A preparação das redes para a chegada do 5G ao Brasil
A chegada do 5G promete revolucionar a forma de consumo e interação das pessoas. Para que essa revolução chegue ao consumidor final, uma outra mudança precisa acontecer no backstage, com a preparação, reestruturação e modernização da infraestrutura de rede.
Fernando Capella, gerente nacional Brasil, da Ciena
A chegada da quinta geração da Internet móvel promete revolucionar a forma de consumo e interação das pessoas. Para que essa revolução chegue ao consumidor final, uma outra mudança precisa acontecer no backstage, com a preparação, reestruturação e modernização da infraestrutura de rede, a fim de suportar o enorme volume de dados que transitará por todas as partes.
Enquanto o 4G LTE na América Latina oferece velocidades médias de 5 a 25 Mbps para download de dados, o 5G pretende alcançar velocidades de até 10 Gbps e suportar até 100 vezes mais dispositivos (ou “coisas”, se pensarmos no IoT – Internet das coisas) conectados. Esse enorme salto em conectividade proporcionará um novo mundo de benefícios aos consumidores, assim como grandes oportunidades de crescimento para as empresas e órgãos governamentais.
A chegada do 5G demandará maior densificação de rede e capacidade de banda. Estima-se que as redes 5G precisarão de 15 vezes mais espectro do que as tecnologias 2G, 3G e 4G combinadas. Trocando em miúdos, para que o 5G tenha sucesso, os operadores de redes móveis precisarão preparar suas redes para demandas futuras.
Com a previsão de enorme aumento de tráfego de dados, os pontos de interconexão, onde a rede móvel entrega o trafego para a rede fixa, serão muito mais pressionados. Para solucionar esse gargalo, sem prejuízo para o consumidor final e tornando realidade a conexão de infinitos dispositivos, será necessário aumentar a densificação, com melhor distribuição em pontos chave e maior capilaridade, além de aumentar a virtualização, com o objetivo de garantir mais agilidade na ativação de novas funções de rede.
SDN e NFV
As operadoras precisarão garantir que suas redes sejam flexíveis e capazes de ser fatiadas para atender às crescentes e mais variadas necessidades das cidades e populações. O fatiamento da rede cria redes virtuais, permitindo que clientes – ou aplicações -, com diferentes prioridades e requerimentos de segurança e latência, utilizem a mesma infraestrutura física para entregar o trafego ao destino final.
O segredo para isso ser feito em larga escala é a virtualização na forma de SDN – rede definida por software e de NFV – virtualização de funções de rede.
O SDN e o NFV permitem uma alocação mais flexível e automática de recursos ao aproveitarem novas soluções de software, dando às operadoras a oportunidade de aumentar a capacidade de maneira econômica, aproveitando as economias de escala baseadas em nuvem. As redes 5G, por sua vez, precisarão ter escalabilidade, dinamismo e programabilidade de ponta a ponta.
O 4.5G ainda não alterou as estruturas do backhaul no Brasil. Ainda que seja um passo promissor em direção à evolução das redes móveis, ele é apenas uma ponte entre o presente e o futuro. Enquanto o 4G só funciona em uma banda, o 4.5G pode utilizar duas ou mais bandas simultâneas para transmitir dados usando “carrier aggregation”. Portanto, o backhaul para o 4.5G ainda é formatado da maneira tradicional e não será suficiente para suportar a migração para o 5G definitivo.
Expectativas de implementação
Para 2019, a expectativa é de que as redes no Brasil comecem a dar os primeiros passos para se adaptarem ao 5G. As operadoras podem começar a integrar as tecnologias de virtualização em seus planos para obter mais eficiência das redes 4G, enquanto otimizam suas capacidades para o que está por vir, além de se beneficiarem do 4.5G para atender a requisitos de latência.
Contudo, o 5G ainda tem um caminho longo para percorrer. A expectativa é que as primeiras implementações da tecnologia na América Latina ainda levem alguns anos, com projeção de alcançar 7% do total de conexões móveis na região em 2025, de acordo com o relatório GSMA 2018. Uma outra pesquisa também aponta que 40% dos executivos brasileiros, contra 36% na média mundial, já estão considerando o uso de novas soluções móveis como 5G, impulsionando o investimento em tecnologias relacionadas ao IoT no setor privado.
Este, no entanto, é um primeiro vislumbre da evolução do 5G no país. Após as primeiras conexões, poderemos realmente entender a demanda local, que também ajudará a nortear o ritmo de expansão das redes móveis e a adaptação da infraestrutura para atender às reais necessidades.