Energia renovável é prioridade para os provedores de serviços de data centers
Os projetos de autogeração de energia, principalmente os de fontes renováveis, estão na lista de prioridades dos principais provedores de serviços de telecomunicações e data centers do país. Além de diminuir o impacto ambiental e as emissões de carbono na atmosfera, a energia limpa reduz os custos operacionais do negócio.
Simone Rodrigues, editora da Infra News Telecom
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, no ano passado foram acrescidos ao sistema elétrico brasileiro 4.932 MW de potência instalada de geração de energia elétrica centralizada. Desse volume, cerca de 70% foram a partir de fontes renováveis (eólica, solar, biomassa e hídricas). A fonte eólica sozinha respondeu por 35% do total ampliado.
A energia solar também está em alta. Segundo a Absolar – Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltáica essa fonte atingiu a marca histórica de 8 gigawatts (GW) de potência instalada no país, entre residências, comércios e indústrias. São mais de 410 mil sistemas solares fotovoltaicos conectados à rede em cerca de cinco mil municípios, gerando uma economia e sustentabilidade para mais de 514 mil unidades consumidoras.
Desde 2012 a fonte trouxe mais de R$ 40 bilhões de investimentos ao país e gerou mais 240 mil empregos acumulados. Em potência instalada, os consumidores residenciais lideram o uso de energia solar fotovoltaica, com 38,9% da potência instalada, seguidos pelas empresas dos setores de comércio e serviços (37,8%), consumidores rurais (13,2%), indústrias (8,8%), poder público (1,2%). O restante fica por conta de outros tipos de segmentos, como serviços públicos e iluminação pública.
Somando as capacidades instaladas dos segmentos de geração distribuída (GD) e geração centralizada, a fonte solar fotovoltaica ocupa o sexto lugar na matriz energética brasileira. Ainda de acordo com a Absolar, apenas no segmento de GD são 4,9 GW de potência instalada em usinas solares fotovoltaicas, o que representa R$ 24 bilhões de investimentos acumulados desde 2012.
Entre os especialistas, é consenso que, além de diminuir o impacto ambiental e as emissões de carbono na atmosfera, a energia limpa reduz os custos operacionais das empresas. A autogeração ainda se mostra eficiente para enfrentar desafios como a alta dos preços da eletricidade e o risco de escassez de energia. Vale dizer que, devido a estiagem histórica dos últimos meses, o Brasil vive a pior crise hídrica desde 1931, o que pode trazer sérios problemas de abastecimento de energia. Nesse cenário, os projetos de autogeração, principalmente os de fontes renováveis, entraram na lista de prioridades dos principais provedores de serviços de telecomunicações e data centers.
Um exemplo é a Equinix, empresa global de infraestrutura digital. Em 2015, a companhia estabeleceu uma meta mundial de chegar a 100% de energia limpa e renovável a longo prazo. No Brasil, os seus seis data centers utilizam energia hidrelétrica. “Temos casos de uso de energia eólica nos EUA. Em todo o mundo, buscamos parcerias com fornecedores certificados de energia limpa e/ou renovável”, conta Eduardo Carvalho, presidente da Equinix no Brasil.
A companhia tem programas globais de redução de consumo de energia, como o free cooling e o enclausuramento de corredores quentes. Todas essas medidas já trouxeram resultado: a pegada de carbono dos data centers caiu 60% entre 2015 e 2019, embora o consumo de energia tenha dobrado no período. “Nossos programas ajudaram na economia de 1,1 milhão de MWh desde 2011”, completa Carvalho.
Segundo o último relatório global de sustentabilidade da empresa, divulgado em 2019, as fontes renováveis já são responsáveis por 92% do consumo dos seus data centers em todo o mundo, sendo 94% nas Américas. Alinhado ao GRI – Global Reporting Initiative, o relatório é apresentado desde 2016. Mundialmente, a Equinix já investiu US$ 120 milhões em eficiência energética e retrofits.
Em janeiro do ano passado, a empresa criou um centro de excelência em eficiência energética. O ambiente é um piloto de uma abordagem coordenada globalmente para atualizar o desempenho das instalações existentes, de acordo com os novos designs de data center, que definirão e alcançarão as metas de PUE.
Os projetos da companhia para diminuir a pegada de carbono e melhorar a eficiência energética também passam pela redução do consumo de água. No Brasil, o sistema de captação de água da chuva instalado no data center do Rio de Janeiro (RJ2) gerou uma economia de água e de energia de aproximadamente 70% e 10%, respectivamente, desde que o ambiente foi inaugurado em 2014. Já o data center SP3, em São Paulo, coleta a água da chuva, que é tratada e usada no sistema de free cooling corporativo. Carvalho diz durante o período de fortes tempestades, 100% do resfriamento do ambiente vem da água da chuva, com uma economia de aproximadamente 700 mil galões por ano (um galão corresponde a 3,785 litros).
Na Ascenty, provedora de serviços de conectividade, cerca de 85% de toda a energia consumida nos data centers é obtida de fontes renováveis, incluindo pequenas hidrelétricas e usinas eólicas, solares e de biomassa. A empresa tem 27 data centers no Brasil, México e Chile.
A partir de junho deste ano, seis data centers da companhia no Brasil vão utilizar 100% de energia renovável. Entram nesta etapa duas instalações da empresa em Vinhedo, interior de São Paulo, que somam 46 mil metros quadrados de área construída e têm uma potência instalada de 70 MW. Vale dizer que a unidade de Fortaleza, CE, com 9 mil metros quadrados de área construída e potência instalada de 10 MW, já passou por essa reformulação – neste caso grande parte da energia vem da fonte eólica, aproveitando a disponibilidade desse tipo de infraestrutura na região Nordeste.
Além disso, usinas solares apoiam algumas áreas administrativas da companhia em São Paulo. Sergio Abela, diretor de operações de data center da Ascenty, conta que a empresa pretende ter uma usina fotovoltaica em Vinhedo para suprir o escritório de sua sede administrativa.
Ele explica que cada data center, que é migrado para o mercado livre de energia, já utiliza fontes 100% renováveis. “Compramos energia com quatro a cinco anos de antecedência. Projetamos o consumo futuro dos nossos clientes e os custos prováveis para energia”, diz o diretor, acrescentando que 30% do valor despendido mensalmente pela Ascenty é relativo à aquisição de energia renovável.
O executivo lembra que a demanda por conectividade, processamento e soluções de TI, aumenta significativamente o consumo de energia elétrica dos data centers em todo o mundo, por isso, adotar fontes renováveis é uma questão de responsabilidade. “As fontes não renováveis são as maiores emissoras de gases de efeito estufa. Ao optar por energia limpa atuamos diretamente na redução do impacto ambiental.”
A companhia também conta com um programa de eficiência energética desde 2016, com o objetivo de atender as melhores práticas de sustentabilidade e ajudar a alcançar sua meta de operar 100% com energia de fontes renováveis até o final de 2023.
Outra empresa que criou um programa que prioriza o uso de fontes renováveis é a Claro. Chamado “Energia da Claro”, o projeto atende as unidades de média tensão da companhia em 80% do seu consumo total. O diretor de infraestrutura da operadora, Hamilton Silva, afirma que desde 2017 todos os data centers da Claro são abastecidos de ponta a ponta com fontes de geração totalmente renováveis, derivadas, por exemplo, de usinas solares, eólicas ou de biogás. “Os contratos firmados com nossos fornecedores garantem um abastecimento 100% proveniente de matrizes limpas”, completa o executivo.
Na opinião do executivo, a principal vantagem da geração de energia limpa é a redução do impacto ambiental para as operações da empresa, que promove diversas iniciativas para a redução de emissões de carbono. “Temos o maior projeto de geração distribuída do país. São 52 usinas conectadas com mais de 50% das instalações operando com energia limpa. Contamos com mais de 420 mil painéis solares e 55% das nossas antenas de celulares já trabalham compensando energia por meio de fontes renováveis.”
De acordo com Silva, a meta da Claro é prover 80% de todo o seu consumo de energia proveniente de fontes limpas, tanto na baixa como na média tensão.