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Eficiência energética é desafio para as empresas serem competitivas
Este artigo discute dois pontos fundamentais em relação à eficiência energética em um data center: atualização do parque tecnológico e adoção de energia solar.
Vanderlei Rigatieri, fundador e CEO da WDC Networks
Cada empresa, país, governo sempre se preocupa em como ser mais eficiente e competitivo. Recentemente uma pesquisa feita pela IT DATA, patrocinada por um grande banco brasileiro, apontou que o uso da Inteligência Artificial deve ser um dos fatores mais decisivos para o aumento da competitividade entre as grandes empresas. E reparem, não é mais o básico da IA (Chatbots de atendimento, geração de imagens etc.) agora o desafio é usar a IA para apontar melhoria de processos, aumentar eficiência operacional, desenhar novos produtos. Da mesma forma, a demanda mundial por mais IA acelera a demanda por armazenamento de dados, processamento na borda, seja em “edge data centers” ou mesmo em infraestrutura “on-premises”, dentro das empresas.
Perfeito! Mais IA, mais dados e mais armazenamento. Vamos pegar o estudo do Lincoln Laboratory do MIT – Massachussets Institute of Technology que prevê que os data centers irão consumir 21% do total de energia elétrica do mundo em 2030. Sim, energia elétrica virou item crítico. Por isso, o MIT está focando em desenvolver técnicas de treinamento de IA e melhorias em hardware que ajudem na economia de energia em data centers.
A busca por eficiência energética não é só uma questão de sustentabilidade ambiental, mas financeira. Neste artigo, vou tratar de dois pontos fundamentais em relação à eficiência energética em um data center: atualização do parque tecnológico e adoção de energia solar. Sim, porque “Energia Limpa” abrange desde os parques eólicos em pontos isolados do país até nossa eletricidade de todo dia, vinda das hidrelétricas – 84% da energia consumida no Brasil é de matriz renovável, segundo a Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica, porém isso tem um custo que torna muito atrativo aos grandes consumidores a possibilidade de ter sua própria usina de energia com a implantação de um sistema fotovoltaico.
Responsável por 16,7% dos custos de construção e 32% de custos de operação em um data center Tier 3, segundo mapeamento da ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, a eficiência energética é um item que ocupa muito a mente de um provedor de internet ou gestor de TI. A capacidade de atendimento das concessionárias de energia elétrica é um dos itens primordiais no projeto de instalação de um data center. A eletricidade deve fluir ininterruptamente por causa do processamento dos dados e da série de equipamentos necessários à operação, como refrigeração, roteadores, controles, câmeras, sensores contra incêndio etc.
Ter equipamentos atualizados no data center segue a lógica geral que encontramos em outros dispositivos eletroeletrônicos: não se trata apenas de algo moderno na tecnologia-fim, mas no uso de insumos construtivos e de operação. Isso significa menos consumo de energia não só pela nova versão em si, mas o menor tamanho diante do melhor design pode ser traduzido em menos espaço físico para resfriamento (e monitoramento de segurança, contra incêndio, entre outros).
Antes de embarcar em projetos para instalação de uma usina fotovoltaica, vale a pena ponderar sobre quanto custaria atualizar o equipamento legado de seu data center. O mercado conta com soluções inovadoras com maior economia de energia e que podem reduzir espaços para resfriamento de forma considerável. Fora diferentes modalidades de negociação para a aquisição da tecnologia, como locação como serviço (As a Service), e fontes de financiamento, como a linha de R$ 2 bilhões que o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social lançou com recursos do Fust – Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, exclusivamente para data centers com o objetivo de promover a transformação digital das empresas brasileiras.
Energia solar por diferentes ângulos
O ano de 2024 trouxe ao consumidor brasileiro o início do Mercado Livre de Energia e tornou possível a compra direta de energia elétrica de geradores ou comercializadores de energia, a maior parte dela produzida em modalidade renovável (solar ou eólica). O provedor ou gestor de TI pode, com isso, libertar-se do abastecimento exclusivo com a concessionária de energia elétrica e negociar diretamente com um fornecedor independente o contrato de fornecimento a partir de uma matriz bem mais barata e que não está sujeita a flutuações de bandeira tarifária ou de mudanças climáticas que impactam na geração de energia.
Outra modalidade de aquisição possível são os serviços de Energia na modalidade As a Service ou energia solar por assinatura, no qual data centers de menor porte podem contratar empresas que montam o sistema fotovoltaico in loco e gerenciam a produção/abastecimento de energia mediante pagamento mensal. Destaco o limite de tamanho para este modelo porque a maioria das empresas que prestam este tipo de serviço atendem consumidores residenciais ou lidam com sistemas de menor capacidade de geração, diante do grande e contínuo consumo que um data center requer.
Contudo, quando se fala em energia solar, o primeiro pensamento ainda é a “declaração de independência” com um sistema fotovoltaico próprio, seja ele no teto da empresa/data center ou na instalação de uma miniusina. Enquanto a geração excedente do período diurno pode ser usada para abater o consumo que o data center precisa da concessionária elétrica à noite, também é possível construir sistemas mais independentes utilizando baterias de lítio que são menores, mais silenciosas e menos poluentes do que um gerador comum a diesel. Inversores e demais equipamentos de controle inteligentes podem balancear o fluxo de energia entre usina solar/concessionária de energia de forma totalmente automática, diminuindo a necessidade de funcionários dedicados a esse tipo de acompanhamento.
O grande obstáculo no caminho da adesão do consumidor brasileiro (B2C e B2B) é a oferta de crédito para realizar o investimento necessário à instalação do sistema fotovoltaico (placas, inversores e itens adicionais como bateria, a depender do projeto), pois o público já está convencido que esta é uma boa troca a médio e longo prazos, sem flutuação de tarifa e ainda a possibilidade de lucrar com geração excedente. Assim como com a modernização do parque tecnológico do data center, também existem diferentes modalidades de negócios que podem facilitar a contratação, além de linhas de crédito específicas ou com condições especiais em agentes bancários para financiar a adesão à energia limpa.
É importante não esquecer que diante deste cenário desafiador, o provedor e o gestor de TI podem se organizar para migrar para a energia solar, investindo em economia à longo prazo com uma fonte de energia limpa e independente.