Inteligência artificial na saúde: Oportunidades, desafios e soluções
Francisco Neri, Chief Medical Informatics Officer, obstetra e ginecologista do Grupo Santa Joana
Assim como ocorreu com a eletricidade, há mais de 100 anos, as novas tecnologias relacionadas à IA – inteligência artificial transformarão todas as indústrias. O setor de saúde, em particular, está prestes a passar por uma grande mudança. A IA traz como promessa revolucionar a disponibilidade de dados de saúde e o progresso das técnicas analíticas em novas formas de prevenção, tratamento e acompanhamento das condições do paciente. Os modelos de gestão e remuneração também estarão nesse processo.
A inteligência artificial reduz o esforço humano em tarefas administrativas e analíticas, permitindo a médicos e hospitais se concentrarem em áreas que realmente requerem intervenção humana. Na verdade, soluções de IA já economizam milhões de dólares para os hospitais todos os anos.
Até 2025, 90% dos hospitais dos EUA usarão inteligência artificial para salvar vidas e melhorar a qualidade de atendimento. Metade dos executivos de hospitais norte-americanos está investindo em novas soluções de inteligência artificial. A Accenture prevê que o mercado mundial de IA na assistência médica valerá US$ 6,6 bilhões até 2021. No Brasil, um estudo do Banco Mundial mostra que o uso da inteligência artificial aplicado à análise do prontuário eletrônico poderia gerar uma economia de R$ 22 bilhões ao evitar repetições desnecessárias de exames e tratamentos.
Embora existam muitos casos de sucesso na área da saúde há vários desafios a serem transpostos. Neste momento, apenas começamos a ver o potencial impacto desta tecnologia. Para que seja empregada em seu mais alto nível será necessário que pessoas, processos e tecnologia trabalhem em harmonia.
Infelizmente, comparado a outros países, o Brasil está atrasado no entendimento e no emprego da informática em saúde de uma maneira geral. Muitos gestores desejam incorporar IA, mas não sabem a melhor forma de fazê-la. Tanto no âmbito privado como público, o problema central não é a escassez de tecnologia, mas sim a falta de planejamento, governança e métodos de financiamento.
Mas então, por onde começar? Não importa onde você está, e sim aonde você quer chegar. Independente da maturidade de seu uso da tecnologia, você deverá agregar à operação da TI inovações e estratégias de incorporação de novas tecnologias.
Mapeie os seus problemas e priorize as demandas. O emprego da inteligência artificial trará novos custos. Comece pequeno. Sua estratégia digital precisará de um método claramente definido para medir o ROI – retorno de investimento. Estabeleça qual o mínimo produto viável com o maior valor agregado. A inteligência artificial pode gerar valor automatizando tarefas humanas repetitivas e identificando tendências para a tomada de decisão. Muitas instituições de saúde começam por sua área financeira.
Crie um ciclo virtuoso para impulsionar investimentos. Projetos menores de sucesso apoiando a melhoria de seus dados, a expansão de sua compreensão de IA e iniciativas cada vez maiores e mais transformadoras.
Aprimore a sua estratégia e curadoria de dados. Não faz sentido aplicar aprendizado de máquina em dados que você não confia. Identifique os projetos que podem aproveitar os seus dados existentes.
Conhecimento especializado é o ativo estratégico que fará diferença. Busque profissionais e instituições que compreendam a inteligência artificial no contexto da saúde. Um bom começo: a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde.
Persiga sempre o equilíbrio entre a tecnologia e o toque humano. A principal ideia por trás do emprego destas tecnologias não é a substituição do profissional de saúde por máquinas, mas sim ampliar o pensamento humano, a tomada de decisão e a criatividade. Trazer para o ambiente clínico a capacidade de gerenciar enormes quantidades de dados, melhorando o fluxo de trabalho em prol de uma medicina mais humana, segura e eficaz.
Mantenha o paciente no centro de seus esforços. Cerca de 90% das informações importantes para a determinação da saúde do paciente não estão no prontuário eletrônico, mas sim nos seus hábitos cotidianos. Conquistar o seu engajamento e transformar estas informações em dados úteis e combinados à IA é o que vai revolucionar a saúde. Auxiliar o paciente a monitorar a sua própria saúde e ao mesmo tempo aprimorar a experiência de cuidado pode ser a oportunidade que você buscava para usar inteligência artificial.
Para concluir, a disrupção da saúde pela IA é iminente. Para ser bem-sucedido foque as suas iniciativas no “quadruple aim”: melhores resultados, menor custo, aperfeiçoamento da experiência do profissional e aprimoramento da experiência do paciente.
É Chief Medical Informatics Officer, obstetra e ginecologista do Grupo Santa Joana. Especialista em Health Informatics pela Unifesp, Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês e pela Sociedade Brasileira de Informática em Saúde, Neri possui experiência na implementação e estudo de tecnologias voltadas para a saúde desde 2010.