Inovação exige novos perfis de profissionais de telecom e TI
Estudo da IDC aponta que em 2019 haverá uma falta de aproximadamente 450 mil profissionais de redes no Brasil. A maior demanda será para as áreas de vídeo, nuvem, mobilidade, data center, virtualização, analytics, segurança cibernética, IoT e desenvolvimento de software.
Ana Luiza Mahlmeister, colaboradora da Infra News Telecom
Pela velocidade com que se transformam, os mercados de TI – tecnologia da informação e telecomunicações têm vagas para profissionais de diversos perfis, exigindo atualização constante. Com um ritmo de inovação acelerado, há carência de especialistas e a estrutura de conteúdo dos cursos de formação ainda não dá conta dessa evolução.
Um estudo realizado pela IDC com provedores de serviços e empresas de diversas verticais no Brasil mostra que em 2019 haverá uma falta de aproximadamente 450 mil profissionais de redes. A maior parte desse gap se refere à falta de capacitação: 62% é para tecnologias emergentes de vídeo, nuvem, mobilidade, data center, virtualização, analytics, segurança cibernética, IoT – Internet das coisas e desenvolvimento de software.
As comunicações fazem parte do dia a dia, com conexões de Internet, TV e os celulares em qualquer parte do mundo. O profissional, portanto, tem que entender esse potencial de conectividade e auxiliar na otimização dos negócios, trazendo mais colaboração e consequentemente maior produtividade. “Antes o CIO sabia detalhes técnicos dos produtos, hoje ele tem que entender como a sua rede deve estar preparada para ajudar o negócio da empresa”, afirma Leandro Laporta, gerente de pré-vendas Brasil da Orange Business Services.
IoT e a rede 5G colocaram a conectividade como chave dos serviços, abrindo novas frentes de trabalho e popularizando outras tecnologias, como realidade aumentada e virtual. “É fundamental que o profissional tenha uma visão analítica sobre a utilização de cada aplicação nas diferentes verticais de negócios”, aponta Marcello Miguel, diretor executivo de marketing e negócios da Embratel.
Ele ainda acrescenta que os requisitos de um carro conectado para entretenimento, acesso web ou assistência técnica, são muito diferentes dos de um carro autônomo, por exemplo. “Por isso, o profissional de telecom deve entender de integração de sistemas e também ter um perfil consultivo para atender bem os clientes”.
Conhecimento de software
Com a virtualização, as redes se transformaram em plataformas de serviços, onde o software é a base da arquitetura. Os aplicativos definem desde as plataformas e a formatação de produtos, até os processos operacionais, as ferramentas de gestão e o atendimento aos clientes. Com a transformação digital, as empresas vão além das funcionalidades técnicas dos serviços, investindo na experiência do cliente que interage por um portal na web ou com um aplicativo móvel. “Um dos efeitos da virtualização e da computação em nuvem é que as redes deixaram de ser entidades separadas do ecossistema de TI e integram a infraestrutura dos sistemas corporativos em data centers, exigindo profissionais de redes que tenham grande conhecimento de software”, destaca Miguel.
A migração das plataformas para a nuvem e as futuras redes 5G abriram novos serviços como o SDN – Software Defined Networking e a NFV – Network Functions Virtualization. Outras tecnologias já estão associadas à nuvem como a IoT, sistemas analíticos (analytics), inteligência artificial, blockchain e segurança. Segundo Miguel, as empresas precisam de especialistas em mobilidade, data center, virtualização, ‘big data’, segurança cibernética, IoT, inteligência artificial e desenvolvimento de software. “Há também posições em que a principal competência requerida é de um generalista com excelente conhecimento das diversas tecnologias”.
Treinamentos
A fornecedora belga de transceptores ópticos Skylane Optics incentiva a reciclagem de seus profissionais com a participação de fóruns, trade shows, cursos a distância ou presenciais. “Toda a informação absorvida por estes colaboradores é repassada internamente para os demais em todas as filiais, pois a tecnologia que se usa na Bélgica ou nos Estados Unidos é a mesma no Brasil”, afirma Rudinei Carapinheiro, business developer da Skylane Optics. Uma das carências da empresa, segundo o executivo, são profissionais técnicos que falam inglês. “Participar de eventos internacionais ao menos duas vezes ao ano é primordial para qualquer profissional que queira permanecer neste setor”, avalia Carapinheiro.
A Embratel investe em capacitação interna além de contratar treinamentos externos em novas tecnologias. “Temos um relacionamento muito próximo com os fabricantes e consultores para que os profissionais mantenham um diálogo contínuo com as fontes de inovação enquanto estão sendo geradas para troca constante de experiências e aprendizado”, diz Miguel.
A estratégia da provedora de serviços Orange é realizar treinamento interno com pessoal externo. “Quando estamos em uma empresa há muitos anos criamos vícios comportamentais, por isso é fundamental se reeducar e se reinventar, saindo do lugar comum”, afirma Laporta, da Orange. O treinamento interno feito por especialistas de fora da empresa, ajuda o colaborador a desenvolver novas visões e atitudes. Outras estratégias são incentivar parcerias com os clientes e investir no pessoal interno, mas também buscar profissionais do mercado para que a equipe ganhe com novas experiências.
A certificação e cursos de atualização são os principais requisitos dos profissionais que vão trabalhar na provedora de serviços TCS. “O essencial é que o colaborador busque sempre se capacitar para acompanhar a jornada das empresas rumo ao modelo de negócios 4.0”, destaca Parameswaran Ramani, head de human resources para a TCS no Brasil.
Por envolver algoritmos, as aplicações de inteligência artificial, machine learning, agile, “big data”, blockchain, requerem mais especialização em software e em gestão de projetos. Para suprir essa carência, a TCS oferece cursos de capacitação e treinamento em parceria com diversas instituições para a formação de mão de obra. Uma das iniciativas mais recentes foi o lançamento do curso de graduação de Design de Mídias Digitais, criado pela TCS em parceria com o Centro Paula Souza, autarquia do Governo do Estado de São Paulo, que administra as Faculdades de Tecnologia (Fatecs) e a Escolas Técnicas estaduais (Etecs).
Novas competências
Com a integração e conectividade entre os sistemas, o profissional de telecom não pode ficar restrito ao conhecimento dos protocolos de comunicação e tráfego de rede. Operações e soluções monolíticas já são legado e as empresas têm necessidade de conhecimentos em outros nichos tecnológicos, como a orquestração de múltiplas nuvens. “As áreas de recursos humanos ainda buscam profissionais com perfis e conhecimentos tradicionais, mas isto está prestes a mudar”, opina Michel Dalla Mariga Araujo, gerente da vertical telecom e service providers da F5 Networks Brasil.
O 5G, IoT e a virtualização das funções de rede, além de outros movimentos tecnológicos, exigem um profissional capaz de aliar conhecimentos de TI, telecom e nuvem. “Profissionais que sabem codificar estão em alta: a nuvem exige conhecimentos de aplicações, redes, software e segurança”, diz Araujo. Em sua opinião, a oferta de profissionais qualificados, capazes de trabalhar com a nuvem de fato, ainda é bastante limitada no Brasil. “Aliamos treinamentos internos com a aquisição de novos talentos para renovar a cultura da organização nessas áreas”, afirma.
Conhecimento sistêmico
Profissionais com bons conhecimentos sistêmicos e capacidade analítica para resolver problemas de rede e propor soluções de projeto confiáveis e robustas são as principais demandas da Hughes, fornecedora de banda larga via satélite. Para Rafael Guimarães, presidente da companhia no Brasil, profissionais que unem conhecimentos de TI e telecom e conseguem navegar nestes dois mundos têm vantagens sobre os demais. Certificações de entidades de boa reputação também são considerados diferenciais.
A empresa busca profissionais com conhecimentos sistêmicos amplos, porém, com experiências focadas em determinadas áreas de atuação, como a otimização de tráfego de redes e planejamento de capacidade. O novo profissional de telecom deve ser autodidata, ser capaz de aprender rapidamente e ter boa análise crítica.
“O que temos visto na nova geração é que uma das coisas mais importantes é a troca de experiência entre os profissionais, por isso a rede de contatos precisa ser ativa para encurtar o aprendizado”, afirma Yuri Fiaschi, head das Americas da Infobip, empresa que oferece plataforma própria de mensagem para o mercado corporativo.
Os perfis interessantes para a Infobip são profissionais que entendam diversos modelos de negócios e suas necessidades, atraiam novos parceiros e clientes e saibam conectar diversas soluções. Para Fiaschi, há carência de mão de obra que entenda do ambiente de serviços, envolvendo desde a Internet e pagamentos digitais, até plataformas conectadas na nuvem e diretamente nas operadoras, agregando serviços como SMS, email, voz, aplicativos de mensageria abertos e proprietários.
Uma outra demanda é de pessoas que conheçam a fundo o ambiente de dados patrocinados, tanto do lado técnico como comercial. “Entre as novas competências exigidas está a inovação, agilidade, conscientização da diversidade, comunicação, raciocínio analítico, negociação e conhecimento das diversas indústrias”, diz Fiaschi. Ele alerta que não existem cursos suficientes para formar um profissional completo, e muitos falham na área prática. “Mais importante que o conhecimento técnico é estar extremamente atualizado com a situação do mercado e muito disposto a aprender, sem se acomodar”, ressalta Laporta, da Orange.
Computação em nuvem
A computação em nuvem integra a empresa ao mundo externo, exigindo um profissional que tenha uma visão de fora da companhia. “É preciso saber olhar para dentro e para fora ao mesmo tempo, e a visão externa deve ser ampla, englobando inclusive áreas que ele não administra, mas que fazem parte do escopo da corporação”, diz Laporta, da Orange.
Outra característica muito requisitada é de pessoas que saibam desenvolver relacionamentos estratégicos e tenham habilidades para a relação interpessoal com as diferentes áreas de negócio. “Fazer um colaborador se tornar técnico e especializado é algo simples por meio de treinamentos e dedicação, mas a habilidade interpessoal e a inteligência emocional são mais raros e precisam ser trabalhados com muito cuidado e atenção”, alerta Laporta.
O especialista em software, seja em programação ou configuração de equipamentos, já traz em seu currículo um diferencial para entrar no segmento de telecom, avalia Luiz Altamir Corrêa Junior, especialista em redes de computadores e segurança e professor da Universidade Positivo (UP), de Curitiba, PR. As empresas buscam profissionais proativos, que se antecipam e solucionam problemas antes que eles ocorram “Outro diferencial é contar com uma pós-graduação e o inglês técnico nesse momento de conexão mundial para atender as expectativas das empresas”, diz Corrêa Junior.
Ele destaca também que as certificações técnicas devem ser atualizadas periodicamente. Segundo o especialista, o mercado tem carência de cientistas de dados e profissionais para as áreas de segurança da informação, IoT, inteligência artificial e gestores de projetos.
“Profissionais orientados à inovação com formação tecnológica especializada são muito requisitados”, afirma Paula Ferreira, gerente de gestão de talentos da Angola Cables que comercializa capacidade em circuitos internacionais de voz e dados por cabos submarinos e tem um data center em Fortaleza, CE.
A empresa busca profissionais das áreas de engenharia, especializados em data center, redes e em transmissão. Em um mundo feito de software e dados, a maior dificuldade das empresas é ter previsibilidade no planejamento, por isso os gestores de projetos também estão em alta no mercado de trabalho.