Finanças pessoais: Uma área importante na carreira
Edgar Amorim, Analista comportamental e coach, da Amorim & Pimentel
Como você lida com o dinheiro? Além da geração a que o indivíduo pertence, a cultura ao seu redor, ao longo de seu crescimento e amadurecimento, tem um papel muito forte na forma com que ele lida com o dinheiro.
A cultura latina, de um modo geral, é muito hierárquica e paternalista. Ela faz o indivíduo acreditar que na vida é preciso estudar, encontrar um bom emprego, mas sim esperar que o governo cuide do nosso futuro. Ao longo do tempo vamos observando que as coisas não funcionam bem assim. Para a nossa carreira não basta ter uma boa formação – o hard skills. É preciso tomar posse de onde queremos chegar e traçar os caminhos – ou seja, planejar.
Já falamos da importância do relacionamento e comportamento – os soft skills – para uma carreira de sucesso. Porém desenvolver tudo isso exige vontade, tempo e, muitas vezes, dinheiro. Ter uma vida financeira planejada traz tranquilidade e motivação para seguir o caminho traçado.
Minha sócia, Janaine Pimentel, é especialista nesta área e afirma que uma vida financeira saudável está apoiada em três pilares: consciência, ferramentas e ação (o que ela chama de engrenagem financeira). Para se ter uma vida financeira saudável, primeiro é preciso que o indivíduo tome posse sobre a sua relação com o dinheiro – a consciência sobre si mesmo. Tudo o que fazemos hoje veio de valores, crenças e necessidades adquiridas em nossa infância. E a forma como lidamos com o dinheiro também.
Lembram quando éramos crianças e nossos pais diziam que o dinheiro é sujo, que se matavam de trabalhar para receber algum dinheiro e tanto mais? Tudo isso, ficou em nossa memória e, por isso, nosso inconsciente acha que devemos nos livrar do dinheiro que chega até nós, pois parece trazer coisas ruins – por incrível que pareça. Já aconteceu com você de sair com R$ 50 e voltar para casa sem nenhum dinheiro e não saber com o que gastou? Isso é comportamento inconsciente.
Se esses R$ 50 fosse mensalmente para uma poupança, em 10 anos você teria cerca de R$ 9,2 mil. Então, é muito importante você tomar posse de como percebe o dinheiro, pois esse é o primeiro passo rumo a uma consciência de como lidar com ele. Esse é um dos pilares mais importantes, pois sem essa consciência qualquer ferramenta é inútil – por mais moderna e tecnológica que seja.
Vejam que outras culturas têm visões diferentes da relação com o dinheiro. Muitos podem se surpreender, mas o capitalismo nasceu do protestantismo. Isso porque os protestantes consideram a riqueza uma exaltação a Deus. Atentem que essa riqueza a que se referem os protestantes não significa ganância, o uso que se faz dela deve ser para o bem da criação de Deus, ou seja, a humanidade como um todo – e não somente para o próprio indivíduo.
Caso queira saber mais sobre esse tema, leia o livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, de Max Weber. A cultura em que o indivíduo está inserido tem um papel muito importante na relação das pessoas com o dinheiro. Aqui pelos lados brasileiros, além da cultura paternalista, falta educação financeira nas escolas e, por isso, quando o indivíduo atinge a fase adulta, ele tem pouca ideia de como lidar com as finanças.
Continuando, o segundo pilar trata de ferramentas: obter o controle das suas finanças passa por fazer um planejamento. Desafio você a fazer uma avaliação rápida. Faça a seguinte simulação:
- Anote o valor total da sua receita bruta.
- Monte uma lista com o valor de todos os gastos do mês: água, luz, transporte, seguro do carro, etc., lembre-se dos descontos no salário (INSS, participação no vale-refeição, etc.) e de despesas eventuais, o cafezinho e lanche diários, passeios, presentes de aniversário e outros, etc..
- Subtraia o valor total das despesas do valor total da receita bruta.
- Verifique se o valor que sobra é o que você obtém todo mês.
Na grande maioria dos casos o valor obtido é positivo, ou seja, sobraria dinheiro, porém, para surpresa das pessoas, elas não têm aquele valor em mãos. Isso significa que “não lembram” de certos gastos – no entanto o dinheiro sai da conta bancária. Para encontrar o dinheiro “desaparecido” é necessário anotar todos os gastos efetuados ao longo do mês. Hoje existem inúmeras formas de efetuar essas anotações, incluindo vários Apps.
Escolha a que melhor se adapta a você e se esforce para criar o hábito de anotar as suas despesas. No período de um mês você vai encontrar aonde foi parar o dinheiro “desaparecido” e, então, poderá decidir se continua com aqueles gastos ou se transfere aquele dinheiro para algum investimento ou em cursos (MBA, especialização, inglês).
O terceiro pilar é a ação. Vai dar trabalho, mas os resultados são recompensadores. Para amenizar a dificuldade em pôr o planejamento em prática e anotar as despesas, procure lembrar de uma meta ou objetivo a alcançar com as suas finanças sob controle. Lembre daquele curso desejado, da viagem de intercâmbio. Lembrar do nosso objetivo nos motiva. Tudo isso é em prol de uma melhoria em sua carreira.
Para finalizar, vale mencionar que dentro do nosso planejamento financeiro é preciso reservar uma parte mensal para os nossos projetos, outra para criar um fundo de reserva e também uma parte para doações – um mundo melhor também precisa de dinheiro.
Agora mãos à obra:
- O que você precisa melhorar em sua carreira? Ou, quais são as competências que você vai precisar em sua carreira futura?
- Quais são os treinamentos ou estudos necessários? Quanto vai custar?
- Verifique quanto tempo tem disponível para juntar o valor do treinamento e calcule quanto deve guardar mensalmente – e guarde.
- Faça o seu planejamento mensal do que vai gastar e monitore para manter sob controle.
Comece o mais cedo possível a pensar na sua aposentadoria, seja pública, privada ou com poupança própria. Quem é novo nem sempre pensa nisso, mas comece cedo, pois com valores pequenos se consegue um bom fundo para viver quando tiver mais idade.
Quando você vai começar a praticar o seu planejamento financeiro?
Sucesso!
É instrutor certificado Everything DiSC®️ formado pela Wiley Publishing, nos EUA, Coach Executivo e analista comportamental pela Sociedade Latino Americana de Coaching, associada da International Association of Coaching (IAC). Pós-graduado em sócio-psicologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, MBA em Administração de Negócios pelo Instituto Mauá de Tecnologia e engenheiro eletrônico pela Faculdade de Engenharia São Paulo. Tem mais de 40 anos de experiência em organizações de vários portes, incluindo multinacionais, onde assumiu funções de operações e executivas.