Projeto de engenharia de equipamentos: HE – Head End para FTTx
Celso Gonsales Saes, diretor da Sirius Tecnologia
Baseado na solução FTTx apresentada, seja para ISPs, condomínios horizontais ou verticais ou para infraestruturas pública ou rural, o projeto de engenharia de equipamentos (HE – Head End Equipment) desenvolve o estudo das características técnicas dos serviços e aplicações que irão rodar no circuito óptico, bem como a quantidade de subescritores que serão atendidos, os percentuais de escalabilidade e crescimento do número de subescritores, as distâncias e métricas do segmento passivo, as necessidades de redundância, o SLA exigido, entre outros.
No processo haverá detalhes-chave a serem observados, como:
1 – O local físico do projeto definirá questões inerentes aos equipamentos quanto à padronização de harmonia eletromagnética entre os ativos e as interfaces externas (ISP, PST, TV) e o intercâmbio e interceptação de pacotes e chamadas em redes de acesso. O projeto não definirá um part number de uma P-OLT padrão ANSI – American National Standard Institute para um trabalho situado na Europa, por exemplo, que utiliza padronização definida pela ETSI – European Telecommunications Standards Institute.
2 – Os limites de atenuação e perda óptica para que os enlaces não sofram degradação e perda de sinais em comprimentos de onda específicos para transmissão de vídeo, por exemplo, definirão a necessidade do uso de amplificadores ópticos e em que ponto do circuito óptico (pós-amplificação, pré-amplificação ou amplificação em linha) serão utilizados.
3 – As exigências de disponibilidade e redundância definidas no SLA definirão, por exemplo, o número de portas de conexão entre o head end e o outside plant, entre outras questões. As quantidades de “Us” utilizados pelo DGO – Distribuidor Geral Óptico num rack de 19“ dependem destas questões.
Como definir a suíte de equipamentos para atender os serviços e aplicações de triple play?
Antes mesmo de se definir os tipos de hardware que serão necessários (P-OLT, V-OLT, WDM, EDFAs, ONT/ONU, switchs, encoders, decoders) ou quais fabricantes/fornecedores dispõe de tecnologia, o primeiro ponto de estudo do projeto deve considerar a análise das interfaces externas.
Quais serviços serão utilizados? Qual provedor atenderá cada serviço? Qual a tecnologia utilizada pelo provedor de cada serviço? Para elucidar a necessidade de compatibilização entre os head ends, interno e externo, citarei um exemplo referente à sinalização de voz em um cenário de um projeto FTTx para um condomínio (FTTH).
As ONTs/ONUs possuem em sua configuração (setup) parâmetros de sinalização e sincronismo no circuito de voz, por exemplo, que são configurados em concordância aos utilizados pelo provedor do sinal. O tempo de permanência da portadora para a inserção do número do telefone a ser chamado e o número de toques para atendimento até que se derrube o enlace são alguns desses parâmetros.
O não sincronismo destas métricas impossibilitará que as ONTs/ONUs forneçam operabilidade das portas pots. Cada país utiliza um pacote desses parâmetros inseridos num padrão conhecido como “Country Code Features”. Cabe, então, ao projetista estudar os produtos disponíveis no mercado e seus diferentes fabricantes/fornecedores, a fim de conhecer as suas capacidades técnicas ante as necessidades da solução FTTx que foi proposta.
O que devemos considerar para definir a escolha de um fabricante/fornecedor?
Primeiro, devemos diferenciar a disponibilidade de ativos para redes PON em duas categorias: Fornecedores de solução FTTx. Existem no segmento, empresas que originalmente detém expertise em infraestrutura de cabos, ou assim considerando “meio físico” e que adquirem soluções de hardware para compor a sua solução FTTx.
Em contrapartida, existem empresas cujo know-how vem do desenvolvimento de ativos e que da mesma forma adquirem soluções para o meio físico a m de compor a sua solução FTTx. Fabricantes de ativos para solução FTTx. São as empresas que desenvolvem a tecnologia de seu hardware sob padronizações e normativas especícas inerentes à arquitetura de redes ópticas passivas – a maioria possui os seus produtos embarcados em soluções das entidades mencionadas acima.
O foco principal da engenharia de equipamentos é a definição técnica para atender as requisições do projeto e qual hardware é necessário para isso. Lembre-se que no projeto executivo, na lista de materiais, o projeto deve apontar especificamente qual equipamento deve ser adquirido, por meio do seu part number e obviamente, de um determinado fabricante.
Quais os riscos e vantagens de se adotar uma chamada “solução FTTx” de um determinado fornecedor?
Quando se parte para a escolha de um fornecedor ou fabricante há de se considerar:
• Quando essa definição ou escolha parte de um projeto de engenharia de equipamentos não há dúvida de que a margem ao adquirir equipamentos inadequados ou insuficientes para a solução FTTx proposta é zero, a menos que o dimensionamento do projeto de engenharia esteja errado. Neste contexto, a adequação com uma solução FTTx anunciada no mercado ocorre de forma mais harmônica e eficaz.
• Por outro lado, sem um projeto de engenharia de equipamentos não há parâmetros de aferição que permitem definir a escolha dos fabricantes dos equipamentos e neste cenário o projeto acaba sendo incorporado pelo próprio fornecedor da solução, que obviamente direciona a engenharia de equipamentos conforme os itens envolvidos em sua solução.
Vantagens
A escolha de uma “solução FTTx” certamente encurta o tempo de implantação do projeto, uma vez que a engenharia de equipamentos está embarcada na solução. O fornecedor da solução dimensiona os equipamentos, transfere o conhecimento ou assume a operação em conformidade com os níveis de suporte e contrato.
Desvantagens
Os custos podem ser bem superiores, uma vez que cada fornecedor engloba em sua solução, diferentes equipamentos e metodologias. Além disso, na composição desses preços estão contemplados os custos de análise e projeto. Em certos casos, o crescimento e escalabilidade podem ficar condicionados ao fornecedor da solução e os custos obedecerão às bases desse fornecedor. A dependência tecnológica também pode comprometer a diversificação de aplicações e compatibilização de novos serviços.
Considerações sobre o projeto de engenharia de equipamentos
Não podemos deixar de mencionar que todo o ambiente de equipamentos do head end estará em uma estrutura de data center, cujo projeto obedecerá as normas e padrões que definem este tipo de construção e suas engenharias. Mesmo ao adquirir uma solução FTTx pronta de um determinado fornecedor, dificilmente o projeto do ambiente onde funcionará o head end estará contemplado na solução, portanto pense nesses custos.
O projeto de engenharia de equipamentos deverá fornecer, além dos diagramas bayface por rack, diagramas bayface dos equipamentos (slots) e mapas de conectividade de cada ativo, o layout da sala com a sua composição de filas e corredores, incluindo os facilities (SDAI, BMS, cooling, sala elétrica, cabeamento estruturado, etc.) e ainda as segregações de acesso de operadoras e outros detalhes referentes ao data center.
É consultor sênior e iniciou a carreira na área de tecnologia com programação de sistemas e modelagem de dados em plataformas RISC e Intel. Especialista em cabeamento estruturado e networking, Saes trabalhou como professor nos cursos de Tecnologia da Informação no Centro Universitário Ibero-Americano. É perito judicial em tecnologia e informática, em diversos Fóruns em São Paulo. Atua desde 2004 em tecnologia de telecomunicações com redes ópticas passivas, com especialização em serviços FTTH e triple play. Criador do treinamento técnico FTTx-Clássico©, instrutor FTTx, consultor em soluções FTTx e serviços triple play.