O poder dos dados alternativos
Thoran Rodrigues, BigDataCorp
Ao tomar uma decisão com base em dados, muitas vezes o gestor precisa expandir o seu olhar para além das informações mais evidentes e intrínsecas ao tema em estudo. É necessário incorporar a sua avaliação informações paralelas, os chamados dados alternativos, que ampliam a visão do conjunto e permitem enxergar outras hipóteses. Esses dados, embora não tenham relação aparentemente direta com o assunto, captam diferentes aspectos das pessoas e das situações, abrindo novos horizontes e suscitando novas leituras. Eles complementam apurações, revelam tendências, expõem comportamentos latentes, entre outras sutilezas que fazem toda a diferença em uma análise consistente.
Na economia, a importância dos dados alternativos fica clara, por exemplo, quando se fala sobre a potência de uma nação. Em geral, as referências básicas nessa questão são PIB – Produto Interno Bruto, balança comercial, inflação – parâmetros óbvios e de fácil entendimento. Uma realidade mais complexa vem à tona, no entanto, se esses dados são confrontados com indicadores de emprego, saúde pública, habitação, saneamento, que podem revelar as fragilidades por trás dos números oficiais de crescimento.
No âmbito corporativo, vale o mesmo cuidado. Por exemplo, dados alternativos como informações de redes de relacionamento, vindas de redes sociais ou não, servem para uma análise de crédito – em especial quando se trabalha com populações desbancarizadas ou quando as informações tradicionais não estão disponíveis. Outra aplicação: o responsável pela concessão de financiamento para um chefe de família pode considerar, na sua decisão, o consumo de energia elétrica da residência do cliente.
À primeira vista, o quanto a pessoa gasta com a companhia elétrica parece não ter muito a ver com a sua capacidade de cumprir com os compromissos financeiros. Porém, o aumento do consumo de energia, descartando-se o fator sazonal, seria decorrente de duas causas: a família estaria aumentando, com a chegada de mais filhos, ou comprando mais aparelhos eletroeletrônicos. Dois fatores que impactam o risco de crédito.
Os dados alternativos têm ainda a vantagem de poder ser facilmente captados pela Internet. Os recursos tecnológicos disponíveis hoje são capazes de obter relevantes informações adicionais a partir de comentários de posts, sites de reclamações ou até dos descritivos das vagas de emprego anunciadas por uma empresa. Outro ponto positivo é a segurança. Como esses dados não estão relacionados de modo direto com o objeto da análise, fica mais difícil serem manipulados ou distorcidos.
Em janeiro deste ano, o jornal Valor Econômico publicou uma notícia que comprovava o peso dos dados alternativos em uma análise econômica. Sob a manchete “Dados alternativos mostram emprego mais fraco, diz BTG”, a reportagem defendia que, apesar de a PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio apontar queda na taxa de desemprego, um relatório do Banco BTG Pactual discordava desse resultado com base na “trajetória de dados alternativos de emprego, como o percentual de subutilização da força de trabalho”, entre outros. O texto destaca, na fala de uma economista, que “outros indicadores em que as pessoas prestam menos atenção mostram ociosidade mais intensa e piora”.
Prestar atenção aos dados alternativos é o primeiro passo. O passo seguinte é identificar quais dados alternativos utilizar em cada situação e quais atributos derivados podem ser extraídos deles para que se chegue a uma conclusão mais qualificada. Mas o esforço compensa, garantem os especialistas em análise de dados.
Formado em engenharia de computação, mestre em informática e com um MBA em gestão de negócios pela PUC-RJ, Thoran Rodrigues tem 15 anos de experiência no mercado de tecnologia. Já trabalhou em laboratórios de pesquisa e empresas de diversos tipos e portes. Em 2013, fundou a BigDataCorp., uma empresa especializada em projetos de big data e na automação de processos de informação.