Open gateway APIs e a próxima revolução
O Open Gateway API promoverá uma revolução no mercado de telecomunicações igual ou maior que o próprio advento do GSM. As operadoras deverão se preparar para um mercado ainda mais competitivo, e com produtos inéditos associados a outras indústrias.
Gustavo Bunger, fundador da Arquimática Consultoria e do ACTalks, iniciativa de divulgação de arquitetura no Brasil
Em fevereiro de 1987, 13 operadoras de telefonia assinaram um MoU – Memorandum of Understanding (Memorando de Entendimento) em Copenhagen para criação conjunta e padronizada de um novo sistema de telefonia na Europa, muitos anos antes da criação da chamada Zona do Euro.
Em 1995, esse movimento originou a GSMA – Global System for Mobile Communications Association, organização padronizou a tecnologia GSM que hoje responde por 80% do mercado global frente ao CDMA. 28 anos depois da sua criação, o GSMA lançou oficialmente a iniciativa Open Gateway API no evento Mobile World Congress promovido pela Telefónica, em fevereiro deste ano (2023).
APIs são interfaces programáveis entre aplicações, o que permite integrar sistemas diferentes de forma inteligente. O tema não é novo, e em 2013, o próprio TM Forum publicou e passou a manter um conjunto de mais de 60 APIs abertas (Open APIs) que pode ser utilizado pelas operadoras participantes do consórcio. Entretanto, o que é novo aqui, é a magnitude, e abrangência e quebra de paradigma que esta iniciativa de Open Gateway traz.
Imagine-se jogando no celular, e de repente começar a ter problemas de travamento bem na hora de derrotar o chefão. No nosso modelo tecnológico atual de GSM, estamos restritos à qualidade de conexão da operadora que contratamos, que por sua vez está vinculada ao chip físico (SIMCARD) que está sendo usado no seu celular. Sim, você poderia ter outro chip no cedular e, dependendo da qualidade do sinal, optar por outra operadora, mas até aí, precisou realizar algumas configurações, e fatalmente perdeu a luta final no game.
O consórcio Open Gateway API começa com 21 operadoras mundiais signatárias, que se comprometem em padronizar APIs que possam não só integrar seus serviços, mas abstrair as próprias operadoras. E isso só se torna possível agora, pelo advento da virtualização que os equipamentos de telecomunicação passaram nos últimos dez anos. VPNs – Virtual Private Networks, SDN – Software Defined Networks, Virtual CPEs – Customer Premisses Equipament, NFV – Network Virtualized Functions e tantos outros “Virtual Everything” que surgiram. Isso permite desacoplar o software do hardware dos equipamentos usados pelas operadoras, descentralizar o acesso e dar poder de escolha ao cliente final, criando um modelo de mercado ainda mais competitivo do que o que vivemos hoje.
Com essa, podemos agora imaginar um cenário onde você está jogando no celular, mas o chip dele é único, virtual (eSIM) e pode ser usado por qualquer operadora capaz de interagir com esse chip virtual que você queira. Agora imagine que durante o jogo, ao perceber que tem problemas de travamento, você pode pausar e escolher num menu do próprio game qual operadora tem o melhor sinal na região onde você está, e ainda com o preço mais competitivo. Você seleciona a oferta, o novo perfil do chip é habilitado e você segue para a vitória final, com velocidade, gastando pouco e sem ter de fazer tantas configurações.
O programa começa com oito APIs padronizadas para funções como qualidade de rede sob demanda, roteamento, status de dispositivos, troca de SIM, verificação de números, validação de terminais ópticos (OTP) e cobrança. A governança das APIs fica à cargo do CAMARA, um projeto mantido pela Linux Foundation, organização que mantém o próprio sistema operacional Linux, a blockchain Hyperledger e a CNCF – Cloud Native Computing Foundation.
No próprio site do projeto, você pode conferir a listagem dos cases atualmente desenvolvidos com as APIs publicadas: https://camaraproject.org/resources.
Outro ponto inédito e que merece destaque na iniciativa é a participação de três gigantes tecnológicas: Amazon, Google e Amazon, provendo componentes de infraestrutura e aplicações específicas para telecom.
O Open Gateway API promoverá uma revolução no mercado de telecomunicações igual ou maior que o próprio advento do GSM. As operadoras além da Europa deverão se preparar para um mercado ainda mais competitivo, e com produtos inéditos associados a outras indústrias. O cliente também precisará lidar com um modelo que agora o empodera, o que significa que precisará realizar e lidar com escolhas entre os melhores serviços disponíveis. E que venha o novo!