GPON e xGPON nas redes de acesso banda larga
Operadoras e provedores de Internet de todo o país já iniciaram a jornada para atualizar as suas redes de acesso. No radar dessa modernização está a tecnologia GPON, uma rede óptica passiva com capacidade Gigabit, e sua evolução natural é a xGPON.
Simone Rodrigues, Editora da Infra News Telecom
As redes de fibra óptica estão se espalhando por todo o país para atender à crescente demanda por maior largura de banda exigida pelas novas aplicações e a popularização dos dispositivos móveis. Operadoras e provedores de Internet já iniciaram a jornada para atualizar as suas redes de acesso com o objetivo de ganhar competitividade e gerar novas fontes de receitas. No radar dessa modernização estão os investimentos na tecnologia GPON, uma rede óptica passiva com capacidade Gigabit.
Basicamente, a tecnologia utiliza uma topologia ponto-multiponto com divisores ópticos passivos (splitters), permitindo que uma única fibra óptica seja compartilhada por múltiplos usuários, sem o emprego dos onerosos elementos ativos instalados no ambiente das operadoras de telecomunicações e provedores de serviços (OLT – Optical Line Terminal) e dos assinantes (ONU – Optical Network Unit). Essa característica reduz tanto o Capex como o Opex, já que a sua instalação requer menos infraestrutura física, diminuindo consideravelmente o custo de implementação, operação e manutenção.
Maior largura de banda
A GPON foi padronizada pela ITU-T G.984 e desenvolvida a partir da necessidade das operadoras por maiores larguras de banda para downstream e upstream, além de mais eficiência e variedades de serviços. Ela permite uma taxa de divisão de 1:128, ou seja, cada porta PON suporta até 128 terminais de rede óptica.
A tecnologia tem capacidade de tráfego assimétrica, com velocidades de 2,5 Gbit/s em downstream e 1,25 Gbit/s em upstream. “Além da alta capacidade de transmissão, parte da rede de distribuição é compartilhada por vários usuários, diminuindo espaço para racks e consumo de energia elétrica, por exemplo”, comenta Diego Zaniol, gerente de segmento da Intelbras, empresa nacional de equipamentos e soluções tecnológicas de segurança eletrônica, redes e telecom.
Segundo Zaniol, há um grande potencial de negócios para a tecnologia GPON no Brasil. Muitos provedores de Internet ainda utilizam redes baseadas em GEPON – Gigabit Ethernet Passive Optical Network, com velocidade simétrica de 1,25 Gbps e capacidade para até 64 ONUs por OLT. “Muitos já estão migrando ou construindo novas redes usando o GPON. Essa infraestrutura deve atender essas empresas por um bom tempo”.
O foco da Intelbras em GPON são os provedores de Internet. Para ganhar espaço nesse setor, a companhia desenvolveu uma ONU compatível com protocolos GEPON e GPON. “A grande vantagem é que é possível aproveitar os investimentos realizados nos equipamentos legados. Além disso, a migração pode ser feita em poucas horas e é transparente para o usuário”, acrescenta.
Com produção nacional, o equipamento conta com função de roteamento PPPoE – Point-to-Point Protocol over Ethernet, permitindo ao provedor fazer a autenticação do cliente sem a necessidade de um roteador. É configurado de acordo com o protocolo IPv6 e pode ser instalada em caixas de distribuição junto a switches.
Em 2018, a empresa lançou uma OLT nacional. De acordo com Zaniol, com esse passo a empresa ganhou ainda mais competitividade. Assim como as ONUs, os produtos têm os benefícios de financiamento pelo BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Outra novidade é o software de gerenciamento, que permite monitorar os assinantes a partir de um único ponto. O software é gratuito e pode ser instalado em redes legadas. O portfólio da Intelbras também inclui os passivos, como splitters, cabos, conectores e caixas de emenda.
Outra empresa nacional com foco no mercado de provedores de Internet é a Cianet, com sede em Florianópolis, SC. A companhia tem uma linha completa de soluções para redes GPON, incluindo equipamentos ativos (OLT e ONU) e passivos, cabos drops, caixas de emenda, além de máquina de fusão. Nesse último caso, a empresa conta com a parceria com a japonesa Fujikura.
Para Hellen Donato, líder de produtos da Cianet, as redes GPON são as mais indicadas para operadoras e provedores de Internet com um alto número de usuários e serviços. “O custo da tecnologia ainda é elevado para os pequenos provedores, em comparação a tecnologia GEPON. Mas ela é uma grande tendência, principalmente, por oferecer maior largura de banda e baixo custo de manutenção”.
xGPON
A evolução da GPON é a xGPON, também conhecida como 10-GPON. A tecnologia foi desenvolvida pelo ITU-T e definida pela norma G.987. Tem comprimento de onda de 1270 a 1577 nm e permite uma taxa de divisão de 1:256.
Nicolas Driesen, especialista em vendas técnicas da Huawei, lembra que a tecnologia pode coexistir com as redes GPON atuais com a vantagem de oferecer maior capacidade por ramo de fibra da rede (10 Gbit/s em downstream e 2,5 Gbit/s em upstream). “O investimento da operadora é protegido. É preciso trocar a placa da OLT atual e a ONU do assinante. O maior custo é passar a fibra. Com a infraestrutura de cabo pronta, as operadoras podem expandir e utilizar a rede para vários serviços simultâneos, inclusive backhaul móvel, com o mesmo chassi e sem mexer na planta externa”.
XGS-PON
A XGS-PON segue as mesmas características da 10-GPON, porém oferece velocidades simétricas de 10 Gbps para dowstream e upstream.
Driesen, da Huawei, acredita que muitas operadoras devem optar pela XGS-PON, já que a demanda por capacidade e interfaces de 10 Gbps simétricas começa a se tornar realidade.
No mercado corporativo, as aplicações baseadas em cloud são um exemplo, já que elas dependem de uma conexão estável para o aproveitamento de todos os seus recursos de forma confiável e eficiente.
Já o backhaul móvel para redes 4,5G e 5G requer 1 Gbps por site para downlink e uplink, além de baixa latência. Nas residências os conteúdos 4k, 8k e VR/AR devem ganhar espaço. Segundo estudos da Huawei, até 2020, em todo o mundo, cada usuário vai exigir capacidades de 1 Gbps, principalmente por conta de conteúdos em 8 k – no 4k cada usuário, em média, consome 35 Mbps.
“Hoje o maior entrave da xGPON é o custo da ONU, que chega a ser três vezes maior do que na GPON. Mas isso deve mudar em breve. A tecnologia vem sendo adotada e discutida por operadoras em todo o mundo, principalmente na Ásia, e há vários testes em andamento, inclusive no Brasil”.
Denominada MA5800, a plataforma da Huawei suporta as tecnologias de acesso GPON, xGPON e XGS-PON. Também está preparada para tecnologias futuras como TWDM-PON (40 Gpbs) e 100G PON. “Somos pioneiros em 100G PON”, destaca Driesen, acrescentando que a solução tem uma arquitetura distribuída e função de agregação.
Opcionalmente, a companhia oferece o software de gerenciamento N2510, capaz de corrigir os pontos de falha de forma proativa, com localização rápida e precisa exibidas de maneira intuitiva em uma topologia lógica.
Automação e virtualização
Na visão de Renato Bueno, gerente de marketing da Nokia para América Latina, o desafio das operadoras e provedores de Internet vai além das altas taxas de velocidades oferecidas pela fibra óptica e passa pelo reaproveitamento da infraestrutura legada, virtualização e automação, com os conceitos de SDN – redes definidas por software e NFV – virtualização das funções da rede. “Para dar conta de novas aplicações, como o 5G, sem aumentar o custo da operação, é preciso pensar em redes abertas, virtualizadas e com automatização fim a fim. A Nokia enxerga o mercado de acesso como redes inteligentes. Esse modelo inclui plataformas mais rápidas, capazes de aproveitar a infraestrutura existente e de oferecer uma melhor experiência para o usuário, independente da tecnologia utilizada”.
Como exemplo de grandes consumidores de serviços baseados em 5G, ele cita as indústrias, com robôs cada vez mais presentes em diversos segmentos, e os carros conectados. “Para atender mercados tão variados e com serviços cada vez mais personalizados, a arquitetura dependerá de alta largura de banda com velocidades simétricas, baixíssima latência e agilidade. Mais uma vez a automação e a virtualização serão fundamentais para implementar funções de rede sob demanda”.
Casos de uso
A Algar Telecom começou a implantar GPON em 2012. Hoje, 14% da sua base total de banda larga, com aproximadamente 600 mil portas, é atendida pela tecnologia. A companhia tem uma rede de fibra óptica com 48,5 mil km de extensão, cobrindo mais de 300 cidades em oito estados do país.
Segundo Luis Antônio Andrade Lima, diretor de tecnologia da Algar Telecom, até o final de 2018, a empresa terá 300 mil homepass GPON, cobrindo 50% de sua planta de banda larga. “Por enquanto, o GPON atende as nossas necessidades. Mas o xGPOn é o caminho natural para a criação de redes de alta capacidade, com flexibilidade de alocação de recursos de banda e capilaridade para as futuras tecnologias, como o 5G”, diz o executivo, acrescentando que a companhia já iniciou testes com o xGPON e esta discutindo a viabilidade do XGS-PON para começar os trials. “O custo do XGS-PON ainda é inviável. Mas é uma questão de tempo para a tecnologia ganhar escala”.
Uma das estratégias da Algar Telecom é avançar no mercado corporativo. Nesse sentido, o xGPON e XGS-PON terão um papel importante para viabilizar os novos serviços. Lima dá como exemplo o SD-WAN, que leva a flexibilidade das redes definidas por software para a WAN. “Já iniciamos a implantação do SD-WAN e temos clientes ativos. O GPON e as suas evoluções vão garantir que esse e outros serviços possam ser entregues com qualidade e confiabilidade”.
Com 10 anos de atuação, a Fibralink, provedor de Internet, de Marabá, PA, utiliza tecnologia GPON em toda a sua infraestrutura de última milha. “A GPON deve atender as necessidades dos nossos assinantes por um bom tempo. A nossa infraestrutura já está preparada para xGPON”, comenta Rodrigo Barroso Gonçalves, diretor executivo da Fibralink.
A rede óptica da empresa tem mais de 1000 km de extensão e cobre as cidades de Marabá e Parauapebas. São quatro anéis Metro Ethernet de 40 Gbps, com 10 chassis e 16 placas GPON.
A Fibralink oferece serviços de Internet banda larga para usuários residências e corporativos, com velocidades de 10, 15 e 20 Mbps, além de links dedicados sob consulta.