Quem é o responsável pela sua carreira?
Edgar Amorim, analista comportamental e coach
Trabalhei em uma empresa onde o presidente se recusava a pagar treinamentos para os seus colaboradores, alegando que cada pessoa era responsável por cuidar de sua carreira. Tenho um amigo que não paga qualquer curso para os seus colaboradores e cita conhecer empresas de pequeno porte que pagaram treinamentos e certificações caríssimas e, pouco tempo depois, quem fez o curso pediu demissão, causando um prejuízo enorme – tanto pelos recursos despendidos nas formações, como nas dificuldades causadas à empresa e aos seus clientes.
Num outro ponto de vista, um professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo diz em suas aulas de pós-graduação que o Brasil é um país numa fase de infância. Seu argumento é de que por aqui se espera que tudo deve ser dado pelo governo ou alguma outra organização.
Porém, a empresa que se propõem a obter a certificação de gestão de qualidade ISO9001 precisa oferecer treinamento (mínimo) aos seus colaboradores. As boas práticas mostram que as vantagens dos treinamentos superam as desvantagens – até existe um ditado que diz “se você acha caro treinar os seus colaboradores, espere para ver o custo que terá se não o fizer”.
Afinal, quem é o responsável por definir e custear a sua carreira? Vivemos na época da velocidade da luz, transmitida nas redes de fibras ópticas. A maior característica da tecnologia 5G não é a velocidade, mas sim a baixíssima latência, que permitirá a utilização de carros autônomos e outras aplicações que exigem tempos de respostas das redes muito rápidos.
Hoje, tudo é rápido e tudo fica obsoleto muito rápido. Isso nos dá a sensação de que os resultados têm que aparecer ontem, no entanto nem tudo na vida é assim. Lembra daquele chocolate delicioso? Pois é, ele veio de um processo industrial, que demandou tempo, que por sua vez utiliza cacau, que precisa de mais tempo ainda para germinar e frutificar.
Além disso, é necessário planejamento e esforço em todas as fases. Em geral, em nossa cultura, deseja-se o caminho mais fácil, com menos esforço – a tal zona de conforto. Na zona de conforto a nossa mente funciona no automático – e, claro, tudo no automático é mais fácil. No entanto, crescer requer esforço.
Para atingirmos uma meta é preciso esforço e motivação. Vale destacar que somente nós mesmos podemos nos motivar – motivação vem de dentro, portanto qualquer outra pessoa pode no máximo nos inspirar, mas não nos motivar.
Com a carreira de cada um não é diferente e, como em toda a meta ou projeto ao qual nos dedicamos, é preciso planejamento e esforço, inclusive financeiro. Aliás, planejamento financeiro não é o forte do brasileiro – e por vários motivos: não é ensinado nas escolas, a mídia de um modo geral induz o indivíduo ao consumo, mesmo sem ter recursos para tal, e temos a sensação de que todo mês estará garantido o recebimento de um salário, do vale-refeição, do vale-transporte, etc.
O desenvolvimento de carreira começa por definir uma meta clara, o que nem sempre é fácil. Pense onde você quer estar daqui a 5, 10 ou 20 anos. Além de ser uma forma de motivação, essa reflexão permite verificar quais competências técnicas e relacionais serão necessárias. Identifique quais competências você possui e quais precisará desenvolver e planeje as atividades para tal.
Planejamento também não é um ponto forte do brasileiro, principalmente dos que têm perfil comportamental voltado a ação, no entanto, a vasta experiência prova que ele é essencial para aumentar, consideravelmente, a probabilidade de sucesso em qualquer atividade, inclusive no desenvolvimento de uma carreira.
Em seguida, é preciso considerar os custos envolvidos e fazer os planejamentos financeiro e de tempo. Talvez o sujeito queira assumir uma diretoria em 10 anos e, para isso, será necessário fazer um MBA em gestão de negócio. Ele pode querer se especializar na área de vendas para o setor público e, para isso, será necessário um curso de licitação pública. É preciso fazer uma reserva mensal e programar o início do curso para quando os recursos estiverem adequados.
Parece simples, mas muitos têm imensa dificuldade para fazer reservas. Assim, a motivação e a disciplina são essenciais. A motivação pode estar numa nova posição daqui a 5 anos e a disciplina passa pelo esforço, não tem jeito.
Para amenizar a preocupação com o esforço, vale saber que a PNL (Programação Neurolinguística) diz que em 21 dias o esforço exercido para mudar um hábito o transforma em automático, sem esforço.
Digamos que esse esforço por um período faz o sujeito voltar à zona de conforto, mas desta vez com um novo hábito, habilidade ou competência, que contribui para a sua carreira e até para a sua vida. E, claro, ao longo do percurso podem existir rumos a corrigir.
Bom, depois de todas essas informações, espero ter suscitado a reflexão de cada um sobre as suas próprias carreiras. Evite ficar esperando que alguém ou uma empresa faça isso por você – pode demorar tempo demais ou nunca chegar.
Os rumos de sua carreira dependem só de você. Você tem todos os recursos necessários para desenvolvê-la.
Portanto, fica a pergunta: você já tem a sua carreira planejada? Se não, programe o dia, a hora e o local para isso.
Sucesso!
É instrutor certificado Everything DiSC®️ formado pela Wiley Publishing, nos EUA, Coach Executivo e analista comportamental pela Sociedade Latino Americana de Coaching, associada da International Association of Coaching (IAC). Pós-graduado em sócio-psicologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, MBA em Administração de Negócios pelo Instituto Mauá de Tecnologia e engenheiro eletrônico pela Faculdade de Engenharia São Paulo. Tem mais de 40 anos de experiência em organizações de vários portes, incluindo multinacionais, onde assumiu funções de operações e executivas.