PACPON é a solução?
Ronaldo Couto, Fundador da Primori
É impressionante como ouço os provedores fazendo esta pergunta.
Parece que o conceito de rede cabeada definitivamente se consolidou entre os provedores, que buscam formas de migrar as suas redes wireless para infraestruturas cabeadas.
Esta tendência se justifica, em grande parte, pelas complicações operacionais que uma rede wireless traz, gerando aos provedores um alto custo para manter as suas redes estáveis e seus clientes ativos.
É importante observar que quando falamos em redes cabeadas podemos alcançar diversas tecnologias, entre elas as tradicionais xDSL, HFC, HPNA e fibras ópticas ponto a ponto e multiponto FTTx. Além, é claro, das redes UTP, que mais uma vez o espírito empreendedor e criativo brasileiro se encarregou de desenvolver.
No entanto, para responder a pergunta feita no início deste artigo, vamos nos concentrar nas redes de fibras ópticas e UTP e a combinação delas (híbrida fibra/UTP).
Nos cursos que ministro pelo Brasil, faço uma comparação simplória entre rede wireless e de fibras ópticas:
- Numa rede wireless, mesmo fazendo tudo 100% certo, não se tem garantia que ela vai operar bem; pois basta um outro provedor usar o mesmo canal para começar os problemas com interferências, perdas de pacotes, lentidão para acessar sites, reclamação de clientes, etc.
- Já numa rede de fibra óptica, fazendo tudo 100% certo, a garantia dela operar bem é de quase 100% (digo quase porque sempre alguém me lembra do caminhão batendo no poste), garantindo estabilidade da infraestrutura, clientes satisfeitos e maior lucratividade ao provedor.
Sim, é devido a melhora do desempenho da rede e redução do custo operacional que a fibra óptica e, em especial as redes PON FTTx, ganharam tanto espaço e se tonaram a escolha de muitos provedores Brasil afora.
Costumo dizer que já passamos do tempo de precisar explicar os benefícios da fibra óptica para os provedores. Todos têm bem claro que, tecnicamente, ela é a melhor estabilidade da rede e traz maior capacidade de largura de banda, menor custo de manutenção e maior alcance; além de oferecer maior vida útil e não sofrer com interferências e descargas atmosféricas.
Redes híbridas (fibra/UTP)
Sendo assim, porque ainda estamos pensando em implantar redes UTP ou híbridas fibra/UTP?
A resposta é simples: o custo
Uma rede totalmente óptica do provedor até a casa do cliente (FTTH) ainda é custosa e requer que os provedores consigam um bom ticket médio com seus clientes para justificar o investimento.
Por esta simples razão, que os muitos provedores começaram as suas redes cabeadas usando cabos UTP, interligando switches a cada 80 metros para atender os seus clientes.
Como se tratava de uma rede cabeada, imaginou-se que os problemas com interferências seriam resolvidos e assim poderiam oferecer planos com velocidades mais rápidas aos clientes.
Operacionalmente, redes UTP eram conhecidas por seus técnicos que não teriam dificuldades de instalar os clientes num custo bem mais atrativo que as redes ópticas FTTH.
Além disso, escapar de altos investimentos com máquina de fusão, OTDR e outros equipamentos de teste era o argumento que faltava para decidir pelas redes UTP.
No entanto, a experiência prática com o UTP ao longo dos anos vem mostrando algumas dificuldades:
- Como o próprio nome diz, UTP vem da sigla em inglês “Unshielded Twisted-Pair” que significa “par trançado sem blindagem”. Ou seja, começou-se a observar que UTP não é totalmente livre de interferências, principalmente no cabo troncal, que interliga os switches e que para estes trechos melhor seria o cabo STP, do inglês “Shielded Twisted-Pair” ou “par trançado blindado”. Mas, o STP, além de mais caro, requer que sua blindagem seja aterrada, encarecendo mais o custo da rede.
- Ter um switch ativo a cada 80 metros deixa a rede muito vulnerável. O simples travamento de um switch no início da rede pode afetar várias dezenas de clientes.
- Diferentemente do início da jornada das redes UTP, hoje temos boas soluções de alimentação dos switches, que “corre” pelo cabo UTP troncal que interliga os switches. Anos atrás era comum “soluções” caseiras injetando tensão de 220 VCA pelo cabo UTP para alimentar as fontes de alimentação dos switches. Além de um risco alto de acidentes, os travamentos de switches eram constantes. Com o surgimento de fornecedores de fontes primárias muitos dos problemas de travamento de switches foram resolvidos. No entanto, ficou ainda por resolver o maior problema das redes UTP.
- Descargas eletromagnéticas conduzidas pelos cabos UTP, dependendo de sua intensidade, acarretam na queima de dezenas de switches cascateados. Pessoalmente, já ouvi relatos de provedores que tiveram mais de 300 switches queimados durante uma noite de tempestade.
Com o que se aprendeu de redes UTP estes anos, conclui-se que elas, embora apresentem desempenho melhor que as redes wireless, ainda deixa a desejar no aspecto confiabilidade e redução do custo operacional.
Obviamente, todos os “problemas” das redes UTP são tecnicamente contornáveis, bastando usar switches gerenciáveis, cabos STP, conectores RJ blindados e caprichar muito no aterramento de cada poste, onde exista um switch. O problema é que tudo isso acaba encarecendo demais a rede.
PON
Assim, voltou-se novamente a atenção de muitos provedores para a tecnologia PON, uma vez que esse tipo de infraestrutura não possui ativos na rede sujeitos a travamento. Além do mais, fibra óptica é um meio dielétrico que não sofre com interferências e muito menos com descargas eletromagnéticas.
Soma-se a isto que em 5 anos, reduziu-se o preço da fibra e dos equipamentos e chegamos então à conclusão que agora é a hora de investir em FTTH, certo?
Depende!
Embora o custo da fibra e equipamentos tenham caído, o investimento numa rede FTTH ainda é alto e em muitos casos não se viabiliza.
Temos de lembrar que o Brasil é um país continental e com diferenças estruturais tão grandes quanto a sua extensão geográfica.
Enquanto em algumas regiões conheço provedores operando redes FTTH oferecendo velocidades de até 100 Mbps, também conheço provedores wireless operando em regiões ainda com planos de 300 Kbps.
Sempre digo que uma tecnologia nunca é absoluta e que várias sempre vão conviver mutuamente de forma a se complementar. Isso também vale para a redes de fibras ópticas, as vezes é interessante mesclá-la com outra tecnologia.
Quando levantamos o custo de um projeto FTTH puro, levando fibra até a casa do cliente, percebemos que o caro não é propriamente o custo da infraestrutura de fibra, mas sim a ativação do cliente.
De fato, do custo total de um projeto FTTH, observa-se que cerca de 40% são gastos na construção da rede (OLT, DIO, cabo ópticos, caixas de emendas, splitters, caixas de atendimento, ferragens, etc.) e 60% na ativação do cliente (conector óptico de campo, cabo drop, PTO e ONT).
Se o caro não é construir a rede, mas ativar o cliente, como então podemos ativar os clientes com um custo menor e aproveitar os benefícios de uma rede óptica?
O conceito PACPON
Foi para responder esta pergunta que surgiu o conceito do PACPON.
O PACPON funciona como um ponto de atendimento onde serão conectados os clientes. Hoje no mercado existem diferentes fornecedores de PACPON e diferentes conceitos.
Alguns fornecedores possuem o conceito de ter o seu PACPON como uma ONU de várias saídas Ethernet que serão conectadas nas casas dos clientes por meio de cabos UTP. Outros, tem o conceito de seu PAC ser uma solução de energia para alimentar uma ONU, um switch ou mesmo um conversor de mídia.
No entanto, a característica em comum de todos é que a alimentação do PACPON venha da casa do cliente, pretendendo-se com isso que não seja mais necessário interligar switches via cabo UTP e ter tensão fluindo por estes cabos.
Na verdade, todos os fornecedores de PACPON promovem os seus produtos para algum tipo de cascateamento, permitindo de 3 a 5 PACPONs cascateados via cabo UTP.
Embora eu entenda que o fator custo novamente atrai para esse tipo de topologia, eu não a recomendo.
Ao meu ver, ao receber alimentação oriunda do cliente, o PACPON veio responder a questão do custo de ativação e resolver o problema das descargas eletromagnéticas, queimando switches em cascata.
Interligá-los gera uma economia ao provedor por não precisar de uma fonte primária, como numa rede UTP pura, mas segue deixando a rede exposta a descargas eletromagnéticas queimando switches cascateados. Criando pequenos setores cascateados, concordo que o problema é minimizado, mas ainda assim é algo que não me atrai tecnicamente.
Entendo a solução PACPON muito interessante se ela for utilizada somente como ponto de atendimento realmente, numa topologia com fibra chegando a todos os PACPONs e sem cascateamento entre eles.
Preparando a rede FTTH
O conceito que sempre recomendo é pensar no projeto da rede como FTTH, chegando com fibra pura até a casa do cliente.
Desta forma, o projeto é feito agrupando possíveis clientes a uma caixa de atendimento. Define-se e posiciona-se todas as caixas de atendimento FTTH, rua por rua, da área que se pretende cobrir. Em seguida, agrupa-se as caixas de atendimento em caixas de distribuição. E depois as caixas de distribuição até o provedor.
Sim, o projeto é feito do cliente para o provedor e não ao contrário!
Quando os custos de ativação forem viáveis para o provedor atender com fibra pura, como já há fibra chegando no PACPON, basta inserir uma caixa de atendimento FTTH com splitter para o atendimento com fibra aos clientes. E, inclusive, podemos manter uma das portas do splitter para manter o PACPON ativo para clientes que desejem planos mais baratos.
Usando esta estratégia, entendo que podemos aproveitar os custos baixos de ativação do cliente com PACPON e ter, ao mesmo tempo, uma rede de fibra óptica preparada 100% para FTTH.
Já expus este tipo de topologia para vários provedores. Muitos concordaram comigo e muitos discordaram.
Alguns entendem que como a rede de fibra equivale a 40% dos custos totais, vale a pena deixa-la preparada 100% para o FTTH.
Outros entendem que ainda assim é um custo alto e preferem montar “apenas” o seu backbone principal com fibra óptica, tendo a distribuição via UTP e switches cascateados.
Não existe quem está certo ou errado, o que existe aqui são estratégias de investimento/crescimento que cada provedor possui e temos de respeitar.
No entanto, quanto mais próximos chegarmos da casa do cliente com fibra, mas próximos estamos da rede FTTH.
Finalmente, a escolha por rede FTTH pura ou hibrida com PACPON, além dos aspectos econômicos/financeiros, também passa por aspectos técnicos que devem ser observados.
Economicamente, o atendimento com PACPON reduz o custo de ativação do cliente de 50% a 60%.
Mas, tecnicamente, também experimentamos uma redução de desempenho.
Enquanto numa rede FTTH típica podemos vender planos com velocidade de 100, 200 Mbps, podendo até mesmo chegar a 1 Gbps, o mesmo não ocorre com redes híbridas com PACPON. Para ser bem otimista, dependendo da topologia da rede, talvez seja possível ofertar velocidades de 50 Mbps com PACPON, mas eu limitaria a oferta em 20 Mbps por cliente.
Uma rede FTTH pura está tecnicamente preparada para ofertar outros serviços de valor agregado, como telefonia (SIP ou IP) e TV (RFoG ou IPTV). Já numa rede com PACPON teremos condições de ofertar apenas telefonia IP e talvez alguns poucos canais de TV em definição SD. Já a transmissão de canais massiva em Full HD entendo muito complicado.
Conclusão
E então, PACPON é a solução ou não?
Se o provedor ainda não conseguiu agregar novos serviços a sua rede, deseja vender somente Internet até 20 Mbps e, principalmente, precisa conviver com ticket baixo; a resposta é sim! PACPON pode ser uma solução intermediária de baixo custo, que permite uma transição para redes cabeadas rapidamente.
Agora, se o provedor deseja entregar pacotes de TV e telefonia, Internet de alta velocidade com planos acima de 20 Mbps, e principalmente consegue um bom ticket médio com seus clientes; a resposta é não! PACPON não é a solução, invista em FTTH puro.
Ou seja, voltamos a reposta universal…DEPENDE!
Qual é o teu caso?
Atua há 25 anos nos mercados de telecomunicações e de redes de fibras ópticas. É graduado em Engenharia de telecomunicações pelo Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações e MBA Executivo pelo Insper–SP. Foi executivo da AGC NetTest para projetos, implantação, operação e manutenção de redes de fibras ópticas. Atuou pela UL – Underwriters Laboratories e DQS Deutsche Gesellschaft zur Zertifizierung von Managementsystemen e na área de exportação para a América Latina pela Metrocable, fabricante de cabos ópticos. Em janeiro de 2020 fundou, em conjunto com Rogério Couto, a PROISP, uma empresa de consultoria e qualificação profissional que, além de trazer os conteúdos que fizeram seu sucesso, agrega agora módulos inéditos de treinamentos, como comunicação, finanças, DWDM, recursos humanos e suprimentos cobrindo todas as áreas fundamentais para a operação de uma empresa de Internet.