O que a inteligência artificial pode fazer pela educação?
Prof.ª e Dra. Alessandra Montini
A educação foi um dos setores mais atingidos pela pandemia da Covid-19. Com o fechamento das instituições de ensino, foi preciso transferir as salas de aula para o mundo digital, o que exigiu um grande esforço das escolas e educadores. Mas, para mitigar os efeitos negativos que poderiam surgir, como interromper o ano letivo, a tecnologia foi uma grande aliada nesse caminho e estará ainda mais presente durante o ano de 2021.
Ainda há muitas dúvidas e desafios na volta às aulas presenciais que vão muito além dos muros das instituições. Neste momento, em que todas as fichas estavam apostadas para as aulas presenciais seguras, nos deparamos com números altos e descontrolados de infecções do Coronavírus.
Por isso, as escolas de educação básica e superior terão que contar com a tecnologia para que os alunos mantenham suas aulas. Nesse contexto, a inteligência artificial é uma aliada fundamental. Por meio dela, o estudante consegue reconhecer novas fontes de conteúdo, buscar e se informar, sempre guiado por um professor. E é graças aos dados provenientes da tecnologia que é possível saber em que nível o aluno está e até ajustar seus estudos.
Além disso, com base no reconhecimento facial, é possível saber o aproveitamento do aluno em cada aula, se é ele mesmo que está consumindo aquele conteúdo ou outra pessoa; e em que parte do conteúdo ele se desenvolve mais ou até mesmo não consegue acompanhar. Dessa forma, é possível oferecer exercícios personalizados.
Como professora, já me deparei com vários alunos que iam muito bem em diversas matérias e em outras se saíam mal. A inteligência artificial me direciona onde devo trabalhar com aquele aluno e mostra as lacunas para que eu dedique um plano mais personalizado para esse indivíduo. Vale destacar que a tecnologia permite que os alunos não precisem caminhar da mesma maneira. É certo que, no final, todos precisam ter o mesmo conhecimento para se formar, mas cada um pode traçar o melhor caminho para absorver o conteúdo que precisa. A tecnologia ajuda em todo esse processo.
Com a IA, o professor consegue receber um relatório de tudo isso em tempo real, inclusive saber se o aluno está satisfeito com aquele conteúdo ou se está com “cara” de dúvida o tempo inteiro.
Recentemente, a Microsoft encomendou uma pesquisa sobre inteligência artificial e educação junto ao IDC. O relatório mostrou que já é de 99,4% o percentual de educadores que consideram IA fundamental para a competitividade de suas instituições de ensino nos próximos três anos. E 92% dos entrevistados disseram que já começaram a experimentar essa tecnologia.
Embora esses dados revelem que a inteligência artificial é essencial na educação, foi durante a pandemia que também relembramos o quão escasso é o acesso que os alunos têm a esse meio. Percebemos que as instituições ofereciam modestamente essas plataformas e que os usuários não eram tão digitais e autônomos como imaginávamos.
É claro que tínhamos em mente o que seriam as escolas do futuro, mas nunca que o ensino básico fosse totalmente oferecido de maneira online, por exemplo. No entanto, este é o cenário que estamos acompanhando nos últimos tempos e o retorno às aulas presenciais ainda é um grande ponto de interrogação em vários estados e cidades.
Por outro lado, a educação não pode ser esquecida como algo essencial para o crescimento de qualquer país. Sem ela, estamos fadados ao fracasso. Uma pesquisa realizada pela OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico mostra que o fechamento de escolas pode gerar um PIB – Produto Interno Bruto anual 1,5% menor ao longo do século.
Por isso, é necessário manter a educação funcionando. Talvez, a curto prazo, não temos a menor noção do que isso pode causar para o Brasil, mas se olharmos para o futuro, esta pode ser uma nova crise que teremos que enfrentar.
Nesse cenário, podemos usar a tecnologia como aliada para que a educação chegue a todos os alunos. Mas para isso, será necessário apostar em políticas públicas capazes de entender essa necessidade de oferecer tecnologia aos estudantes e escolas mais vulneráveis. Não dá para esperarmos as aulas presenciais voltarem para iniciarmos de onde paramos.
Precisamos de estratégias que façam com que as instituições cheguem até os alunos, já que eles não podem ir até às escolas e universidades. É evidente que o mundo está mais virtual e que o ambiente online não substitui o físico, mas neste momento, em que todos os esforços estão em frear a disseminação do vírus, temos tecnologias disponíveis que podem acelerar a educação e não deixá-la travada como está agora. A inteligência artificial é uma delas e já passou da hora de entrarmos nesta experiência.
Diretora do LABDATA-FIA, apaixonada por dados e pela arte de lecionar, Alessandra Montini tem muito orgulho de ter criado na FIA cinco laboratórios para as aulas de Big Data e inteligência Artificial. Possui mais de 20 anos de trajetória nas áreas de Data Mining, Big Data, Inteligência Artificial e Analytics.
Cientista de dados com carreira realizada na Universidade de São Paulo, Alessandra é graduada e mestra em estatística aplicada pelo IME-USP e doutora pela FEA-USP. Com muita dedicação, a profissional chegou ao cargo de professora e pesquisadora na FEA-USP, e já ganhou mais de 30 prêmios de excelência acadêmica pela FEA-USP e mais de 30 prêmios de excelência acadêmica como professora dos cursos de MBA da FIA. Orienta alunos de mestrado e de doutorado na FEA-USP. Membro do Conselho Curador da FIA, é coordenadora de grupos de pesquisa no CNPq, parecerista da FAPESP e colunista de grandes portais de tecnologia.