Infraestrutura hiperconvergente reduz custos e simplifica a gestão do data center
A infraestrutura hiperconvergente, que integra num único “bloco” os principais componentes de TI, garante a empresas de diferentes setores maior eficiência e redução de custos, além de facilitar os trabalhos de manutenção.
Verônica Couto, colaboradora da Infra News Telecom
A infraestrutura hiperconvergente (HCI) tem atraído empresas de diferentes setores. Os principais benefícios da tecnologia, que permite integrar num único local os principais componentes de TI (servidores, elementos de rede e armazenamento), estão ligados à produtividade operacional, segundo fornecedores e usuários, que buscam na plataforma simplificar a gestão e expandir a capacidade de recursos, de forma rápida e a custo mais baixo.
A possibilidade de centralizar o gerenciamento dos ambientes de processamento é outra questão importante para companhias de varejo, mineração e outros segmentos que têm subsidiárias pelo mundo, observa Daniel Peruchi Minto, especialista de vendas e desenvolvimento de negócios de data centers da Cisco. “Com uma infraestrutura hiperconvergente é possível diminuir a complexidade e ganhar uma escalabilidade muito boa.”
Um exemplo é a Tokio Marine, primeira seguradora do país a implementar uma infraestrutura de TI hiperconvergente. Como resultado, a companhia aumentou em dez vezes a capacidade de processamento do seu data center e reduziu à metade o custo do seu investimento, em relação ao modelo tradicional. “Um ganho espetacular”, avalia Wilson Leal, diretor de tecnologia da empresa.
A HCI da Tokio Marine proporcionou queda de 65% no consumo de energia e menor custo de co-location, porque oito racks viraram apenas um. Mas a maior vantagem, ressalta Leal, foi a integração por link de dados do processamento local com os dois ambientes de nuvem – Azure e AWS. Outra questão é a simplificação extrema do gerenciamento. O data center principal está em co-location e o ambiente de disaster recovery fica na própria empresa.
A opção pela tecnologia, em 2017, visou apoiar um plano arrojado de crescimento. A seguradora quadruplicou de tamanho, passando de R$ 1,6 milhão em arrecadação em prêmios, em 2011 – quando internalizou a TI terceirizada –, para R$ 6,4 milhões, em 2020, o melhor desempenho em 61 anos no Brasil. Leal conta que o projeto antecipou a demanda que viria com o perfil atual dos clientes: corretores e segurados mais conectados, intensivos nas redes sociais e trabalhando em multicanais.
Concluída em seis meses, a migração da companhia incluiu servidores, rede e storage. “O HCI traz uma nova cultura, na qual todos esses componentes estão integrados ‘na mesma caixa’, gerenciados por software”, explica Leal. “Se colocar mais um hardware, mais uma caixa, ela se integra e expande automaticamente o ambiente, sem que seja preciso ficar reconfigurando.”
O aspecto mais complexo da implementação, na avaliação do diretor da Tokio Marine, foi dimensionar a plataforma. “Tínhamos 80 servidores. Qual o tamanho do data center hiperconvergente para conseguir a mesma capacidade de processamento, com uma margem de crescimento de 10% ao ano, por exemplo?” No início, ele reconhece que houve erros nesse cálculo, que foram sendo ajustados ao longo do ano, por meio de uma ferramenta da Dell EMC, fornecedora e parceira do projeto.
Os próximos passos preveem a expansão de capacidade e o balanceamento entre nuvem e on-premise. “Nunca devemos estar 100% na nuvem, devido à barreira ainda gigante de custo e ao risco intrínseco de adotar uma tecnologia só”, justifica o diretor de TI da Tokio Marine.
Já a cooperativa Sicoob Cocred, com sede em Sertãozinho, SP, e 43 mil associados, investiu R$ 5 milhões em um data center HCI, com apoio da integradora LGTi, para dar conta da demanda crescente por atendimento remoto aos clientes, em canais online, provocada pela necessidade de distanciamento social devido à pandemia da Covid-19. Este ano, a cooperativa conclui o segundo data center, que se interligará ao primeiro com anel de fibra óptica, e produtos de replicação da Nutanix.
Na Cocred, partiu-se do princípio “de que a solução de HCI precisava ser modular e permitir uma expansão rápida e prática”, afirma Ademir José Carota, superintendente administrativo da cooperativa. Segundo ele, o Centro Tecnológico Cocred, batizado Décio Rosa em homenagem a um dos fundadores, é o maior projeto no modelo no interior de São Paulo. O NOC – centro de operações de rede oferece visão de todo o ambiente tecnológico.
A plataforma hiperconvergente permitiu dobrar a capacidade de armazenamento. Uma malha de comunicação criptografada (DMVPN), com links redundantes, tanto na sede como em cada uma das 32 agências, é responsável pelas rotas de dados até o Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), em Brasília, 24 horas por dia, 365 dias por ano. A cooperativa adotou a tecnologia de HCI e de segurança da Nutanix, sistema de proteção de dados Veeam e de conectividade. O software flow faz a parte de controle e segurança, permitindo a microssegmentação de rede. Tudo on-premise.
A estrutura anterior incluía dois data centers com servidores IBM blade e storage center. “A capacidade de armazenamento estava baixa para as necessidades de negócios, interferindo no trabalho interno, na performance de processamento e na velocidade de rede”, lembra o superintendente da Cocred. A empresa também queria mais eficiência energética, integração e inteligência na gestão.
Uma outra empresa que adotou a infraestrutura hiperconvergente com sucesso foi a Universidade São Francisco. A arquitetura permitiu à instituição, com mais de 16 mil alunos, uma redução de 30% no consumo de energia elétrica, desativou storages e diminuiu a quantidade de racks. Basicamente, o processo de migração para HCI foi feito em três fases: testes e validação da solução; efetivação dos workloads; e uma nova contratação prevendo o crescimento da estrutura, principalmente para as atividades de EAD (educação a distância) da universidade.
De acordo com Leonel Oliveira, diretor geral da Nutanix no Brasil, clientes já relataram reduções de 80% a 90% no espaço do data center, com grande economia em despesas diretas, após a implantação de HCI. A tecnologia também é relevante em serviços críticos e emergenciais, como data centers de hospitais que não podem parar. “Um único cluster pode ter nós ilimitados, com tipos diferentes de nó, com recursos de memória, CPU e quantidade de armazenamento diferentes, para vários workloads.”
“A hiperconvergência é uma grande tendência”, avalia Minto, da Cisco. Ganhou força para a operação unificada de ambientes distintos, inclusive daqueles em nuvem coexistindo com uma parte local. “HCI é um bloco fundamental para montar esse data center altamente eficiente e simples de gerenciar dentro de casa, operando o conjunto da forma mais próxima de como a nuvem funciona.”
Uma pesquisa da Nutanix mostra que 69% dos tomadores de decisão do Brasil têm nuvem híbrida e estavam implantando ou já haviam concluído projeto de HCI. No levantamento, o país sai na frente da adoção da tecnologia: 54% afirmaram que já implementaram ou estão em processo de implementação de HCI, em comparação a 50% dos entrevistados globalmente e a 48% na região das Américas.