Os desafios da IoT no Brasil
Prof.ª e Dra. Alessandra Montini
A Internet das coisas (Internet of things), também conhecida como IoT, não é exatamente uma novidade no Brasil. A Alexa já faz parte do dia a dia de diversas pessoas e o Google não fica para trás. No entanto, essa conexão digital com objetos cotidianos ainda enfrenta diversos desafios para se estabelecer e popularizar no país.
A estimativa é que até 2023 sejam 416 milhões de dispositivos IoT no Brasil, segundo o Banco de Desenvolvimento InterAmericano. Isso porque o Governo Federal criou o Plano Nacional de Internet das coisas em 2019, com o intuito de alavancar o setor, implementar e desenvolver a Internet das coisas no Brasil, baseado na livre concorrência e na livre circulação de dados, observadas as diretrizes de segurança da informação e a LGPD. O objetivo é ser instrumento de desenvolvimento sustentável da sociedade, capaz de aumentar a competitividade da economia, fortalecer as cadeias produtivas nacionais e a melhoria da qualidade de vida.
Os primeiros passos para aumentar a utilização entre os brasileiros já foram dados, no entanto existem dificuldades conceituais, tecnológicas e sociais para ser implementada. A começar pelo custo dos aparelhos que, apesar de ter sido reduzido nos últimos anos, ainda tem um valor alto justamente pelo dólar estar bastante valorizado com relação ao real.
Além disso, a mão de obra especializada para a implementação e manutenção dos dispositivos ainda é escassa. É preciso que haja um aumento ainda maior de profissionais de tecnologia que possam desenvolver soluções com esse foco no Brasil.
Há também as problemáticas mais práticas como o processamento e armazenamento dos dados gerados nessas conexões. É necessário cuidar para que este fluxo aconteça de forma segura até mesmo no descarte de informações que não serão utilizadas. Um bom exemplo de garantia de segurança é o blockchain, que registra todas as transações processadas e seus responsáveis usam uma soma de verificações para assegurar que as informações não sofram modificações.
Assim como os dados, os aparelhos também precisam ser protegidos. Para isso, é importante que os usuários utilizem todas as práticas de segurança, usando várias camadas de verificação, entre outros. Este cuidado deve vir desde o desenvolvimento dos aplicativos que serão usados para acessar e gerenciar os dispositivos. Um método que pode ser usado na implementação destes sistemas é o MFA – multifator de autenticação para cuidar dos acessos aos aplicativos e sistema de recuperação de senhas de forma segura.
Este é um ponto extremamente relevante, uma vez que existem vários relatos sobre equipamentos que acabaram com a privacidade de seus usuários, permitindo que cibercriminosos pudessem espioná-los por meio de câmeras inteligentes e babás eletrônicas.
Apesar do número ascendente do uso de objetos conectados, há também um aumento de 950% em 2021, se comparado com 2020, de tentativas de ataque cibernéticos no Brasil, segundo o levantamento realizado pela Fortinet, especializada em cibersegurança. Ao todo, foram aproximadamente 88,5 bilhões de tentativas, deixando o Brasil atrás apenas do México, que somou 156 bilhões de ataques. E ainda, conforme o relatório, há um crescimento de ataques do tipo RCE – Remote Code Execution, em que aparelhos de smart homes, conectados pela tecnologia IoT, são o alvo preferencial dos cibercriminosos, que exploram vulnerabilidades em câmeras, fechaduras e lâmpadas inteligentes.
Ainda assim, esta tecnologia é de grande valia para vários setores no Brasil. No caso do automotivo, por exemplo, os dados de sensores inteligentes podem ajudar aos usuários a preverem manutenções de peças e serviços em seus carros, entenderem as condições de estrada e clima e até mesmo quando é o momento de abastecer.
Para a indústria, a IoT pode contribuir para acelerar processos de fabricação, automação de atividades com base em indicadores, garantir a segurança dos trabalhadores, entre outros. Já no comércio, a possibilidade de coletar informações mais precisas para usar em prol dos consumidores, criar lojas inteligentes e até otimizar os processos de compras é um ponto muito positivo. Além disso, também pode coletar dados desde o funcionamento de câmeras de vigilância até o consumo de energia elétrica e a entrada de clientes, dentre outros aspectos.
A sensação de que a Internet das coisas é algo futurista já ficou ultrapassada, uma vez que está cada vez mais presente. No entanto, para se tornar algo realmente cotidiano e corriqueiro, vai ser necessário passar por todos esses desafios e o Brasil está só começando nesse caminho.
Diretora do LABDATA-FIA, apaixonada por dados e pela arte de lecionar, Alessandra Montini tem muito orgulho de ter criado na FIA cinco laboratórios para as aulas de Big Data e inteligência Artificial. Possui mais de 20 anos de trajetória nas áreas de Data Mining, Big Data, Inteligência Artificial e Analytics.
Cientista de dados com carreira realizada na Universidade de São Paulo, Alessandra é graduada e mestra em estatística aplicada pelo IME-USP e doutora pela FEA-USP. Com muita dedicação, a profissional chegou ao cargo de professora e pesquisadora na FEA-USP, e já ganhou mais de 30 prêmios de excelência acadêmica pela FEA-USP e mais de 30 prêmios de excelência acadêmica como professora dos cursos de MBA da FIA. Orienta alunos de mestrado e de doutorado na FEA-USP. Membro do Conselho Curador da FIA, é coordenadora de grupos de pesquisa no CNPq, parecerista da FAPESP e colunista de grandes portais de tecnologia.