uma infindável tentativa de explorar os limites que essa alternativa poderia oferecer. A inteligência artificial era usada constantemente sempre em partes do processo, mas nunca para atender o todo da gestão e operação de um negócio.
Mas agora, quando as soluções de big data também entram em um estágio maduro e consolidado, a IA consegue dar esse passo adiante, entregando assertividade na tomada de decisão. Chega de usar algoritmos para prever diversas situações. É hora de saber quando, como e onde utilizar essa vantagem para alcançar os melhores resultados possíveis.
Combinação garante estrutura necessária para lidar com dados
Nos últimos anos, a utilização de dados provenientes de canais digitais passou por intensa regulação. No Brasil, por exemplo, a LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados entrou em vigor em 2020 e estabeleceu uma série de parâmetros. Todo esse arcabouço jurídico visa justamente regulamentar o setor e garantir políticas de boas práticas e compliance para evitar crimes decorrentes do uso indevido. Tal cenário, evidentemente, reforça a necessária criação de uma estrutura para lidar com essas informações sem afetar a governança da organização.
Isso implica em ter uma solução capaz de coletar e processar todos os dados disponíveis e importantes para o negócio e, a partir daí, identificar padrões, estabelecer análises preditivas e ser capaz de entregar insights sobre os mais variados assuntos e áreas de forma condizente com a atual legislação. Em suma: é necessário combinar as características do big data com os recursos da inteligência artificial. Escolher um ou outro não é mais uma opção.
Até porque o grande desafio de 2023 para as empresas é montar o quebra-cabeça no mundo dos negócios – e isso só é possível quando se tem todas as peças à disposição. Se antes cada departamento se resolvia com as informações e análises que faziam sentido para suas rotinas, agora é preciso ir além. As organizações bem-sucedidas são aquelas que conseguem enxergar o todo e ter uma visão completa sobre tudo. Somente assim é possível tomar decisões melhores e, consequentemente, alcançar os objetivos traçados.
Os dois lados da moeda
Inteligência artificial e big data são dois lados da mesma moeda. Hoje um não existe de forma completa sem o outro. Já imaginou ter um monte de dados à disposição e não ter a tecnologia necessária para extrair análises inteligentes? Ou saber exatamente o que se quer, mas não conseguir ter acesso às informações necessárias? Pesadelos que, infelizmente, ainda assustam muitos gestores e profissionais pelo país.
Neste ano de 2023, mais uma vez teremos a chance de aprofundar essa relação entre dados e inteligência, informações e insights. A empresa que entender a importância dessa combinação certamente vai colher bons frutos daqui doze meses – e estará pronta para os novos desafios que certamente virão!
Diretora do LABDATA-FIA, apaixonada por dados e pela arte de lecionar, Alessandra Montini tem muito orgulho de ter criado na FIA cinco laboratórios para as aulas de Big Data e inteligência Artificial. Possui mais de 20 anos de trajetória nas áreas de Data Mining, Big Data, Inteligência Artificial e Analytics.
Cientista de dados com carreira realizada na Universidade de São Paulo, Alessandra é graduada e mestra em estatística aplicada pelo IME-USP e doutora pela FEA-USP. Com muita dedicação, a profissional chegou ao cargo de professora e pesquisadora na FEA-USP, e já ganhou mais de 30 prêmios de excelência acadêmica pela FEA-USP e mais de 30 prêmios de excelência acadêmica como professora dos cursos de MBA da FIA. Orienta alunos de mestrado e de doutorado na FEA-USP. Membro do Conselho Curador da FIA, é coordenadora de grupos de pesquisa no CNPq, parecerista da FAPESP e colunista de grandes portais de tecnologia.