IoT – Internet das coisas na indústria 4.0
Cesar Poppi, executivo sênior de TI da TE Connectivity
Ainda quando eu estava no colégio nas aulas de história e estudando as três revoluções industriais ocorridas até então, jamais imaginava que poderia presenciar bem de perto a próxima revolução. É isso mesmo, a indústria 4.0. Quanto tempo ela vai levar e que resultados teremos, acredito que somente nossos filhos ou netos terão a oportunidade de estudar no colégio como fizemos com as anteriores, porém a pergunta mais relevante no momento é: De que forma podemos fazer parte de tudo isso?
Uma primeira resposta é se aproximar cada vez mais da tecnologia. Para as empresas não será possível fazer isso sem departamentos de engenharia e tecnologia da informação fortes e antenados com o que existe de mais moderno. A grande diferença desta revolução, comparado com as anteriores, é que ela está ocorrendo muito mais rápido.
Pensando na evolução da tecnologia, saímos de um tempo onde nada era conectado porque não existiam as redes de dados. O dado era analógico e muito pouco podia ser medido ou controlado. Isso melhorou muito depois da criação das redes locais (LANs), com os dados sendo transmitidos para bases mais centralizadas. O grande problema nesta época era que poucos dispositivos permitiam a medição e geração de dados para a tomada de decisão.
Agora, entramos na fase das redes convergentes e na grande revolução digital por meio da Internet das coisas, onde é possível medir praticamente tudo com o uso de sensores, chips, tags inteligentes, câmeras e plataformas tecnológicas mais avançadas. Com isso, pode-se criar uma camada digital mesmo em um mundo físico. Todos os dispositivos ou máquinas precisam estar conectados de alguma forma nesta rede por meio do IoT.
Pensando nesta camada digital para a indústria, um dos primeiros passos é digitalizar os ativos para o planejamento e controle dos mesmos. A digitalização de todos os elementos ativos, documentos e cenários permite um prognóstico da planta. Além disso, a interconexão da logística com fornecedores possibilita a gestão em tempo real de insumos para a produção, que é um dos gargalos mais desafiantes na indústria.
Não poderia ser diferente, os desafios para se chegar neste patamar são enormes. A partir do momento que os diversos equipamentos espalhados pela fábrica são digitalizados, cada um com uma característica diferente e solução única de digitalização e protocolo de comunicação, cria-se o desafio de conectar essas redes isoladas na rede de dados tradicional.
Um exemplo simples é a medição do consumo de água em um determinado processo produtivo. Hoje, existem sensores que fazem essas medições e podem ser conectados em dispositivos conversores que incluem esses dados dentro da rede tradicional. É possível medir qualquer coisa por meio de dispositivos similares. Uma vez que o dado foi convertido e já está trafegando na rede, ele pode ser transformado para gerar a visão ou informação que for necessária.
Os benefícios esperados com a digitalização dos ativos de uma indústria são enormes. Um modelo interconectado gera uma grande economia. Pode-se reduzir operações ou paradas de máquinas, melhorar o uso dos equipamentos, fazer manutenções preditivas, aumentar a velocidade de tomada de decisão, diminuir os riscos na tomada de decisão, simplificar as operações, ganhar de tempo e, o mais importante, gerar novas oportunidade de negócios.
Tudo isso é reflexo da evolução da tecnologia, mas a grande evolução que marcará a indústria 4.0 será quando as indústrias tiverem toda a sua operação virtualizada. Criar um ambiente eletrônico e virtualizado, idêntico e paralelo ao ambiente físico e real. Com isso, será possível simular processos produtivos até chegar no cenário ideal, antes colocá-lo em prática. Dessa forma, as indústrias terão maior exatidão na cotação de novos negócios e poderão diminuir os custos altíssimos para montar uma linha produtiva nova e ajustá-la até ficar equilibrada.
A manutenção das máquinas também sofrerá uma grande revolução com o uso da tecnologia de realidade aumentada. Com o modelo ideal dentro da operação virtualizada ou “fábrica virtual”, no momento da manutenção, com o auxílio, por exemplo, de um óculos inteligente, como o Google Glass, a captura de imagens reais poderá ser feita e comparada, em tempo real, com os modelos predefinidos. Com isso, será possível identificar em pouco tempo as diferenças e tomar as devidas ações.
Talvez você, empresário ou gestor, esteja se perguntando sobre os riscos desses dados caírem em mãos erradas, uma vez que no modelo tradicional a única forma de ter acesso a qualquer informação confidencial é por meio do acesso físico às dependências da empresa. Porém, com a digitalização de tudo, isso pode ser trafegado por meio de equipamentos sem fio, Internet e armazenados em nuvem ou servidores internos.
O modelo atual de segurança de dados já está bastante maduro, mas essa evolução da indústria exigirá cada vez mais evolução dos padrões, sistemas robustos e processos de segurança, principalmente porque dispositivos que nunca se conectaram a nada passarão a se conectar e transmitir dados na rede.
A indústria 4.0 já é uma realidade e ela fará parte das nossas vidas por muitos anos. A Internet das coisas definitivamente veio para ficar e fazer essa transformação industrial acontecer de forma brilhante. Não existirá esta nova revolução industrial sem a IoT e, por mais que essa tecnologia seja melhor percebida por todos, quando a cervejeira se conecta à Internet e é possível saber exatamente o momento em que o nível de cerveja está baixo, o verdadeiro valor dela será percebido nas indústrias.
Se você também é apaixonado por este tema como eu, fique à vontade para enviar uma mensagem para um bate-papo. Até o próximo artigo.
É executivo sênior de TI na TE Connectivity desde 2010. É responsável pelas área de aplicações na região Américas. Formado em processamento de dados pelo Mackenzie, o executivo possui ainda especialização em gestão de projetos e SAP. São 24 anos de experiência no mercado de TI com passagem por empresas como Grupo Accor, Ericsson, Voith, Folha de São Paulo, Unisys e Citibank.