ESG é pragmático, foca em resultados e impacta os negócios
O artigo detalha o que significa cada uma das letras que compõem a sigla ESG e como os provedores de Internet podem se adequar a essas práticas mundiais.
Vanderlei Rigatieri, fundador e CEO da WDC Networks
O termo ESG – Environmental, Social and Governance, ou Ambiental, Social e Governança que diz respeito a um conjunto de métricas que atualmente define as operações corporativas em âmbito mundial, vem deixando de ser um diferencial de mercado para se tornar uma obrigação das companhias frente a investidores que buscam estar associados a marcas sustentáveis e socialmente responsáveis. Neste artigo vamos detalhar melhor o que significa cada uma das letras que compõem a sigla e como os provedores de Internet podem se adequar a essas práticas mundiais.
No Brasil, as empresas vêm alcançando maturidade no que se refere à aplicação do ESG, especialmente aquelas de capital aberto que, a partir de 2026, precisarão apresentar relatórios sobre sua jornada ESG à CVM – Comissão de Valores Mobiliários como regra de mercado. Em novembro do ano que vem, quando o País sediará a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, PA, as organizações brasileiras terão a oportunidade de mostrar o que está sendo feito nesse sentido, que é fundamental para a boa imagem do País como potência global. Mas qual o papel do ISP nesse cenário?
É preciso ter em mente que, independentemente do tamanho da empresa, algumas diretrizes corporativas, como ética, respeito com pessoas e preservação do meio ambiente deixaram se ser diferenciais e passaram a ser inerentes à prática comercial no mundo. Uma empresa não precisa ser listada na Bolsa de Valores para adotar boas práticas de gestão e certamente será vista com bons olhos por seus diversos públicos de interesse, agregando mais valor à marca. Indo além, hoje o consumidor opta por organizações que apoiam a diversidade, se preocupam com a saúde mental de seus colaboradores e se mostram empenhadas em atuar de forma intrínseca em todos os lados do ESG, não somente o ambiental ou o social.
Isso porque o ESG tem uma abrangência muito maior do que as finalidades comumente discutidas ou conhecidas. Por exemplo, pouco se fala sobre compliance em ESG na cadeia de fornecedores, justamente onde as falhas são mais identificadas e onde o provedor regional pode explorar a seu favor. Ou ainda na esteira da nossa fama de “tecnologia verde, sem precisar de papel”, nós não prestamos atenção ao fato de que os datacenters emitem quase a mesma quantidade de carbono na atmosfera que o setor aéreo, por causa da energia elétrica necessária para mantê-los funcionando 24×7.
Por isso escolhi repassar os conceitos que compõem a sigla ESG e apontar como o ISP pode melhor entendê-los, aderir às suas práticas e trabalhá-los a seu favor.
E de Enviromental ou Ambiental
Quando falamos em infraestrutura de rede, a responsabilidade ambiental muitas vezes vem em segundo plano. Em 2022, um estudo realizado pela Faculdade de Computação do MIT – Massachussets Institute of Techonology chamado “A nuvem é material: sobre os impactos ambientais da computação e do armazenamento de dados” alertava justamente para isso: como a computação contribui para o aquecimento do planeta? Na prática, manter todo o maquinário envolvido no funcionamento, refrigeração, segurança de um datacenter e todos os dados que hoje movem o mundo têm um alto custo em emissões de carbono, o que torna a atividade onerosa para o meio ambiente.
Uma maneira concreta para o provedor de internet aplicar as métricas do “E” em seu negócio está na forma como se otimiza o consumo de energia elétrica em um datacenter. Uso de energia fotovoltaica, um gerador com bateria solar, boa manutenção ou atualização dos equipamentos, correta destinação de hardware obsoleto, por exemplo, são medidas que colaboram com a preservação do planeta. E, em termos de cadeia de fornecimento, é algo que chama atenção de clientes particulares e corporativos na hora de fechar negócio.
S de Social
Se a destinação correta de equipamentos obsoletos ou inservíveis ajudam na preservação ambiental, levar esses materiais ao reuso pode favorecer o social. Nesse sentido, que tal doar tais dispositivos para uma cooperativa de catadores de recicláveis para que eles façam o desmonte e aproveitamento das peças que podem ser vendidas? Ou ainda entregá-las para instituições, como cursos técnicos, que podem utilizar o material em aula?
Isso é a economia circular na prática, fazendo com que o hardware seja reinserido na cadeia produtiva, além de ser uma forma de como o ISP pode colaborar com a comunidade na qual está inserido, ajudando na geração de emprego e renda para catadores, bem como na educação de futuros profissionais.
Atuar de forma socialmente responsável é mais do que organizar doações de cestas básicas ou outros itens em datas especiais, é usar do seu empreendimento para prover formas de crescimento da comunidade ao seu redor. Por exemplo, contratar Jovem Aprendiz (se for na escola do bairro da empresa, ainda melhor) ou diferentes perfis de profissionais, independente da raça, gênero ou orientação sexual. Vale lembrar que, na área de TI, menos de 20% das vagas no Brasil são ocupadas por mulheres, segundo pesquisa Women in Technology. Veja que ainda não citei os idosos, pois o etarismo também é algo a se combater na sociedade e no mercado de trabalho.
G de Governança
Este tópico pode enganar à primeira vista, porque muitas pessoas resumem Governança a um sinônimo de gestão da empresa. Na verdade, a governança corporativa inclui em suas práticas transparência, responsabilidade, prestação de contas e equidade, tudo isso aplicado à saúde e competitividade do negócio. Garantir o melhor fluxo para a operação da empresa de forma que beneficie tanto os colaboradores quanto os clientes é uma ação de governança. Por isso a cibersegurança é um item essencial à governança no que se refere ao tratamento dos dados do negócio.
Onde estão armazenados os dados de clientes, fornecedores, colaboradores e do próprio funcionamento da empresa? Que tipo de tratamento de segurança e backup recebem? Quais pessoas possuem acesso às informações críticas da sua organização? Vazamentos de dados de clientes e ataques do tipo ransomware são um risco real, diário e constante que empreendimentos de todos os portes e segmentos estão sujeitos a enfrentar em todo o mundo. No Brasil, empresas de todos os setores no país tiveram que se adaptar à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) a partir de 2020, no entanto, muitas delas apenas colocaram um “quadrado” para que o usuário/cliente tenha ciência de que foi alertado, sem cuidar de forma apropriada dos dados desse cliente ou da própria empresa. E vale lembrar: isso não é aplicação da Governança.
ESG mais pragmático
Como apresentei no início deste artigo, estamos entrando em uma era de maior maturidade na abordagem do ESG, onde a adesão é colocada frente a frente com os resultados quantitativos das medidas empregadas. O professor Heiko Hosomi Spitzeck, diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral (FDC), defende uma visão mais pragmática, na qual a agenda ESG vai avançar na prática, mas perderá espaço na mídia.
Ou seja, estamos falando em educação, conscientização e aplicação das práticas necessárias para sobrevivência, atitudes que precisam fazer parte da cultura corporativa alinhada com as operações.