NEXT versus FEXT
Marcelo Barboza, da Clarity Treinamentos
O “par trançado” é um dos meios físicos mais utilizados nas instalações de cabeamento estruturado. Popularmente conhecido como “UTP” (embora algumas vezes seja composto por cabos blindados e UTP se refira apenas aos não blindados), ele permite a transmissão de dados a velocidades de 10 Gbps ou mais em enlaces de até 100 metros.
Mas, nem tudo são flores. Se não forem utilizados produtos de boa qualidade ou se o procedimento de instalação não for corretamente seguido, problemas podem ocorrer. É por isso que, após a instalação, são realizados testes de certificação.
São diversos testes, mas neste artigo abordaremos dois deles: o NEXT e o FEXT. Vocês sabe o que eles são? Quais são as suas semelhanças e diferenças?
Ambos são parâmetros que medem a diafonia (“crosstalk”, em inglês, abreviado como “XT”), ou seja, a interferência eletromagnética que o sinal trafegado por um par de fios trançados provoca em outro par do cabo. Qual é o problema da diafonia? Por que ela é indesejável?
Cada par de um cabo interliga um equipamento transmissor (TX, que está em uma extremidade do cabo) a um equipamento receptor (RX, na outra extremidade do cabo), ambos componentes de equipamentos de comunicações, como uma placa de rede ou porta de switch, por exemplo.
Só que em uma transmissão de rede, pelo menos dois dos pares do cabo são utilizados simultaneamente. Em uma transmissão Ethernet a 1 Gbps (ou mais) são utilizados os quatro pares do cabo. Ou seja, dois ou mais TX transmitem, simultaneamente, para os seus respectivos RX.
Só que cada RX está interessado apenas no sinal enviado pelo TX correspondente, que está do outro lado do par/cabo. Se o sinal transmitido por um TX por meio de um par “vaza” para outro par, ele acaba chegando em outro RX, que não era o destinatário original da mensagem. Pior, o RX recebe pelo menos dois sinais: o desejado (aquele enviado pelo TX correspondente) e o indesejado (enviado por outro TX, que é a diafonia/XT), confundindo ambos.
Se a intensidade da diafonia for próxima à do sinal desejado, o RX não conseguirá distinguir entre ambos e rejeitará o sinal por completo. Se isso ocorrer com frequência, a velocidade da transmissão cairá e, eventualmente, a conexão será interrompida.
Agora que já sabemos o que é diafonia e como ela pode afetar a transmissão, vamos perceber que há dois tipos de medições realizadas de diafonia: NEXT e FEXT.
O NEXT (near-end crosstalk) mede a diafonia que afeta o RX que está localizado na mesma extremidade do cabo (“extremidade próxima” ou “near end”) em relação ao TX que causou essa diafonia. Ou seja, o NEXT mede a interferência que um equipamento transmissor causa no cabo e acaba afetando a habilidade do próprio equipamento de entender sinais provenientes da outra extremidade do cabo.
Já o FEXT (far-end crosstalk) mede a diafonia que afeta o RX que está localizado na extremidade oposta do cabo (“extremidade distante” ou “far end”) em relação ao TX que causou essa diafonia. Ou seja, o FEXT mede a interferência que um equipamento transmissor causa no cabo e acaba afetando a habilidade do equipamento oposto de entender os seus sinais.
Em português, o NEXT é chamado de “paradiafonia”, enquanto o FEXT é a “telediafonia”. Ambos medem as consequências do mesmo fenômeno, que é a diafonia.
Os dois testes devem ser realizados bidirecionalmente, ou seja, enviando-se sinal a partir de ambas as extremidades do cabo. Isso ocorre porque o próprio sinal indesejado (resultado da diafonia) sofre atenuação ao longo do cabo até chegar em algum RX. Por exemplo: um dano ao cabo que aumente a diafonia causará um NEXT muito mais elevado quando este for medido a partir da extremidade do cabo que estiver mais próxima ao dano.
As medições de NEXT e FEXT são reportadas em combinações de dois pares ou somadas para todos os pares do cabo (“powersum”). A unidade de medida utilizada é o decibel (dB), resultado da comparação na intensidade do sinal transmitido com a do sinal indesejado recebido. O FEXT usualmente é reportado apenas após a computação da perda de inserção, resultando no ACR-F, mas isso já é um assunto para outro artigo.
Marcelo Barboza é formado no Mackenzie, atua no desenvolvimento e aplicação de cursos e consultoria em cabeamento estruturado e em projetos de telecomunicações em data centers. Instrutor oficial no Brasil para a Fluke Networks (certificação de cabos de cobre e fibra óptica), Panduit (instalação de cabeamento estruturado) e DCProfessional (fundamentos e eficiência energética de data centers). Certificado pela DCProfessional (Data Center Specialist – Design), pela BICSI (RCDD, DCDC e NTS) e pelo Uptime Institute (ATS).