Inteligência artificial: As empresas conhecem todo o potencial da tecnologia?
Prof.ª e Dra. Alessandra Montini
Estou muito certa de que a IA – inteligência artificial vai continuar caminhando para se tornar a tecnologia mais transformadora que a humanidade já desenvolveu até agora. Não se trata de uma afirmação ambiciosa, afinal, estamos usando essa tecnologia para enfrentar uma pandemia sem precedentes, entender as mudanças climáticas, explorar o espaço, desenvolver tratamentos e tantos outros desafios.
No entanto, em alguns setores precisamos saber usá-la de maneira efetiva, principalmente nas empresas. Durante esse tempo de enfrentamento de crise, vimos muitas companhias investirem em tecnologias para manter seus “negócios girando”. Esta, inclusive, era a única opção durante as normas de distanciamento social e saiu na frente quem soube aproveitar o momento para entrar no universo online.
Mas o que estamos assistindo são inúmeras empresas inserindo tecnologias e não sabendo, de fato, utilizá-las. Isso acontece, por exemplo, com a adoção de inteligência artificial nas companhias. Poderia ser revolucionário, mas a partir do mau uso, pode se tornar apenas uma ferramenta que não diz tanto quanto poderia.
De acordo com o estudo “O estado da IA responsável: 2021”, produzido pela FICO, quase dois terços (65%) das organizações que adotaram IA não conseguem explicar como as decisões ou previsões dos modelos que utilizam são feitas. Além disso, ela indicou que 39% dos membros de conselho (e 33% das equipes executivas) têm entendimento incompleto sobre ética da IA e 73% afirmam que têm enfrentado dificuldades para obter suporte executivo para priorizar a ética e as práticas responsáveis de IA.
Quase metade (49%) dos executivos entrevistados relatou aumento nos recursos investidos em projetos de IA no último ano. E apenas 39% afirmam que estão investindo em governança durante o processo de desenvolvimento, enquanto 33% dizem que estão prestando pouca atenção ao monitoramento e manutenção dos modelos em produção.
Não usar todo o potencial de uma tecnologia pode frear todos os seus avanços e não trazer nenhum tipo benefício para a empresa. Além disso, não podemos esquecer que a IA, como tantas outras tecnologias, precisam ser usadas com ética e responsabilidade. Por aqui, parece que estamos longe de entender tudo isso.
Alguns dados levantados pelo estudo “2020 Government AI Readiness Index”, realizado pela Universidade de Oxford, mostra o Brasil apenas na 63ª posição do índice de preparo para inteligência artificial. Na América Latina, ocupamos apenas o 6º lugar. Claro que há um certo abismo se compararmos o investimento dos EUA e da Europa para com o restante do mundo. Entretanto, no caso do Brasil, uma posição tão baixa, atrás até mesmo de economias bem menos poderosas, liga o sinal de alerta para o desenvolvimento tecnológico nacional.
Nos próximos anos, ouviremos muitos serviços sendo transformados em IA, mas precisamos estar atentos, porque “nem tudo o que reluz é ouro”. O ideal é apostarmos com mais clareza quanto a essa tecnologia. Esta é uma possível alternativa para sairmos da estagnação que o Brasil enfrenta quando o assunto é inteligência artificial.
Diretora do LABDATA-FIA, apaixonada por dados e pela arte de lecionar, Alessandra Montini tem muito orgulho de ter criado na FIA cinco laboratórios para as aulas de Big Data e inteligência Artificial. Possui mais de 20 anos de trajetória nas áreas de Data Mining, Big Data, Inteligência Artificial e Analytics.
Cientista de dados com carreira realizada na Universidade de São Paulo, Alessandra é graduada e mestra em estatística aplicada pelo IME-USP e doutora pela FEA-USP. Com muita dedicação, a profissional chegou ao cargo de professora e pesquisadora na FEA-USP, e já ganhou mais de 30 prêmios de excelência acadêmica pela FEA-USP e mais de 30 prêmios de excelência acadêmica como professora dos cursos de MBA da FIA. Orienta alunos de mestrado e de doutorado na FEA-USP. Membro do Conselho Curador da FIA, é coordenadora de grupos de pesquisa no CNPq, parecerista da FAPESP e colunista de grandes portais de tecnologia.