Qual cabo óptico escolher: Geleado, seco ou totalmente seco?
Marco Antônio Scocco , gerente técnico e de engenharia de aplicação da Sterlite Conduspar
A proteção à penetração e propagação da água nos cabos ópticos é uma característica extremamente importante para o desempenho e tempo de vida das fibras ópticas, mas que também afeta diretamente os aspectos da sua instalação. Portanto, é um questionamento muito relevante e a escolha deve ser feita à luz do conhecimento das características de cada alternativa.
Qual é o problema da presença de água no interior dos cabos ópticos?
O problema de água no interior dos cabos ópticos está relacionado com o desempenho e a confiabilidade óptica e mecânica das fibras ópticas ou, em outras palavras, seu tempo de vida mantendo inalteradas suas características. As fibras ópticas são constituídas de um núcleo e uma casca de sílica vítrea, revestidas com duas camadas de resina acrílica, denominadas de revestimento primário.
A água é uma substância altamente corrosiva para a sílica vítrea e sua presença é responsável pelo crescimento de microtrincas, que normalmente estão presentes na superfície da casca de sílica das fibras ópticas. Estas microtrincas possuem dimensões controladas pelos fabricantes e se as fibras forem mantidas em condições normais de uso e aplicação, elas não afetarão a expectativa do seu tempo de vida que é tipicamente superior a 25 anos.
Todavia, na presença de água e, principalmente, quando associada a tensões de tração e/ou pequenas curvaturas, as microtrincas passam por um processo de crescimento acelerado, reduzindo a resistência mecânica da fibra, podendo levá-la a ruptura em curto período de tempo. A água também pode prejudicar a adesão do revestimento primário à sílica, causando microcurvaturas, que resultarão no aumento da atenuação óptica ao longo do tempo.
Vale salientar que ocorreram importantes avanços tecnológicos nos últimos anos, tanto nas características da sílica como nos acrilatos do revestimento primário. Estes avanços, promovidos pelos principais fabricantes de fibras ópticas mundiais, resultaram em um expressivo aumento da resistência das fibras ópticas sob imersão em água. Mas, mesmo assim, ainda é fundamental manter a água afastada das fibras ópticas, que é conseguido por meio das apropriadas estruturas e materiais utilizados na fabricação dos cabos ópticos.
Este fenômeno de ruptura das fibras ópticas pode ser observado em cabos submetidos a trações mecânicas muito elevadas e também nas caixas de emendas ópticas, quando as fibras não são apropriadamente protegidas pelo protetor de emendas, expondo a fibra nua a uma degradação.
Os tipos de proteção à penetração de umidade
Os cabos ópticos amplamente utilizados atualmente nas redes terrestres são projetados e construídos totalmente dielétricos, isto é, sem a presença de metais, tais como uma capa metálica. Também é muito comum a utilização da tecnologia de tubo loose. Nesta tecnologia as fibras ópticas são alocadas no interior de um tubo polimérico, de forma que possam se movimentar, tanto lateral como longitudinalmente.
Existem dois tipos de materiais tipicamente utilizados para a proteção dos cabos quanto à penetração e propagação da água no seu interior: os compostos orgânicos na forma de gel; e os materiais hidroexpansíveis, também conhecidos como water blocking, ou bloqueadores de água.
Os materiais na forma de gel são compostos orgânicos não higroscópicos e que possuem elevada estabilidade de sua viscosidade em uma ampla faixa de temperatura, por exemplo, de -40oC a +80oC. A estabilidade da viscosidade é muito importante para o gel se manter no interior do tubo loose sem escoar e também permitir a livre movimentação das fibras, até estes extremos de temperatura.
Já os materiais hidroexpansíveis são polímeros superabsorventes de água, normalmente fabricados na forma de pó. Este polímero, na presença de água, se expande passando para um estado gelatinoso, retendo a água. Esta expansão, que pode chegar a 500 vezes seu volume, bloqueia os espaços livres no interior do cabo, impedindo a continuidade do ingresso e/ou propagação da água. Este polímero superabsorvente pode ser utilizado na sua forma de pó, mas, normalmente, é incorporado a fios e fitas, que são os materiais comumente utilizados na fabricação dos cabos ópticos.
A estrutura de um cabo óptico pode então ser construída de três formas, segundo o tipo de proteção contra a umidade, conforme indicado na tabela a seguir.
Nos cabos geleados, tanto os tubos loose como os interstícios dos tubos são preenchidos com o gel não higroscópico. Nos cabos secos somente o interior dos tubos loose são geleados. O núcleo óptico é protegido com a utilização de fios e/ou fitas hidro expansíveis (water bloking). Já nos cabos totalmente seco, tanto o tubo loose como o núcleo óptico do cabo são protegidos com a utilização de fios e/ou fitas hidro expansíveis.
Quais são as vantagens e desvantagens de cada alternativa?
Os cabos ópticos geleados, que utilizam o gel não higroscópico, tanto no interior dos tubos loose como entre eles, são extremamente bem protegidos contra a penetração e propagação da água. Todavia, existe unanimidade entre os profissionais da área em ressaltar a grande dificuldade na realização da limpeza do gel do núcleo do cabo, na fase de preparação para a montagem de uma caixa de emenda, distribuidor óptico, etc. Para a limpeza do gel, tanto em fábrica como em campo, é requerida a utilização de solventes orgânicos, que exigem cuidados especiais por parte dos operadores/instaladores, do ponto de vista de saúde e segurança do trabalho, como também do ponto de vista de contaminação ambiental.
Cabos gelados são altamente recomendados para instalação em ambientes que ficam submersos em água, como nas instalações subaquáticas, tais como subfluvial, submarina, etc.
Os cabos secos são uma alternativa muito interessante e bem recomendada, pois substituem o gel do núcleo óptico pelos materiais hidroexpansíveis, facilitando enormemente sua limpeza, mas mantém o gel no interior do tubo loose.
O gel no tubo loose desempenha alguns papeis bem relevantes, que vão além de simplesmente impedir a presença de água. Este material atua como um amortecedor à excessiva movimentação das fibras, tais como em caso de vibração do cabo, melhora o desempenho do tubo aos esforços mecânicos, como compressão e impacto, melhora o desempenho das fibras nos ciclos térmicos, etc.
São recomendados para a maioria das aplicações, tanto subterrâneas (dutos ou diretamente enterrada) como nas redes aéreas. Possuem um peso pouco menor que os cabos geleados, trazendo benefícios para a sua instalação, além dos benefícios ao meio ambiente já comentados.
Os cabos totalmente seco, que não utilizam nenhum tipo de gel, surgiram com a motivação de oferecer uma solução que propicie grande facilidade e velocidade na preparação do cabo, não requerendo qualquer tipo de produto para a limpeza do gel e reduzindo o tempo de preparação. Além disso, eles são mais leves, o que traz benefícios para sua instalação do ponto de vista de ferragens e impactos mecânicos na estrutura.
Os cabos totalmente secos são muito utilizados mundialmente. Sua implantação também cresce no Brasil em todos os tipos de ambiente externo terrestre, sendo ainda uma excelente alternativa para aplicações em ambientes internos, como em galerias, túneis, edificações, etc., nos quais são requeridas características de retardância a chama, com baixa emissão de fumaça e livre de compostos halogenados (LSZH).
Concluindo, podemos dizer que a melhor escolha de cabos ópticos para uso nas redes terrestres externas e internas, aéreas, subterrâneas, bandejas, shafts, etc. são os cabos secos e totalmente secos. Os cabos geleados devem ficar somente para as aplicações que realmente requerem esta proteção.
Marco Antônio Scocco iniciou sua carreira no início da década de 80, participando do desenvolvimento pioneiro das primeiras fibras ópticas no Brasil. Trabalhou para empresas multinacionais no Brasil, Inglaterra e Itália, com ênfase em telecomunicações e redes ópticas. Foi cofundador e diretor de um provedor de Internet, no interior de São Paulo, implantando redes de acesso FTTx/FTTH. É fundador da Photton, um centro competências para prover informações, serviços de consultoria e treinamentos em redes ópticas. Atualmente, atua como gerente técnico e de engenharia de aplicação da Sterlite Conduspar. É Físico graduado pelo Instituto de Física da USP, Mestre em Engenharia Eletrônica pela Escola Politécnica da USP e Intensivo em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas.