Pesquisa agropecuária usa blockchain para rastrear cadeia da cana-de-açúcar
Redação, Infra News Telecom
A tecnologia de blockchain está sendo aplicada em um projeto de pesquisa conduzido pela Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária em parceria com o setor que atua na cadeia produtiva da cana-de-açúcar. O objetivo é gerar uma ferramenta que armazene, registre, organize e rastreie os processos e produtos agroindustriais dessa cadeia, garantindo maior confiabilidade e segurança das informações fornecidas ao consumidor sobre a origem das matérias-primas e insumos.
Por meio de cooperação técnica com a Coplana – Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo, a Safe Trace, especializada na rastreabilidade da cadeia produtiva de alimentos, e a Usina Granelli, a Embrapa iniciou pesquisas para a geração de ativos e soluções tecnológicas baseados em inteligência artificial, rastreabilidade e sensoriamento remoto. Os trabalhos em campo, liderados pela Embrapa Informática Agropecuária, SP, tiveram início este ano em três cidades do interior de São Paulo. Dois experimentos são conduzidos em conjunto com produtores de Piracicaba e Tambaú; outro é realizado em Charqueada.
“Há uma demanda recorrente na agricultura pela rastreabilidade dos produtos e processos. Em geral, sistemas baseados em blockchain proporcionam uma forma segura e distribuída para fornecer informações no âmbito de uma cadeia produtiva agrícola, ou de quaisquer outros processos agroindustriais, permitindo rastrear informações como a origem do produto e de insumos, o uso de agrotóxicos na lavoura, entre outras, atendendo às exigências dos consumidores”, diz Stanley Oliveira, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Informática Agropecuária.
Com o desenvolvimento de um sistema de rastreabilidade usando blockchain, as embalagens dos produtos da usina parceira vão receber um selo “Tecnologia Embrapa” e um código QR. Assim, será possível disponibilizar todas as informações coletadas, desde a produção no campo até a chegada ao consumidor final, passando pela moagem da cana-de-açúcar, extração na usina, distribuição e comercialização desses produtos. As ações atendem ainda aos anseios da sociedade por produtos mais saudáveis, além da exigência do mercado internacional em saber como os alimentos são produzidos.
“A adoção de tecnologia blockchain pelos cooperados da Coplacana vai proporcionar um ganho efetivo de mercado, uma vez que os elos agrícola, industrial, certificador e distribuidor envolvidos na cadeia produtiva passarão a estabelecer uma relação de confiabilidade nos dados compartilhados”, afirma o pesquisador da Embrapa, Fábio Cesar da Silva. “O consumidor também ganha mais transparência, elegendo produtos com uma rastreabilidade confiável, além de maior segurança alimentar e ambiental”, complementa.
O acordo com a cooperativa inclui a geração de processos agropecuários, softwares, modelos, banco de dados e metodologia técnico-científica. Por meio da parceria, ainda será criada uma tecnologia baseada em sensoriamento remoto para organizar, processar e disponibilizar em nuvem imagens de satélite proximais, suborbitais e orbitais, aplicadas a análises de lavouras da cana-de-açúcar, que vão contribuir para apoiar o planejamento e o controle operacional da cultura, tanto na fazenda como em talhões.
Outra novidade é que imagens aéreas de canaviais serão usadas em uma solução tecnológica para detecção de doenças das plantas e pragas daninhas, deficiências nutricionais, estresse hídrico e estimativas de produção de biomassa. O diagnóstico vai permitir aos produtores a adoção de medidas de controle com mais rapidez e eficiência.
Rastreabilidade no RenovaBio
Além de custodiar informações de interesse de consumidores da cadeia produtiva sucroalcooleira, nos modelos empresa para empresa (B2B) e empresa para consumidor (B2C), o sistema de rastreabilidade que será implantado na Usina Granelli vai armazenar dados primários de custódia da Política Nacional de Biocombustíveis, o programa RenovaBio.
Uma solução tecnológica de blockchain que será desenvolvida pela Embrapa e pela Safe Trace poderá ser empregada em toda a cadeia produtiva, passando pela produção de matéria-prima, industrialização e comercialização dos Cbios, sistemas de emissão de créditos de descarbonização. Essa tecnologia será capaz de registrar, armazenar, organizar, rastrear e disponibilizar informações coletadas ao longo da cadeia, desde a implantação no campo até as etapas finais de extração, tratamentos, fermentação e destilação para etanol nas unidades agroindustriais.
“A parceria realizada entre a Usina Granelli, a Embrapa e a SafeTrace será algo primordial e revolucionário no setor sucroenergético. Trabalhos de rastreamento sempre foram vistos na pecuária e no cultivo de grãos, contudo não havia histórico dessa tecnologia na cadeia produtiva da cana-de-açúcar, embora este seja o cultivo mais antigo de nosso País, remetendo à época do Brasil Colônia”, lembra Mariana Abdalla Granelli, diretora jurídica da Usina.
Para ela, as vantagens da cooperação serão sentidas tanto pelo agricultor e indústria, quanto pelo consumidor, uma vez que a qualidade do produto final será garantida pelo rastreamento feito pela SafeTrace e chancelada pela Embrapa, agregando valor na venda do açúcar mascavo. “O agricultor terá capacidade de avaliar as práticas de manejo de suas terras, possibilitando um controle mais assertivo dos tratos culturais e rendimentos de sua plantação. Já para a agroindústria, essa nova tecnologia permitirá maior comando e gerência sobre os processos industriais, tornando-os padronizados e mais precisos”, diz.
A Embrapa Meio Ambiente (SP) e a Embrapa Informática Agropecuária também estão desenvolvendo outras soluções tecnológicas digitais para aprimorar o processo de certificação do RenovaBio. Pelo potencial impacto que a tecnologia de blockchain pode provocar no setor, algumas empresas já formalizaram interesse em que as pesquisas sejam estendidas às cadeias de etanol de milho e biodiesel de soja, por exemplo.