ISPs serão fundamentais para a difusão do 5G no Brasil
O leilão da tecnologia arrecadou cerca de R$ 47 bilhões e determinou a entrada de cinco novas operadoras de telecomunicações no país, das quais quatro adquiriram lotes regionais.
Mário Moreira, colaborador Infra News Telecom
Após o leilão da Anatel, que distribuiu os lotes da frequência de transmissão do 5G no país, os ISPs – provedores de acesso à Internet serão essenciais para a difusão da tecnologia no país, avalia o MCom – Ministério das Comunicações. O leilão, realizado no início de novembro, arrecadou cerca de R$ 47 bilhões e determinou a entrada de cinco novas operadoras de telecomunicações no país, das quais quatro adquiriram lotes regionais.
A chegada do 5G possibilitará a consolidação da IoT – Internet das coisas no país, com uma série de aplicações que demandam mais velocidade e baixíssima latência, o que permitirá novos modelos de negócio em todos os setores de atividade. O governo prevê que, por conta disso, serão feitos R$ 169 bilhões em investimentos totais nos próximos 20 anos, resultando num acréscimo de R$ 6,5 trilhões ao PIB – Produto Interno Bruto Brasileiro.
“Os provedores têm desempenhado papel fundamental na ampliação e interiorização das redes fixas de banda larga, atuando como o principal vetor de ampliação da conectividade no Brasil, contribuindo para a inclusão digital da população brasileira”, afirmou o ministério. De acordo com a pasta, por sua experiência na expansão das redes fixas no interior do Brasil, os ISPs reúnem as condições técnicas e econômicas para também operar redes móveis, inclusive baseadas na tecnologia 5G.
Um dos grupos regionais vencedores do leilão do 5G foi a Greatek, de São José dos Campos, SP. Por meio de sua controlada Cloud2U, a companhia arrematou por R$ 405,1 milhões o lote regional da frequência de 3,5 GHz com 80 MHz no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. De acordo com a empresa, a decisão foi motivada, principalmente, pela sinergia com os negócios do Grupo, que, por meio da distribuidora Greatek, já atua diretamente no mercado dos provedores regionais, desenvolvendo e fornecendo produtos para redes de FTTx. A ideia é que a Cloud2U atue como prestadora de rede neutra para esses clientes.
O plano de negócios está em desenvolvimento, ainda sem previsão exata de investimentos. A proposta é oferecer parte da infraestrutura e trabalhar na construção da rede 5G junto com os provedores regionais. “Com certeza o impacto será muito positivo do ponto de vista econômico e cultural”, afirmou a Greatek.
Na região Sul, onde a faixa de 3,5 GHz foi arrematada pelo Consórcio 5G Sul – união da Unifique, de Timbó, SC, com a paranaense Copel Telecom, os ISPs locais também deverão ser chamados a participar da implantação do 5G. “Temos uma rede de fibra óptica fixa instalada de 23 mil quilômetros, principalmente em Santa Catarina, mas também nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná. Poderemos estudar parcerias para o uso dessa infraestrutura na região Sul. Estamos tendo as primeiras conversas com fornecedores para a implementação do 5G e no primeiro semestre de 2022 deveremos dar início à implementação da nova tecnologia”, afirma o diretor de Mercado da Unifique, Jair Francisco. “Sabemos que teremos duas agendas de implementação: uma voltada para as obrigações; e outra para mercados de maior potencial. Em ambas, a viabilidade financeira será sempre prioridade.”
O mercado da região é altamente promissor e envolve ao todo 1.006 municípios nos três Estados, cabendo à Unifique atender 295 cidades em Santa Catarina e 497 no Rio Grande do Sul, com um total de 8 milhões de usuários catarinenses e 10,5 milhões de gaúchos – a Copel irá prover o serviço no Paraná. O custo para a Unifique será de aproximadamente R$ 44 milhões até 2030, o que corresponde a 63% dos R$ 69 milhões referentes às obrigações.
Já no caso da Iniciativa 5G, que reúne cerca de 400 provedores pequenos e médios de todos os estados do país, como o consórcio não conseguiu arrematar nenhum lote no leilão, a alternativa será fornecer rede e manutenção para outros provedores ou para grandes operadoras. Segundo Suelismar Caetano, presidente institucional do grupo, já existem três tratativas “bem adiantadas” nesse sentido. “Somos a maior rede neutra do país hoje, embora ainda não esteja totalmente interligada. Nosso volume de rede já serve de cumprimento de obrigações junto à Anatel. Mesmo sem levar nenhum lote, estamos no páreo”, diz Caetano.
Outra vantagem da Iniciativa 5G, destaca, é a base física de 6 milhões de assinantes ao todo, concentrados nas regiões Sul, Sudeste e em parte do Nordeste. “Se eu conseguir colocar dois chips de celular por assinante, já serão 12 milhões de chips vendidos, seja para qual for a operadora. E sem fazer grandes investimentos.”
A intenção é realizar tudo isso por meio da ISPs do Brasil S.A., empresa constituída pela Iniciativa 5G e que tem os seus provedores como sócios. Foi criado um fundo paralelo que detém 99% da empresa. À medida que os negócios cresçam, os provedores ganham também. “O momento é de apostar no 5G”, afirma Caetano. Apesar disso, ele tem dúvidas em relação ao cronograma de implantação da tecnologia no Brasil, devido aos altos investimentos envolvidos. “Pelas regras do leilão, o 5G tem que estar em todas as capitais do país em 2022, mas não acredito nisso.”
Desafios
Na opinião de Luiz Henrique Barbosa da Silva, presidente executivo da TelComp, entidade que reúne 70 empresas do setor, alguns provedores regionais que arremataram lotes no leilão da Anatel terão grandes desafios na implantação do 5G. “As operadoras entrantes terão toda a dificuldade para construir a infraestrutura e concorrer com empresas já com posições estabelecidas”, afirmou durante a quinta edição do Conecta Brasil, evento realizado pela Anatel no dia 17 de novembro. De acordo com ele, porém, ainda existe todo um mercado a ser atendido e que envolve setores como agronegócio, logística e mineração. “A gente já tirou o mercado dos grandes centros e popularizou a banda larga. O espectro é pop”, disse.
No mesmo evento, o conselheiro da Abrint- Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações, Basílio Rodrigues Perez, afirmou que a falta de capilaridade fez com que não houvesse interesse pelos lotes de 26 GHz por parte dos pequenos prestadores. Segundo ele, essa frequência é interessante para locais densamente povoados. Perez citou o uso dessa faixa nas comunidades, o que pode gerar benefício para populações com infraestrutura precária, ou em edifícios sem cabeamento.
O conselheiro pediu à Anatel que, quando fizer o leilão de sobra das faixas de 26 GHz, avalie a possibilidade de uma capilaridade maior, para que possa haver áreas de cobertura menores. “É uma frequência que não tem como dar interferência em nada que está muito longe. Então, não tem sentido fazer blocos muito grandes para frequências tão altas.”