Fusões e aquisições: O que os provedores de Internet precisam fazer?
Antes de pensar em qualquer tipo de fusão, compra ou venda é preciso analisar com cautela todos os pontos legais, contábeis e fiscais que impactam na negociação. As empresas devem buscar a formalização do seu negócio.
Lacier Dias, Consultor para provedores de Internet e diretor técnico das empresas Solintel, VLSM, MOGA e TARS
O Brasil vive um momento muito peculiar no mercado de provedores de Internet. Essas empresas regionais, ao mesmo tempo em que juntas oferecem uma conectividade maior que as grandes operadoras, assistem a uma profusão de fusões e aquisições, principalmente entre elas. Mas, será que essas empresas estão preparadas para realizar essas operações? Ou ainda há muitas deficiências que precisam ser corrigidas para não perder dinheiro, investimentos e negócios disponíveis?
O cenário é que muitos empresários de telecom são da área de tecnologia, ou seja, entendem muito das operações técnicas, mas nem sempre foram preparados para as áreas de gestão. Diante disso, eles encontram dificuldades e barreiras relacionadas às informações contábeis, fiscais e de outras naturezas que são muito críticas em um processo de fusão, compra ou venda.
Sem uma contabilidade especializada, os empresários do ramo perdem mais do que ganham: deixam de ter acesso a linhas de crédito; não captam os recursos; e perdem investimentos. Todo esse processo acaba, em grande parte, permanecendo na informalidade e dependendo exclusivamente de investimento próprio para continuar crescendo.
Por isso, antes de pensar em qualquer tipo de fusão, compra ou venda é fundamental analisar, além da rede, todos os pontos legais, contábeis e fiscais que impactam na negociação. E muito importante: as empresas devem buscar a formalização do seu negócio.
As portas que se abrem com a formalização compensam os custos, já que boa parte das operações acaba sendo administrada de forma doméstica. No passado funcionou, mas hoje não é possível e as multas são pesadíssimas.
É preciso ter claro qual é o motivo para negociar a empresa. Por que vender? Por que fundir? Por que comprar? É para minimizar uma possível concorrência? Existe dificuldade de sucessão familiar?
Muitas questões devem ser analisadas. Uma preocupação cada vez mais latente é se os fundadores estão preparando os filhos para tocar o negócio. Alguns se formam em engenharia, administração ou em direito, tudo para entender sobre o negócio da família.
Como telecom é um segmento complexo e custoso, porém significativamente rentável, se bem administrado, uma venda ou fusão tem que fazer sentido e é uma decisão que deve ser pensada e avaliada. É preciso ter lógica, estratégia e contar com especialistas no assunto para tomar uma decisão assertiva para todos os envolvidos.
Uma questão bem crítica para a continuidade do negócio, por exemplo, é a legalidade do uso dos postes. De que adianta uma grande carteira de clientes se a infraestrutura estiver sucateada ou impossível de legalizar? Outros itens que incrementam o valor da empresa no mercado são a organização financeira, a organização técnica, o respeito às regras de mercado, o detalhamento contábil e fiscal, etc.
A dificuldade para chegar a um valor de venda de uma empresa regional ou de médio porte, passa também pelo desafio de levantar informações contábeis que reflitam a realidade da operação. Receitas, custos, fluxo de caixa, custo para ampliar a estrutura, projeções e perspectivas futuras de investimento e crescimento, etc. Depois desta análise, é possível chegar ao valor da empresa. Claro que o processo todo é muito mais complexo e detalhado do que o resumo listado aqui.
Porém, os problemas para o levantamento dessas informações têm a ver com a informalidade e pouca documentação da maioria das operações. Por isso, muitas empresas subavaliam as receitas, mantém os números de forma irregular, não solicitam notas fiscais dos fornecedores e não emitem nota de todos os clientes, entre outros aspectos. Isso mostra uma demonstração fiscal completamente fora da realidade e, claro, o valor contábil fica desalinhado com o universo concreto da empresa, impactando no ganho de capital. Não adianta ter o dinheiro para comprar uma empresa ou realizar uma fusão, se houver problemas fiscais, técnicos, financeiros, de gestão, etc.
Resolvidas essas questões e depois de passar um pente fino na operação da empresa e deixá-la preparada para fusão ou venda é preciso enfrentar outros desafios, e um deles diz respeito à gestão, principalmente no caso de uma fusão.
Quando duas ou mais empresas se juntam, ainda mais se são de pequeno ou médio portes, há incongruências na gestão dos setores. Nesses casos, podem haver divergências técnicas, financeiras e de gestão e os setores passam a competir por poder entre si, o que não é saudável em nenhum aspecto.
Então, qual é a solução mais saudável para uma processo de fusão, aquisição ou venda? Criar uma governança corporativa pode ajudar muito. Esse processo exige muita maturidade e desapego. São muitos detalhes que devem ser analisados pelas empresas para prepará-las para uma nova fase. Neste sentido, é necessário que os “antigos” donos negociem com os “novos” e/ou com os novos sócios sobre qual vai ser o papel de cada um na nova empresa. Novamente, tudo deve estar muito bem organizado para que não haja nenhum problema no futuro e o processo engesse ou leve a empresa a se tornar um péssimo negócio.