Em 2021, prioridade dos data centers é melhorar a experiência do usuário
Serão priorizados investimentos em soluções capazes de orquestrar a diversidade e integrar diferentes modelos, tirando o melhor de cada tecnologia.
Verônica Couto, colaboradora da Infra News Telecom
Soluções para automação e gestão de ambientes híbridos, com IA – inteligência artificial, machine learning e outros sistemas de análise de dados, destacam-se entre as tendências para os data centers em 202l. Os investimentos vão buscar uma experiência melhor para os usuários, com soluções capazes de orquestrar a diversidade e integrar diferentes modelos, tirando o melhor de cada tecnologia. Coexistirão a computação on-premise e os ambientes multicloud, em configurações mais críticas e complexas.
Depois da digitalização acelerada pela necessidade do distanciamento social, será preciso ajustar a convivência de diferentes arquiteturas, em estratégias que visam aumento de produtividade e redução de custos e riscos, ainda como efeito do impacto da pandemia sobre os orçamentos. Além do avanço da migração de cargas de trabalho para a nuvem, espera-se a evolução da edge computing, estimulada pelo 5G, pela IoT – Internet das coisas e pelas tecnologias de IA.
As ofertas de co-location também devem ficar mais robustas, provendo, além do compartilhamento de facilities, serviços gerenciados, bare metal, conectividade, nuvem. “Data center is everywhere (está em todo lugar)”, afirma o diretor sênior de pesquisas do Gartner, Henrique Cecci.
A tendência é que as empresas migrem alguns elementos da sua estrutura e aplicações, mantendo-se em ambientes híbridos, ou seja, parte na nuvem pública e parte na nuvem privada. “Com toda essa diversidade, as companhias precisarão de sistemas que possam aplicar políticas, otimizar e migrar aplicações independente da infraestrutura em que estejam”, diz Renier Souza, diretor de engenharia da Cisco do Brasil.
Essa soma das capacidades da computação em nuvem aos recursos existentes é a quarta tendência mais relevante das dez que a consultoria IDC projeta para toda a área de TI no Brasil em 2021 – atrás da massificação do 5G, da redefinição da conectividade e dos investimentos em edge computing.
Em um estudo da instituição feito em novembro do ano passado, junto a 143 empresas de médio e grande portes, 31% dos entrevistados apontaram como abordagem preferencial para a modernização do ambiente de TI substituir a aplicação antiga por uma nova, consumida a partir da nuvem. Em 90% dos casos, os respondentes informaram ainda ter alguma infraestrutura de TI tradicional, enquanto 50% já consumiam algum modelo de nuvem, pública ou privada. “O futuro da infraestrutura vai ser híbrido”, reforça Luciano Ramos, gerente de pesquisa e consultoria da IDC Brasil.
“Em 2020 vimos uma transformação digital, que aconteceria em anos, ser feita em apenas alguns meses”, observa o gerente de marketing Azure na Microsoft Brasil, Rodolpho Ugolini. Um movimento em que se destacam o teletrabalho e o comércio eletrônico, e que deve continuar em 2021. De acordo com levantamento da FrontierView, encomendado pela Microsoft, somente entre abril e agosto do ano passado, as vendas online mais que dobraram (105%) em relação ao mesmo período de 2019.
Nesse cenário, diz Ugolini, a nuvem proporciona ao varejo escalabilidade para datas promocionais, fazendo com que as lojas não sofram lentidão, independentemente do número de acessos simultâneos. Ele também reforça que outras tecnologias de cloud também têm sido adotadas para aprimorar a experiência do consumidor online. Por exemplo, análise de dados e IA para personalizar a navegação pelos produtos com base nas visitas do cliente, ou para reduzir prazos de entrega, desenvolver aplicativos de fidelização, etc.
Para Souza, da Cisco, automação e observabilidade formam juntas a tendência dominante dos data centers em 2021. “As tecnologias que terão a atenção do mercado e de executivos são as ferramentas de automação e orquestração de ambientes multicloud, aliadas a uma estratégia forte de segurança dos ambientes, das aplicações e dos usuários. A utilização de IA para ações automatizadas é chave para garantir a segurança e a boa experiência digital”.
O conceito de observabilidade, explica Souza, é a capacidade apresentada por alguns sistemas de obter informações detalhadas sobre todos os componentes de uma aplicação. Identificar problemas, independentemente de estarem no data center, na infraestrutura das operadoras, no banco de dados, no usuário final ou até no código da aplicação ou de algum microsserviço.
Na opinião do diretor da Cisco, a próxima evolução do mundo cloud será a edge computing, chamada de edge intelligence, capaz de atender tanto à necessidade de processamento local, quanto aos negócios críticos que precisam operar mesmo sem conectividade. “A transformação digital e a explosão de dispositivos IoT impactam os data centers tanto no volume de dispositivos conectados quanto no de dados. Embora alguns acreditem que é uma tecnologia que concorre com a nuvem, na realidade elas [nuvem e edge] são tecnologias complementares e que viabilizam para IoT todos os benefícios e a agilidade das tecnologias de cloud de uma forma segura e ágil.”
A escolha da computação na borda também poderá responder à preocupação por segurança. “Ter bilhões de sensores conectados a milhões de ativos para coletar seus dados cria uma oportunidade para os hackers terem uma superfície de ataque muito grande; logo, é fundamental que a segurança esteja o mais próximo possível dos dispositivos IoT “, afirma o executivo.
A oferta de plataforma, software e infraestrutura como serviços continuará crescendo no Brasil. Em moeda constante, o Gartner estima expansão anual até 2024, em média, de 16% em PaaS (plataforma como serviço); 16% a 17% em SaaS (software como serviço); e de 25% a 28% em IaaS (infraestrutura como serviço). Do orçamento anual de TI, os serviços de nuvem respondem por 10,3%, podendo chegar a 13% ou 14% nos próximos três anos.
Na maioria das corporações que já iniciaram sua jornada de cloud, menos de 15% do workload, em média, foi migrado. Em países como os EUA, esse total já representa 40%, estágio que as empresas brasileiras devem alcançar em três anos, quando o mercado internacional estará batendo 75% da sua carga de trabalho na nuvem.
No universo on-premise, Cecci, do Gartner, destaca ainda a tendência de adoção de soluções baseadas em consumo (consumption based). Finalmente, diz o analista, os investimentos nos data centers não poderão ignorar o esforço global para reduzir o consumo de energia e a pegada de carbono dos ambientes, com sistemas de refrigeração líquida e novas memórias e baterias, com muito mais capacidade.