Dispositivos wearables e a Internet das coisas
Wearables são dispositivos inteligentes aplicados a vestuários e acessórios pessoais ou medicinais que podem ser “vestidos” ou integrados ao corpo, incluindo tecnologias de computação, comunicação e sensoriais. O sucesso da tecnologia está atrelado aos sistemas empresariais de Internet das coisas que irão gerenciar um conjunto diverso de objetos digitais, permitindo controles de permissão e acesso detalhados.
Embora a implantação de tecnologias wearables não seja nova (GPS, monitores de batimentos cardíacos, MP3 players, marca-passos e aparelhos auditivos estão disponíveis em diversas formas há décadas), a categoria e o seu papel têm cada vez mais alcance, qualidade e escopo de aplicação. Isso vem sendo ampliado pelos desenvolvimentos de novos dispositivos e conectividade de baixo custo e consumo de energia. A capacidade de computação de dados no dispositivo e na nuvem, o aumento da interoperabilidade técnica e a aceitabilidade social do comportamento humano também colaboram para o uso intensivo de produtos wearables.
Acessórios wearables e roupas, como o rastreador de atividade Fitbit, relógios inteligentes e materiais inteligentes para roupas (por exemplo, OMsignal, em parceria com a Ralph Lauren).
Sensores para ingerir, como a tecnologia de “pílula inteligente” aprovada pela FDA da Proteus Digital Health, que monitora a eficácia dos medicamentos e dos sinais vitais do paciente.
Dispositivos implantados no corpo para monitorar a saúde e a entrega programada de medicamentos, incluindo sensores de glicose de empresas como microCHIPS.
Exemplos de produtos com tecnologia wearable
Com esses avanços, pode-se esperar que dispositivos wearables apareçam em muitas categorias de produtos, desde aplicações na área de saúde até na alta costura. É importante destacar que esses desenvolvimentos tecnológicos geram oportunidades para a criação de valor e novos modelos de negócios. Se a roupa que usamos rastrear a nossa saúde enquanto estivermos fazendo atividades físicas, ela também pode se tornar parte de nosso plano de saúde e associar marcas de vestuário com provedores de serviços. Se as joias também atuarem como uma credencial digital para abrir portas e acessar serviços, isso permite que as habilidades estéticas e decorativas dos designers sejam associadas com a infraestrutura tecnológica dos prestadores de pagamentos e empresas de segurança residencial.
Conexão aberta e lateral
A chave para desbloquear o valor dos wearables, seja você um fabricante, comerciante ou usuário final, é controlar o fluxo de dados lateral entre essas “coisas” conectadas, outros objetos e um universo mais amplo de aplicativos e dispositivos usados pelas pessoas para operar as suas vidas digitais. A era da Internet das coisas se baseia, principalmente, em dados de múltiplos dispositivos e objetos conectados, sendo associados a sistemas de software para criar novos serviços e experiências, sem comprometer o desempenho, a segurança ou a funcionalidade crítica.
Os primeiros exemplos vieram com o monitoramento da saúde pessoal e aptidão física. Produtos como a pulseira fitness Jawbone Up, da Jawbone, medem as atividades de um indivíduo e as calorias queimadas, mas também atuam como parte do estilo de vida mais conectado do consumidor, desde o rastreamento da saúde e aptidão física até as experiências de automação residencial. A Jawbone tornou os dados de sua pulseira acessíveis a outros aplicativos via APIs – Application Programming Interface, permitindo às pessoas efetuarem a conexão com o seu registrador de exercícios físicos ou aplicativo de monitoramento de dietas (o dispositivo também se comunica com um termostato ou com um sistema de iluminação de uma residência inteligente).
Assim, a Jawbone tornou o seu produto mais valioso para os seus consumidores. Essa abordagem de circuito aberto contrasta com as estratégias verticalmente integradas adotadas por outros fornecedores, os quais tiveram um sucesso significativamente menor.
Exemplos de aplicações que utilizam conexões de dados laterais
Nesse caso, a oportunidade foi criar um ecossistema wearables “aberto”, onde conexões horizontais podem ser feitas entre dispositivos wearables e outros objetos e ambientes para uma melhor experiência do usuário.
Estética associada à engenharia e ao ecossistema
O desafio para o design de dispositivos wearables é a forma usada para combinar o padrão estético e ergonômico, com as funções de software e hardware, visando entregar um produto atrativo, eficaz e confiável. Contudo, também é importante reconhecer que os produtos wearables operam e são experimentados como parte de nossas vidas digitais mais amplas. Assim como a pulseira inteligente da Jawbone, os wearables fazem parte de um ecossistema on-line e podem se beneficiar de se integrarem a um conjunto agregado de serviços e conteúdos conectados. Um produto wearable individual pode desempenhar o papel de líder ou coadjuvante neste sistema mais amplo.
As conexões laterais entre wearables e outros produtos e serviços podem ser criadas formalmente, como por exemplo, uma aliança entre um prestador de serviços de saúde e provedores de dispositivos de monitoramento da saúde. Também podem serem feitas informalmente, com os próprios usuários finais conectando os seus dispositivos com aplicativos por meio ferramentas on-line.
Em um mundo onde cada um de nós tem um número crescente de produtos equipados com tecnologias de interface, conectividade e sensoriais, a oportunidade de combiná-los de maneiras diferentes para permitir novas experiências e serviços cresce exponencialmente. A Lei de Metcalfe sobre o efeito de rede, famosa no mundo dos dispositivos conectados em rede onde sucesso gera mais sucesso a uma taxa sempre crescente para criar um círculo virtuoso, torna-se também aplicável a cada produto wearable que possuímos. O verdadeiro desafio do design é, portanto, uma das ideias do processo: abraçar a conexão aberta, reconhecendo que cada produto funciona como parte de uma experiência de rede mais ampla orientada a dados, tornando o todo muito maior do que a soma de suas partes.
Utilizando os dados
A conexão aberta funciona somente se diversas condições forem atendidas:
- Os usuários finais sabem exatamente como os seus dados estão sendo usados e dão a sua permissão explícita – importante tanto para o relacionamento de confiança da marca com seus consumidores quanto para as exigências de conformidade regulamentar.
- O compartilhamento de dados entre wearables pode ser controlado com base em vários parâmetros: tipo, tempo, frequência, uso e tipo de aplicação.
- O usuário pode encerrar a permissão/acesso a qualquer momento (incluindo o direito de ser esquecido).
- Um esforço mínimo é necessário para que um aplicativo solicite dados de múltiplos dispositivos wearables, sem exigir muita integração.
- Os aplicativos criados com múltiplos pontos de dados podem ter tempos de vida útil flexíveis: alguns podem ser para um único ponto de contato (“touch point”), enquanto outros podem ser para múltiplos pontos de contato ao longo do tempo.
Gerenciamento de dados laterais
O caminho para a conexão aberta está nos sistemas de software que permitem que os dados sejam compartilhados horizontalmente entre diferentes aplicativos e dispositivos, enquanto também gerenciam permissões individuais precisas, privacidade e acesso por meio de aplicativos.
Portanto, os dados de seu rastreador de fitness podem, com a sua permissão, induzir uma máquina de vendas automática (vending machine) ou um painel inteligente para lhe enviar uma mensagem oferecendo bebidas com base na sua lealdade a uma determinada marca, combinada com a necessidade de reidratação após a atividade física. O mesmo dispositivo também pode servir como um cartão de fidelidade de companhias aéreas, permitindo o seu acesso automático ao lounge por meio de um registro eletrônico.
Imagine também uma camisa inteligente que monitore tanto a sua temperatura corporal quanto a do ambiente, efetuando ajustes para aquecer ou esfriá-lo e rastreando, simultaneamente, esses dados como parte de um perfil de saúde integrado. Você pode ainda optar para que a mesma camisa permita que os varejistas o reconheçam como um cliente quando você entra em uma loja, usando os dados de compras anteriores para recomendar roupas que possam lhe interessar.
Compartilhamento lateral de dados entre wearables, aplicativos e um mundo mais amplo de dispositivos conectados
Concierge para uma vida conectada
Nesses cenários, um wearable começa a atuar como um concierge para a sua vida conectada: acessando uma visão consolidada de quem você é e de como você está, suas preferências pessoais e histórico de compras por meio da combinação com outras fontes de dados em tempo real.
À medida que essa conectividade lateral aumenta, um dos maiores desafios da marca será a privacidade: a capacidade de fornecer uma experiência personalizada para milhões de usuários enquanto gerencia os seus dados com segurança. Isso significa permitir que os usuários tenham um controle total altamente detalhado sobre quais dados eles escolhem compartilhar ou manter privados. Por exemplo, escolhendo compartilhar todos os seus dados do sensor de sono ou apenas dados de intervalos de datas ou dias selecionados.
Conectividade lateral baseada em permissão do wearable Tech e outros dispositivos conectados via uma plataforma de nuvem
A única maneira de conseguir isso é usando uma plataforma que seja especificamente arquitetada para controlar o acesso e as permissões para cada ponto de dados associado a um produto wearable de propriedade de um usuário específico. Dessa forma, as marcas precisarão de uma plataforma de dados corporativo para habilitar este rico mundo de conexões laterais por meio de informações pessoais com controles rigorosos de acesso e permissão, visando fornecer experiências de serviço seguras e inovadoras aos consumidores.
Embora um dispositivo wearable possa ter a sua própria nuvem, ele também pode usar uma plataforma de dados agregados para gerenciar conexões laterais com os dados de outros dispositivos, aplicativos e sensores conectados em rede.
Em um mundo wearable, as empresas vão ganhar entregando mais valor por meio de uma melhor experiência de serviço para uma maior parcela de consumidores. Para isso, sistemas de Internet das coisas empresariais têm de ser usados para gerenciar um conjunto diverso de identidades de objetos digitais, permitindo ao mesmo tempo controles de permissão e acesso detalhados.
2 Comentários