IoT – Internet das coisas na indústria
A IoT – Internet das coisas terá um impacto de US$ 11 bilhões a US$ 25 bilhões apenas na indústria brasileira, até 2025. Na economia do país esses valores poderão representar 10% do PIB – Produto Interno Bruto, alcançando US$ 200 bilhões por ano no mesmo período.
Simone Rodrigues, Jornalista da Infra News Telecom
Até 2025, a IoT – Internet das coisas terá um impacto de US$ 11 bilhões a US$ 25 bilhões apenas na indústria brasileira, segundo o Relatório do Plano de Ação – Iniciativas e projetos mobilizadores 2017, um documento do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, em parceria como o MCTIC – Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação. O estudo, apresentando durante o Futurecom 2017, evento de tecnologia da informação e comunicação (TIC), detalha as políticas, planos de ação e estratégias para a implantação da Internet das coisas no país. “A Internet das coisas é uma oportunidade única para o desenvolvimento do Brasil. Poucos países do mundo têm uma política pública estruturada para a tecnologia. Queremos, não só colaborar com o desenvolvimento econômico, mas também melhorar a vida dos brasileiros. Os benefícios para o país poderão chegar a US$ 200 bilhões por ano até 2025, representando 10% do PIB – Produto Interno Bruto atual”, disse o secretário de política de informática do MCTIC, Maximiliano Salvadori Martinhão.
Um estudo do McKinsey Global Institute, mostra que o impacto da IoT na economia mundial será entre US$ 4 trilhões e US$ 11,1 trilhões por ano até 2025. Embora as atenções do setor estejam mais voltadas para produtos de consumo, grandes inovações ligadas a IoT acontecem na indústria, onde a combinação de dados de sensores e algoritmos analíticos sofisticados permitem que empresas agilizem os processos de negócios, aumentem a produtividade e desenvolvam produtos de alta qualidade. “A produtividade da indústria brasileira pode aumentar em 40% com a melhoria do controle de estoques e logística. No agronegócio a IoT irá permitir elevar a produção agrícola em 49 milhões de toneladas até 2025, utilizando-se, por exemplo, sensoriamento das lavouras e rebanhos”, completou Martinhão.
Internet das coisas em números
Expectativa até 2025
Para Carlos Alexandre Jorge Da Costa, diretor das áreas de crédito, tecnologia da informação e planejamento e pesquisa do BNDES, a Internet das coisas é uma transição para um mundo totalmente conectado. “Estamos tratando do futuro das telecomunicações e da conectividade. Os diferentes setores econômicos terão a oportunidade de ganharem competitividade e produtividade. No ambiente industrial, o estudo do BNDES propõe transformar os processos fabris mais eficientes com cadeias integradas de fornecimento, gestão inteligente de estoques e modelos de negócios de maior valor agregado”.
Desafios para a adoção da IoT
Na visão de Daniel Reck, da KRCE Consulting, empresa especializada em consultoria e projetos de soluções digitais com foco em IoT, o grande desafio das indústrias é entender como desenvolver projetos de Internet das coisas que fazem sentido para o negócio. “Engana-se quem pensa que a IoT se resume aos dispositivos, há várias camadas, como as de conectividade, tecnologia e dados. É preciso compreender quais informações serão coletadas e o que será feito com elas. Esse é o real valor da IoT”, diz o executivo, acrescentando que a tecnologia tem muito a oferecer. Suas aplicações vão além da comunicação máquina a máquina, já utilizada por muitas indústrias brasileiras com sucesso. É possível, por exemplo, trabalhar com geolocalização em ambientes fechados por meio de cruzamentos de antenas para saber exatamente onde está um equipamento, funcionário ou dispositivo que precisa ser monitorado. “Cada item produzido pode ser rastreado até a entrega ao cliente final. Toda a cadeia é automatizada. Isso não traz apenas aumento de produtividade, mas uma relação mais próxima com o consumidor, além de diminuir drasticamente erros e tempo de parada de produção, evitando prejuízos que podem chegar a bilhões de dólares”.
A KRCE Consulting desenha e implementa soluções de IoT, analisando cada tipo de aplicação para indicar as plataformas mais adequadas de acordo com a necessidade de cada cliente. A empresa já tem projetos em andamento nas áreas de energia e saúde.
José Rizzo, CEO da Pollux, integradora de sistemas de automação industrial, de Joinville, SC, traz à tona outros desafios que precisam ser vencidos para que a Internet das coisas seja adotada em larga escala pelas indústrias, entre eles a interoperabilidade dos protocolos, segurança e ações conjuntas das equipes de tecnologias da informação e de operação. Vale ressaltar que ainda não há um padrão único que permita a comunicação transparente entre os sensores e outros componentes ligados à cadeia de IoT. Mas, segundo Rizzo, os principais fabricantes do setor têm dedicado os seus esforços para a definição de um único protocolo. Como exemplo, ele cita a associação internacional Industrial Internet Consortium (IIC), da qual a Pollux faz parte e que tem como objetivo acelerar a adoção da Internet das coisas em diferentes setores da indústria. A entidade desenvolveu a Arquitetura de Referência, um documento que fornece uma linguagem comum para os elementos dos sistemas de IoT, incluindo questões relacionadas à segurança e privacidade, interoperabilidade e conectividade.
Rizzo, da Pollux: Robôs colaborativos têm um baixo custo de implantação e trabalham em linhas de montagem existentes
Com mais de 20 anos de atuação, a Pollux vem reforçando sua estratégia no segmento de IoT Industrial. A empresa trouxe para o país a tecnologia de robôs colaborativos com monitoramento remoto e que atuam em atividades repetitivas e arriscadas, oferecendo mais segurança aos trabalhadores. “ Já temos mais de 150 robôs operando. Fácil de instalar, essa solução tem um baixo custo de implantação e trabalha em linhas de montagem existentes, sem precisar de grandes modificações. Suporta cargas de até 10 kg”.
Outras soluções fornecidas pela companhia são automação de processos manuais com análises on-line, manutenção preditiva (sensores realizam o acompanhamento em tempo real de máquinas para antecipar eventuais problemas que possam causar a parada dos equipamentos) e monitoramento de rastreabilidade de ativos. A empresa já implantou sistemas IoT em diferentes segmentos, incluindo indústrias de compressores, têxtil e automotiva.
Internet das coisas – Exemplos
A Certi – Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras, de Florianópolis, SC, desenvolveu uma aplicação de manufatura automatizada de placas eletrônicas, permitindo uma produção de lotes mínimos (uma peça única) personalizados, sem a necessidade de readequação dos processos e perdas de paradas ou setup de máquinas.
Basicamente, o conceito conta com um portal onde o cliente, de maneira presencial ou remota via dispositivos móveis, customiza o tipo de sensor que será produzido. Essa informação é transmitida automaticamente para a linha de produção, onde os equipamentos estão habilitados para fazerem a adequação de forma inteligente, sem nenhum tipo de intervenção. O processo segue o seu curso até que o produto final seja validado, inspecionado e entregue. Todo o sistema é rastreado com tags de identificação para que se tenha o histórico da produção e a garantia de qualidade.
Claudio Bressan Vieira, responsável pelo desenvolvimento de negócios da Certi, diz que as principais vantagens observadas foram a rastreabilidade de ponta a ponta do processo, consulta e visualização dos dados em tempo real, garantia da segurança da informação e redução de parada para setup das máquinas de 30%. “Essa operação aumentou a disponibilidade dos equipamentos, com total flexibilidade. Assim, a utilização dos ativos foi ampliada, otimizando a linha produção”, completa o executivo.
Segundo ele, aplicações similares à manufatura automatizada de placas eletrônicas, desenvolvida para demonstração dentro do laboratório da Certi, estão sendo replicadas para clientes das áreas de eletrônica de consumo e equipamentos eletromédicos.
O instituto Cesar, um centro privado de inovação de produtos, serviços e negócios com tecnologias da informação e comunicação, de Recife, PE, desenvolveu um monitor para irrigação de plantações. O sistema realiza o monitoramento do pivô central (um equipamento de irrigação presente em culturas extensivas).
O dispositivo envia as informações do pivô central para um data center, via tecnologias sem fio, como 3G/4G, que podem ser acessadas por qualquer navegador web em computadores, smartphones ou tablets. Todo o histórico da irrigação é armazenado e é possível gerar alertas via SMS sobre paradas não planejadas. A solução também faz o rateio da conta de energia entre os pivôs baseado nas irrigações realizadas. “O equipamento pode aumentar a produtividade da produção agrícola em até quatro vezes – nos sistemas tradicionais manuais essa expansão é de 1,7%”, diz Eduardo Peixoto, diretor de negócios do Cesar.
A Hitachi Vantara, subsidiária integral da Hitachi focada em tecnologia da informação, análise avançada de dados e Internet das coisas, fornece a Lumada, uma plataforma de IoT fim a fim baseada numa arquitetura aberta capaz de realizar análises de dados avançadas, unindo inteligência artificial, machine learning e big data. “Podemos gerenciar todo o fluxo de comunicação de uma indústria, desde a coleta de dados dos sensores até ações para a tomada de decisão, integrando as tecnologias da operação e informação”, diz Marcelo Sales, diretor de soluções e produtos para América Latina da Hitachi Vantara.
Segundo Sales, a companhia tem projetos mundiais de IoT em diferentes áreas, como cidades inteligentes, segurança pública e manufatura. No Brasil, a companhia tem feito trials.
No segmento de manufatura, a proposta é ir além da comunicação máquina a máquina, adicionamento o sensoriamento a pessoas e a movimentações dos materiais, com o objetivo de aumentar a produtividade e a qualidade da produção. Basicamente, esse processo é feito por meio de softwares de análises de vídeo que verificam e interpretam o comportamento, movimentação e execução de tarefas das pessoas e da movimentação dos materiais. “Isso também evita erros humanos e traz segurança para os funcionários. Essa mesma tecnologia pode ser utilizada nos setores de segurança pública e cidades inteligentes, por exemplo”.
O mercado de data centers também está na mira da Hitachi Vantara. O objetivo é otimizar as operações de TI e automatizar os processos de um data center, integrando uma série de tecnologias para a redução de custos e gerenciamento de riscos. “Correlacionamos todas informações emitidas por software, sensores, hardwares e etc. de um data center de uma maneira holística e inteligente para disponibilizar um plano de manutenção preditiva, evitando a indisponibilidade do ambiente”.
Especializada em sistemas integrados de monitoramento e automação, a LCA Systems, de Brasília, DF, também busca seu espaço no mercado de Internet das coisas. A empresa desenvolveu um sistema de IoT capaz de monitorar diferentes ambientes, utilizando o modelo de prototipagem eletrônica de hardware livre Arduino, que tem o objetivo de tornar mais simples a criação de dispositivos e sensores eletrônicos. “Temos mais de 15 tipos de sensores que podem monitorar diversos status, como temperatura, umidade, acesso e fumaça, de forma simples e precisa. Fazemos todos os testes e calibramos o sistema para a operação de cada cliente”, diz o diretor executivo da empresa, Lucas Coelho de Almeida. Um dos focos da LCA Systems é o segmento de data centers. Seus serviços incluem auditorias, relatórios, eficiência energética e gestão de contas, além de avaliação e execução de projetos de salas, montagem de salas-cofre, análises termográficas, monitoramento como serviço, manutenção de subsistemas e facilities.
A operadora da Internet das coisas
A WND Brasil é uma operadora especializada em Internet das coisas. A empresa está presente em cinco países da América Latina (Brasil, Colômbia, México, Argentina e Costa Rica), além do Reino Unido.
Eduardo Koki Iha, diretor de negócios da WND, explica que a rede utiliza a tecnologia de longo alcance e baixa potência LPWA – Low Power Wide Area, da francesa SigFox e instalada em 34 países. “Baseada em estrela, a arquitetura é desenhada para conectar objetos e otimizada para o envio de mensagens curtas com baixo custo e mínimo consumo de energia”. Ele acrescenta que, para garantir a entrega da informação, sem interferências, cada mensagem é enviada três vezes, com três subfaixas de frequências e três tempos diferentes.
No Brasil, a rede utiliza a faixa de frequência não licenciada de 902 MHz e é capaz de cobrir mais de 30 km de distância com linha de visada direta. “É uma solução muito confiável e fácil de configurar. Cada dispositivo se conecta a uma estação radiobase com uma antena omninidirecional, que envia as informações para a nossa cloud. O planejamento de RF é simples, sem a necessidade de calcular tilts ou realizar grandes ajustes”, garante Iha. O executivo também destaca o valor do modem, que é de US$ 2,60 – um módulo GSM pode custar US$ 10. “O custo é um fator decisivo para que a IoT ganhe escala. Nós eliminamos essa barreira, com o aumento da demanda será possível conectar objetos a US$ 1”.
O modelo de comercialização da empresa é por meio de canais. São mais de 20 parceiros no Brasil que desenvolvem projetos em diferentes verticais, incluindo agronegócios, saúde e indústria. “Já temos exemplos práticos de implantação. Uma multinacional norte-americana usa a nossa rede nas suas estações metereológicas para ajudar no processo de pulverização de grãos. Uma indústria automobilística também faz o controle e rastreamento logístico de seus equipamentos de linha branca por meio da nossa infraestrutura”.
A rede está em operação em mais de 100 cidades brasileiras e cobre 80 milhões de pessoas. A WND planeja investir US$ 50 milhões em três anos e, até o final de 2018, alcançar 80% do PIB nacional. Em todo o mundo, a rede SigFox tem mais de 10 milhões de dispositivos conectados.