Entenda a norma de cabeamento estruturado ANSI/TIA-568.2-D
Marcelo Barboza, da Clarity Treinamentos
A principal norma de cabeamento estruturado dos EUA, uma das primeiras do mundo a tratar do tema, é a ANSI/TIA-568. Ela é dividida em 5 partes.
Periodicamente, a TIA-568 passa por revisões, assim como a maioria das normas, para se atualizar em relação à tecnologia, produtos e melhores práticas adotadas. Uma letra ao final indica a revisão. A primeira revisão foi indicada com a letra “A”. A revisão seguinte recebeu a letra “B”, e assim por diante. Assim, o nome ANSI/TIA-568-C.2 indica a revisão “C” (3ª revisão) da parte 2 da referida norma.
Só que a quarta revisão (“D”) mudou a ordem desses dois indicadores, tornando o nome mais coerente com as demais normas. Os indicadores de parte e revisão se inverteram, de forma que a 4ª revisão da 2ª parte passou a se chamar ANSI/TIA-568.2-D.
Mas o que mudou na ANSI/TIA-568.2-D, em relação à revisão anterior? Em resumo, os principais pontos alterados foram:
- A adição da configuração MPTL – Modular Plug Terminated Link.
- Incorporação da Categoria 8 ao corpo da norma.
- O reconhecimento de patch cords com bitola de condutor 28 AWG.
- Considerações ao suporte ao PoE.
A adição da configuração MPTL – Modular Plug Terminated Link
O MPTL é um acréscimo aos outros dois modelos padrão de enlace que já existiam, o canal (CH) e o enlace permanente (PL). Basicamente, o CH é a configuração que agrega todo o cabeamento horizontal, incluindo todos os patch cords. Já a PL é a configuração que engloba apenas a parte “permanente” ou “fixa” do cabeamento, desde a terminação no rack até a terminação na tomada, sem os patch cords.
Esta nova configuração atende aos anseios de muitos usuários e instaladores, que se sentiam “incomodados” ao instalar uma tomada de telecomunicações e um patch cord para conectar equipamentos fixos, principalmente próximos ao forro, como pontos de acesso wireless e câmeras de vigilância (CFTV). Nela, o cabo horizontal é terminado diretamente com um plugue RJ45 (macho), em campo, que será diretamente conectado ao dispositivo terminal. Os principais fabricantes de cabeamento já estão disponibilizando tais plugues, com garantia de desempenho, para confecção em campo, incluindo versões com desempenho de Categoria 6A e até mesmo Categoria 8.
A norma também dará provisionamento para a forma como um enlace MPTL deverá ser testado. O desempenho do plugue terminado em campo deverá ser incluso no teste. Isso é diferente dos requisitos de teste de um canal, que exclui o desempenho dos plugues das extremidades. Outra coisa a ser ressaltada é que a norma continua obrigando a utilização de tomadas e patch cords para a conexão de dispositivos de usuário nas áreas de trabalho, como desktops, notebooks, telefones e impressoras. Tais dispositivos podem mudar de lugar com frequência, por isso o requisito de utilizar patch cords em sua conexão.
Incorporação da Categoria 8 ao corpo da norma
A Categoria 8 de cabeamento de par trançado era parte de um adendo à norma TIA-568-C.2. Agora, fará parte da nova revisão 2-D. Lembramos que essa categoria, testada até 2000 MHz, permite a utilização de Ethernet a 40 Gbps sobre um canal Cat. 8 de até 30 metros, sendo um enlace permanente de 24 metros, mais dois patch cords de até três metros cada. Tal aplicação foi pensada para conexões entre equipamentos localizados na mesma fileira de racks de um data center, e permitirá a configuração MPTL para conexão direta ao servidor.
O reconhecimento de patch cords com bitola de condutor 28 AWG
Anteriormente, apenas condutores 22 a 26 AWG eram reconhecidos para utilização em patch cords. Mas em racks de alta densidade, abrigando a terminação de centenas de cabos, isso poderia tornar a organização dos patch cords uma tarefa quase impossível. Grandes quantidades de patch cords grossos poderiam também causar restrições ao fluxo de ar para a refrigeração de equipamentos ativos, causando seu sobreaquecimento.
Mas patch cords com bitola reduzida, como 28 AWG, apresentam maior atenuação de sinal e maior resistência à corrente elétrica. Por esse motivo, a norma provê recomendações para restringir o tamanho de canais contendo patch cords 28 AWG. Patch cords 28 AWG deverão utilizar 1,95 como fator de correção. Por exemplo, um canal com 10 metros em patch cords 28 AWG poderá ter um máximo de 92,5 m, sendo 82,5 m para o enlace permanente, em vez dos tradicionais 90 m. Com o tempo, melhores práticas deverão ser desenvolvidas e aplicadas com tais patch cords para minimizar possíveis problemas com sua utilização em canais que utilizem PoE, especialmente acima de 30 W, que surgirão com sua nova versão, o four-pair PoE, ou 4PPoE.
Considerações ao suporte ao PoE
Com a chegada do 4PPoE, que permite alimentação de quase 100 W pelo switch, garantindo um mínimo de 71 W no dispositivo remoto, começa a aumentar a preocupação com os projetos e instalações de sistemas em par trançado de forma a evitar anomalias na alimentação elétrica, como quedas excessivas de tensão e aumento exagerado da temperatura no feixe de cabos.
Referências ao boletim técnico ANSI/TSB-184-A, Guidelines for Supporting Power Delivery Over Balanced Twisted-Pair Cabling, são feitas nessa nova revisão, assim como o requisito para um teste particularmente importante para o PoE, que é o desequilíbrio resistivo dentro dos pares e entre os pares do cabo.
Marcelo Barboza é formado no Mackenzie, atua no desenvolvimento e aplicação de cursos e consultoria em cabeamento estruturado e em projetos de telecomunicações em data centers. Instrutor oficial no Brasil para a Fluke Networks (certificação de cabos de cobre e fibra óptica), Panduit (instalação de cabeamento estruturado) e DCProfessional (fundamentos e eficiência energética de data centers). Certificado pela DCProfessional (Data Center Specialist – Design), pela BICSI (RCDD, DCDC e NTS) e pelo Uptime Institute (ATS).