O próximo passo da automação – Sociedade 5.0
A Sociedade 5.0 se baseia em três princípios fundamentais: sustentabilidade, abertura e inclusão. Seu principal objetivo é entregar qualquer produto ou serviço da maneira ideal e mais adaptada possível às pessoas.
Fabiano Lourenço Ferreira, vice-presidente da Mitsubishi Electric do Brasil
Enquanto muitos países debatem há alguns anos a transformação digital da indústria baseada nas novas tecnologias (indústria 4.0), o Japão discute desde 2016 um conceito denominado Sociedade 5.0, que foi apresentado ao mundo pelo primeiro ministro japonês, Shinzo Abe, na CeBIT de 2017, em Hannover, Alemanha.
Soando até pretensioso de início, e sem nenhuma perspectiva clara de como ele realmente se desenrolaria, podemos dizer que hoje este novo conceito inspira entusiasmo. Nele, novas tecnologias, como inteligência artificial, big data, IoT – Internet das coisas, serão utilizadas para criar soluções com foco nas necessidades humanas e para resolver os desafios que temos atualmente.
Segundo o governo japonês, a Sociedade 5.0 seria basicamente o quinto estágio evolutivo de sua sociedade, sucedendo os quatro anteriores que foram: 1) sociedade de caça; 2) sociedade agrária; 3) sociedade industrial; e 4) sociedade da informação. Este novo e revolucionário capítulo promete converter as tecnologias desenvolvidas em benefício das pessoas, visando sempre a melhoria contínua da qualidade de vida de toda a sociedade e não apenas de castas ou blocos específicos.
A Sociedade 5.0, também chamada de “sociedade superinteligente”, baseia-se em três princípios fundamentais: sustentabilidade, abertura e inclusão. Seu principal objetivo é entregar qualquer produto ou serviço da maneira ideal e mais adaptada possível às pessoas, ajudando assim a enfrentar desafios sociais crônicos do Japão, como envelhecimento da população, polarização social, despovoamento e restrições relacionadas à energia e ao meio ambiente.
O Japão é o local ideal para a implementação da Sociedade 5.0 justamente por contar com dois pilares fundamentais. O primeiro deles é o acumulo de informações reais, baseado em dados de saúde de um sistema universal de assistência médica, além de uma enorme quantidade de dados operacionais de instalações industriais, ou seja, o país possui um ambiente rico em dados brutos reais e utilizáveis para uso na atual economia de mercado e indústria.
O segundo pilar vem da excelência do Japão na fabricação, além de anos de pesquisa, automatização de processos e desenvolvimento, premissas básicas para utilização das tecnologias de informação como big data e inteligência artificial. Na prática, podemos imaginar um médico consultando seus pacientes no conforto de sua própria casa por meio de um tablet especial. Enquanto ele os examina a distância, um robô pode estar aspirando o seu tapete, assim como a sua geladeira irá monitorar a condição dos alimentos estocados para reduzir o desperdício. Isso é apenas um exemplo pontual, a Sociedade 5.0 é muito mais abrangente do que isso.
As cidades serão alimentadas por energia fornecida de maneiras flexíveis e descentralizadas para atender às necessidades específicas dos habitantes. Tratores autônomos trabalharão nos campos, enquanto, no centro, sistemas avançados manterão a infraestrutura vital e estarão à disposição para substituir técnicos e artesãos aposentados, caso não haja jovens suficientes para preencher a lacuna. Tudo evolui à medida que mais informações são acumuladas.
Mas muitos devem se perguntar: e os empregos? Segundo o Fórum Econômico Mundial, um em cada quatro empregos conhecidos hoje deverá ser substituído por softwares e robôs até 2025. O mesmo relatório, porém, indica que 65% das crianças que hoje entram nas escolas irão trabalhar em funções que atualmente não existem. Ou seja, haverá na prática uma renovação de postos de trabalho na qual a tecnologia não será uma vilã, mas sim uma aliada, mesmo porque uma das premissas da Sociedade 5.0 é a melhoria da qualidade de vida.
Por fim, cabe também o exercício de imaginar como seria muito mais fácil enfrentar uma pandemia como a da Covid-19 por meio de um sistema implementado de Sociedade 5.0. Basta pensar que seria possível manter o funcionamento quase total das coisas a distância, sem necessidade de locomoção e intervenções pessoais. Em um nível menos utópico é possível cruzar informações de locomoção com históricos médicos, identificando facilmente os infectados, isolando-os de forma simples e racional, tudo isso de forma inteligente, rápida e em tempo real. Bem-vindos à Sociedade 5.0: o futuro já chegou.